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Líder catalão acusa rei Felipe VI de colagem a Rajoy

por Andreia Martins - RTP
Albert Gea - Reuters

Um dia depois de o monarca espanhol ter falado ao país sobre a questão da Catalunha, o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, considerou que o rei Felipe VI "perdeu a oportunidade de se dirigir a todos os cidadãos" e que a sua posição "desiludiu muitas pessoas" na Catalunha. Para o líder catalão, Felipe VI fez um discurso de acordo com as políticas "catastróficas" de Mariano Rajoy.

Era pouco provável, mas muitos admitiam que o líder catalão pudesse fazer já esta noite a declaração unilateral de independência da Catalunha, prometida logo no domingo, depois de serem divulgados os primeiros resultados do referendo. O líder do Governo regional garantia ontem à BBC que esse momento aconteceria "dentro de dias".

No entanto, a declaração institucional de Carles Puidgemont, presidente da Generalitat, foi sobretudo uma resposta direta à mensagem deixada na terça-feira pelo rei de Espanha, que acusou as autoridades catalãs de quebrarem os princípios democráticos e de "deslealdade inadmissível".

"O rei fez o seu discurso consoante as políticas de Rajoy, políticas que foram catastróficas para a Catalunha. Ignorou deliberadamente os catalães que foram alvo de agressões e perdeu a oportunidade de se dirigir a todos os cidadãos, numa língua que fala e que conhece", considerou o líder catalão, num discurso a partir do palácio da Generalitat. O resultado do referendo ilegal deverá ser levado até ao parlamento catalão nos próximos dias. Espera-se que a declaração unilateral de independência aconteça na próxima segunda-feira

Na visão de Carles Puigdemont, o rei "perdeu uma oportunidade para se dirigir a todos os cidadãos [da Catalunha] numa lígua que fala e que conhece", e deveria ter aproveitado este momento para desempenhar o "papel de moderador" que lhe é dado pela Constituição de Espanha.

Para Puigdemont, Felipe VI "não teve interesse" em conhecer a opinião dos catalães e apenas quis "apoiar as estratégias do Governo espanhol". O líder da Generalitat considera que esta atitude "dececionou muitas pessoas na Catalunha".
Madrid "irresponsável"
O líder do governo regional catalão pediu também "visões mais ponderadas" que ajudem a compreender uma questão política que designa como "complexa" e garantiu que, apesar dos discursos, mantém "uma porta aberta ao diálogo e ao respeito pelo outro".
Segundo o jornal El País, o governo de Mariano Rajoy rejeitou esta terça-feira uma proposta de Pablo Iglesias, líder do Podemos, para iniciar uma mediação com os independentistas da Catalunha.
No entanto, Carles Puigdemont voltou a pedir mediação internacional para lidar com o problema em conjunto com o Governo de Madrid. "Recebemos algumas propostas nas últimas horas, vamos receber ainda mais", acrescentou. Até agora, não há indicação de que o governo central aceite esta mediação externa, uma atitude que o lider catalão diz ser "irresponsável".

"Todos conhecem a minha disposição para começar um processo de mediação. (...) Vamos dizer tantas vezes quanto forem necessárias: a paz e o diálogo fazem parte da política do nosso povo", reiterou o líder catalão.

Puigdemont lembrou ainda as "imagens simbólicas" que ficaram do referendo de domingo, agradecendo mais uma vez aos catalães por uma resistência a ameaças "sem precedentes". O referendo de dia 1 de outubro ficou marcado pelos confrontos entre polícia e manifestantes. Mais de 800 pessoas ficaram feridas

"Hoje estamos mais perto do nosso desígnio histórico. Conseguimos fazer um referendo com muitas dificuldades e uma repressão sem precedentes. (...) Vamos manter a confiança, vamos afastarmo-nos de toda a provocação, vamos ser fortes na dignidade", declarou.

O líder catalão fez questão de agradecer também aos espanhóis que apoiaram os catalães, referindo que a sua solidariedade para com a região "é muito valiosa".

"O que estamos a fazer é o que outros povos já fizeram e vão fazer no futuro", disse Puidgemont em relação ao processo de independência, na sequência do voto de domingo.

O referendo de autodeterminação foi considerado ilegal pelo Estado espanhol mas a Catalunha insistiu na votação. Segundo os dados do governo catalão, mais de 90 por cento dos eleitores votaram no "sim" à independência, garantindo que houve 42,3 por cento de afluência às urnas.
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