Les Petits Vieux, segunda oportunidade para animais abandonados

por Andrea Neves - Antena 1
Les Petits Vieux, assim se chama o santuário, ganhou forma há 18 anos quando Serge e Valérie Luycx decidiram ajudar os animais que mais precisam Andrea Neves - Antena 1

Uma hora de viagem de comboio separa a cosmopolita Bruxelas da pacata Chièvres, uma pequena localidade do interior da Bélgica onde se destaca o verde da paisagem. E a quietude. O tempo vagaroso dos dias. É aqui que fica o refúgio onde se dá uma segunda oportunidade de vida a animais de outra forma não a teriam. Porque são todos velhos. Porque muitos estão doentes. Porque quase todos foram abandonados.

Les Petits Vieux, assim se chama o santuário, ganhou forma há 18 anos quando Serge e Valérie Luycx decidiram que queriam deixar uma marca e ajudar os animais que mais precisam.

O espaço cresceu e hoje acolhe 54 cães, 78 gatos, nove cavalos, ovelhas, cabras e dois porcos vietnamitas.

Têm todos mais de dez anos, a condição essencial para poderem ficar por ali. Alguns foram encontrados na rua, outros deixados pelos donos. Os companheiros de uma vida que deixaram de ter condições para cuidar deles ou que simplesmente deixaram de querer cuidar mais deles. Valérie diz que desculpas há muitas.

“Nós acolhemos animais com mais de dez anos e eles terminam a vida aqui. Não estão para adoção. É como se fosse uma casa de repouso, mas para animais abandonados. A maioria chega porque os donos morreram ou tiveram que ir para um lar, mas também temos animais abandonados por causa de divórcios ou simplesmente porque começam a ter problemas de saúde”, explica.

Uma hora de viagem de comboio separa a cosmopolita Bruxelas da pacata Chièvres, uma pequena localidade do interior da Bélgica onde se destaca o verde da paisagem. E a quietude. O tempo vagaroso dos dias. É aqui que fica o refúgio onde se dá uma segunda oportunidade de vida a animais de outra forma não a teriam.


É o caso do gigante que, à porta, recebe quem chega. É um São Bernardo, pesa 90 quilos, garante Serge, e nós nem nos atrevemos a duvidar. Imponente, é certo, mas apenas um cão, gentil e pachorrento que chegou ao refúgio porque os donos se divorciaram e ninguém quis ficar com ele. Passou a dar muito trabalho. Afinal era demasiado grande, passou a ser demasiado grande de um momento para o outro.

Foi provavelmente o que aconteceu a Fischer, um dos porcos vietnamitas que andava desorientado numa rua da Bélgica. Terá sido comprado por quem pensava que seria um porco anão e tempos houve em que ter um era moda.

Mas Fischer não é anão e por isso cresceu, e muito. E teve sorte. A sorte que muitos não têm. Foi encontrado por quem decidiu deixou-o neste refúgio onde vai passar os últimos dias de vida.

Aqui, como todos os outros animais, recebe os cuidados veterinários de que precisa, alimentação adequada e alguns mimos. A tarefa, a de dar mimos, pertence à mais nova, Cély, a filha do casal que já não consegue passar sem os velhotes.

“Sou eu quem dá mais festas aos animais, quem ajuda os que chegam a adaptar-se. Eu gosto muito de tratar dos animais, ajudo a minha mãe, dou-lhe apoio, e quando ela tem que os levar ao veterinário também dou uma ajuda”, diz Cély Luycx.

Cély ainda não sabe o que quer ser quando for grande, mas sabe que o futuro tem que passar por aqui. A cuidar destes e dos outros que hão-de chegar.
Mudança difícil

Para alguns dos animais a mudança é difícil, muito difícil. Mudam de ambiente, de casa e de amigos. Deixam a família que sempre conheceram.

“Isso depende. Se o animal tinha fortes ligações com os donos ou com alguém que morreu e era o único da casa é difícil. Mas também há outros que não tinham esse ligações e que passaram quase toda a vida presos ou em canis e esses chegam e ficam felizes. Temos aqui muitos gatos que viviam na rua mas também gatos que tinham dono. Também temos alguns selvagens mas esses ninguém os consegue ver”, afirma Valérie.

O refúgio está divido por espaços, para ter em conta as necessidades dos animais. Alguns precisam de medicação a tempo e horas por isso não podem andar nos espaços livres, à vontade, onde só uma rede os impede de sair deste local. Esses ficam em salas preparadas para os acolher, com um jardim mais, mas com todos os cuidados de que precisam.

“Este é o espaço dos cães que precisam de mais calma porque já são mesmo muito velhos e não se habituaram na quinta. Temos muitos cães com problemas cardíacos ou com insuficiência renal. Para eles os cuidados veterinários são muito importantes e a medicação também”, aponta, por sua vez, Serge Luycx.

O abrigo funciona com o apoio de particulares e com a ajuda de muitos voluntários. Há que ser engenhoso quando o Estado não contribui e por isso organizam-se visitas. E são muitas as escolas que trazem os alunos que aqui podem interagir com os animais e aprender, desde cedo, o que é compaixão.

“Não recebemos ajudas do Estado e por isso são as pessoas que nos ajudam, temos parcerias. Como não estão para adoção as pessoas podem escolher apadrinhar um animal e contribuir com uma verba mensal. E temos um tarifa livre para que cada um ajude conforme pode”, aponta Valérie Luycx.

Explicámos a Valérie e Serge a lei que começa agora a ter efeitos em Portugal. Sorriram e gostavam que fosse assim na Bélgica.

“Há anos que se diz que é preciso esterilizar, mas imensos gatos nas ruas... Cães nem tanto mas gatos sim. Os refúgios acolhem todos, mas quando estão cheios e precisam de lugares eutanasiam mesmo animais de boa saúde. Creio que são abandonados cerca de 30 mil gatos em cada ano”, revela Valérie.
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