O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, exortou hoje à "neutralização" das sanções contra o seu país por considerar que a futura administração do Presidente eleito dos EUA, Joe Biden, poderá não tomar essa decisão por iniciativa própria.
Khamenei quer "neutralizar" sanções internacionais por duvidar da sua suspensão
"Se pudermos superar as sanções com esforço, a outra parte verá que as sanções são ineficazes e irá levantá-las gradualmente", sublinhou Khamenei numa reunião em Teerão os com dirigentes dos três poderes estatais.
O Presidente cessante dos EUA, Donald Trump, impôs duras sanções ao Irão após retirar unilateralmente os Estados Unidos do acordo nuclear de 2015 firmado com o Irão, juntamente com cinco outras potências.
Apesar de Biden ter já admitido um eventual regresso ao acordo nuclear, os EUA e outros países europeus consideram necessário negociar sobre outros temas, incluindo o programa de mísseis balísticos iranianos, um processo que poderá prolongar-se no tempo.
"A situação nos EUA não está clara e os europeus opõem-se constantemente ao Irão", assinalou o líder supremo, advertindo que, no atual momento, a futura administração Biden "não pode tomar posição em assuntos internacionais e não se pode contar com a sua palavra".
Numa referência aos países europeus do designado E3 (Reino Unido, França e Alemanha, signatários do acordo nuclear, para além da China e Rússia), Khamenei criticou as suas recentes exigências ao Irão e aconselhou-os a "corrigirem" os seus próprios erros.
"Enquanto eles próprios interferem de modo incorreto em assuntos da região, dizem-nos para não interferirmos; e quando o Reino Unido e a França têm mísseis nucleares destrutivos e a Alemanha está nesse caminho, dizem-nos para não termos mísseis", argumentou.
Na segunda-feira, o Governo alemão denunciou as "sistemáticas violações" do acordo nuclear pelo Irão (o Plano de Ação Conjunto Global, JCPOA, assinado em 14 de julho de 2015) e insistiu que fosse cumprido para fornecer "perspetivas" a este pacto.
O JCPOA encontra-se muito debilitado desde a saída unilateral dos EUA e a reimposição por Washington de fortes sanções.
Um ano depois, em maio de 2019, o Irão respondeu ao afirmar que deixaria de cumprir os seus compromissos do acordo, incluindo os limites de enriquecimento e armazenamento de urânio.
O acordo de 2015 estabelece limites ao programa nuclear iraniano para evitar que Teerão construa a bomba atómica, em troca do levantamento das sanções internacionais dirigidas ao país do Médio Oriente.
Ao pronunciar-se sobre estas medidas, Khamenei recordou hoje que já foi aprovado por uma vez "o caminho do levantamento das sanções e com negociações durante vários anos, mas sem resultados".
Nesse sentido, apelou para "neutralizar e superar as sanções", e assegurou que "este caminho pode encontrar no início dificuldades e problemas, mas terá um final feliz".
As sanções provocaram o afundamento da economia iraniana, que em 2019 se contraiu 9,5%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), e originaram uma inflação superior da 30%, em parte devido à desvalorização da moeda nacional.