Juíza alemã detida em operação antiterrorista contra extrema-direita demite-se

por Lusa

A juíza alemã Birgit Malsack-Winkemann, ex-deputada do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que esteve entre os 25 detidos hoje no âmbito de uma grande operação antiterrorista, demitiu-se do cargo.

O jornal alemão Die Welt avança que Malsack-Winkemann, até agora juíza no Tribunal Regional de Berlim, presa hoje por suspeita de estar envolvida no planeamento de um ataque terrorista contra o Reichstag, o parlamento alemão, decidiu afastar-se do cargo.

Também estão entre os detidos um membro de uma pequena família nobre alemã, de 71 anos, que se autointitula "príncipe", e um antigo comandante de paraquedistas, de 69 anos. São apontados como os dois líderes do grupo de extrema-direita que tinha como objetivo derrubar o Estado alemão através de um golpe armado.

Cerca de três mil polícias realizaram buscas em 130 casas, apartamentos e escritórios em 11 dos 16 estados federados da Alemanha. A operação antiterrorista já foi considerada a maior levada a cabo até hoje contra o movimento de extrema-direita "Reichsbürger" (Cidadãos do Império Alemão).

As detenções ocorreram nas regiões de Bade-Vurtemberga, Baviera, Berlim, Hesse, Baixa Saxónia, Saxónia e Turíngia, e duas pessoas foram presas nas cidades de Kitzbuehel, na Áustria, e em Perugia, Itália.

O grupo rejeita a Constituição implementada depois da Segunda Guerra Mundial e apela ao derrube do governo. Planeava, entre outras operações, invadir o edifício do parlamento, provocando condições semelhantes às de uma guerra civil, atacando o fornecimento de energia e depondo o governo federal.

Para o Ministério Público, os 50 homens e mulheres contra os quais foram emitidos mandados de prisão "pertencem a uma organização terrorista fundada o mais tardar no final de novembro de 2021 que visa derrubar a ordem estatal existente na Alemanha e substituí-la pela sua própria forma de governo, que teria sido inventada".

A revista alemã Der Spiegel revela que os locais alvo da operação de busca incluem o quartel do Comando de Forças Especiais (KSK), a tropa de elite das Forças Armadas alemãs, na cidade de Calw, no sudoeste do país. No passado, a unidade já tinha sido investigada pelo suposto envolvimento de alguns soldados com a extrema-direita.

A Rússia, através do porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, já afastou uma "interferência" na operação de extrema-direita, apontando para um "problema interno da Alemanha".

Os membros do "Cidadãos do Reich" acreditam numa "série de teorias da conspiração", incluindo a "ideologia QAnon", segundo os procuradores alemães.

QAnon é o nome de perfil de um utilizador anónimo que publicou, num fórum da Internet, informações falsas, nas quais alegou ter acesso a dados de agências de segurança dos Estados Unidos sobre um grupo liderado por uma elite corrupta formada por pedófilos satânicos que sequestravam e sacrificavam crianças.

Os "Cidadãos do Reich" são grupos ou indivíduos que, por razões muito diversas, questionam a existência da República Federal da Alemanha e do seu sistema jurídico. Em muitos casos, negam a legitimidade de qualquer representante eleito democraticamente.

Rejeitam, por exemplo, documentos oficiais de identificação da República Federal e, em vez disso, emitem para si mesmos documentos fictícios como a "carteira de motorista do Reich" ou o "cartão de identidade do Reich" ou usam placas de carro do "Reich Alemão". Também se recusam a pagar impostos ou taxas.

A agência nacional de inteligência da Alemanha estima que este grupo extremista tenha cerca de 21.000 seguidores.

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