Liberman poderá ter na mão a chave para um governo israelita

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Amir Cohen, Reuters

Numa declaração à porta fechada, o líder da formação de extrema-direita Israel Beytenu, Avigdor Liberman, terá mostrado abertura para apoiar junto do presidente israelita a nomeação de Benny Gantz (coligação Azul e Branco) como primeiro-ministro com carta branca para formar uma coligação estável. Com Benjamin Netanyahu a contas com a justiça nos próximos meses, Gantz recusou esta quinta-feira o convite do primeiro-ministro para integrar uma coligação com o Likud.

Serão para já duas as preocupações de Benjamin Netanyahu, preocupações umbilicalmente unidas: os processos que o ameaçam na justiça e que poderão valer-lhe pena de prisão; e a urgência da formação de um governo e investidura como primeiro-ministro para, ironizou o número dois de Gantz, Yair Lapid, garantir uma imunidade que o livraria da primeira preocupação.

“Netanyahu está a tentar arrastar o país para uma terceira eleição. Simplesmente não aceita os resultados da eleição. Uma pessoa apenas está a bloquear a formação de um governo liberal. Uma pessoa. Esse é o objectivo do bloco de extorsionistas e extremistas que ele criou ontem”.

Durante uma reunião entre as lideranças da extrema-direita israelita, foi assinado um documento que consolidou um bloco de três partidos cuja soma perfaz 55 deputados: estavam presentes Benjamin Netanyahu pelo Likud, Yaakov Litzman do Judaismo Unido da Torah, Aryeh Deri dos populistas do Shas e os líderes da coligação extremista Yamina (Ayelet Shaked, Naftali Bennett, Rafi Peretz and Bezalel Smotrich). O documento é claro quanto à indicação de um nome para primeiro-ministro: “O nosso candidato para primeiro-ministro é Benjamin Netanyahu”.
Gantz diz 'não' a Netanyahu

A ideia de Netanyahu avançar para negociações como se este bloco fosse um só partido, apresentando-se assim com uma supremacia de 55 deputados eleitos face aos 33 da Azul e Branco. Sozinho, o Likud garantiu 31 lugares, o primeiro-ministro estaria numa posição muito mais fragilizada.

De qualquer forma, Netanyahu viu já esta quinta-feira o líder da coligação Azul e Branco a recusar o convite para uma coligação abrangente que desse a Israel “o governo de que o país precisa”. Visto como um acto a rasar o desespero, Netanyahu, sem o mencionar, colocou-se na posição de chefe de um executivo composto com os conservadores do Likud (partido que lidera, de forma interrupta, há quase três décadas: 1993-1999 e desde 2005 até hoje) e os liberais sionistas da Azul e Branco.

O partido de Benny Gantz fez saber da indisponibilidade para viabilizar os planos de Netanyahu, sublinhando que qualquer solução governativa apoiada pelo partido terá Gantz à cabeça como primeiro-ministro.

“Eu pretendo formar um governo abrangente de unidade nacional com a minha liderança, reflectindo a escolha dos eleitores e as nossas promessas e prioridades”, declarou Benny Gantz durante uma reunião do seu Partido da Resiliência de Israel – que integra a coligação Azul e Branco – para deixar ainda um recado a Netanyahu: “Para formar um governo de unidade, não vimos com blocos políticos e uma ideia já formada, apresentamo-nos antes com seriedade e responsabilidade”.
Liberman, o improvável fazedor de reis

Com a votação partida pelo largo espectro de formações que tradicionalmente se apresentam às eleições para o Knesset, o país volta assim a cair no impasse sem que isso signifique sequer novidade ou razão para desespero.

E a chave para um desenlace poderá agora estar nas mãos de um protagonista improvável: Avigdor Liberman, líder dos ultra-conservadores do Israel Beytenu e um antigo falcão dos executivos de Netanyahu, parece disposto a declarar ao Presidente Reuven Rivlin o seu apoio a Benny Gantz para primeiro-ministro, confiando na integração de um governo minoritário (Azul e Branco, trabalhistas do Gesher e a União Democrática de centro-esquerda) com apoio tácito da Lista Conjunta (de maioritariamente árabe). No total, 44 dos 120 assentos do Knesset.

Uma fonte terá revelado essa conversa à porta fechada no Israel Beytenu em que Liberman estava disposto a “enterrar” Netanyahu e abrir caminho à subida de Gantz ao cargo de primeiro-ministro.

Esse dado que viabilizaria um governo de unidade nacionalista e liberal seria poucas horas depois desmentido por um membro da sua equipa, mas é agora incontornável que a possibilidade ganhará substância quando Liberman se reunir com o Presidente Rivlin na altura das consultas aos partidos.
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