Declaração de independência da Catalunha "dentro de dias"

por Sandra Salvado - RTP
Carles Puigdemont fará uma declaração esta quarta-feira às 21h00 (20h00 em Portugal) Yves Herman - Reuters

A Catalunha vai declarar independência face a Espanha "dentro de dias", disse à BBC o líder do Governo regional. Na primeira entrevista após o referendo independentista de domingo, Carles Puigdemont indicou "vai agir no final desta semana ou no início da próxima". Para as 21h00 (20h00 em Portugal) está prevista nova declaração pública do responsável. Entretanto, os partidos independentistas pediram a convocação de uma sessão plenária para decidir se avançam com a declaração de independência. Uma sessão que deve realizar-se na próxima segunda-feira.

O chefe do Governo catalão garante que a declaração de independência está por dias. Poderá ser já no final desta semana. "Provavelmente faremos isso quando tivermos os votos contados e então agiremos no fim desta semana ou início da próxima", afirmou.

Citando fonte governamental, a imprensa espanhola e as agências internacionais avançam que Carles Puigdemont fará uma declaração esta quarta-feira às 21h00 (20h00 em Portugal).

Questionado pela BBC sobre o que fará se o Governo central espanhol intervir e tomar o controlo da administração regional, Puigdemont afirmou que "cada semana, após cada erro [de Madrid], ganhámos mais apoio da sociedade. Uma maioria da Catalunha que não aceita esta situação. Portanto, um erro maior, como tomar o controlo das nossas finanças ou prender membros do nosso Governo, incluindo eu próprio, seria um erro que mudaria tudo".


Partidos independentistas pedem sessão ao Parlamento
Os partidos independentistas Juntos pelo Sim (JxSí) e a Candidatura de Unidade Popular (CUP) pediram ao Parlamento que marque uma sessão para discutir a questão da independência e os resultados do referendo. Uma sessão onde poderia ser declarada a independência desta região de Espanha, avança a imprensa espanhola.

Os partidos independentistas pediram a convocação de uma sessão plenária do Parlamento da Catalunha para discutir os resultados do referendo e decidir se avançam com a declaração de independência. O mesmo jornal indica que esta sessão deve realizar-se na próxima segunda-feira.

De acordo com o La Vanguardia, os dois partidos independentistas recorreram a uma norma do regulamento - artido 169 - que solicita a comparência do presidente da Generalitat, Carlos Puigdemont.

De acordo com o chefe do governo catalão não há, neste momento, nenhum diálogo em curso entre Madrid, que considera ilegal o referendo de domingo, e o seu Governo.“Quebraram os princípios democráticos de todo o Estado de Direito e defraudaram a harmonia e a convivência na própria sociedade catalã, levando desgraçadamente a dividi-la. Hoje a sociedade catalã está fraturada e confrontada", referiu Felipe VI.

A entrevista de Puigdemont à BBC teve lugar na terça-feira, momentos antes de o Rei de Espanha, Felipe VI, ter feito uma declaração institucional, transmitida pela televisão, em que acusou "determinadas autoridades" da Catalunha de “desrespeito pelos poderes do Estado” e de terem uma "conduta irresponsável", à margem do direito e da democracia.

"Essas autoridades menosprezaram os afetos e sentimentos de solidariedade que têm unido e unirão o conjunto dos espanhóis. E com a sua conduta irresponsável inclusivamente podem pôr em risco a estabilidade economia e social da Catalunha e de toda a Espanha”, acusou o Chefe de Estado.

A intervenção do monarca aconteceu no dia em que a Catalunha parou devido a uma greve geral convocada por cerca de 40 organizações sindicais, políticas e sociais.

Carles Puigdemont descreveu ainda como "muito dececionante" a reação da União Europeia à repressão exercida pelas forças policiais durante o referendo de domingo, segundo a qual os acontecimentos na Catalunha seriam uma questão interna de Espanha.

Esta quarta-feira o Parlamento Europeu reuniu-se para debater a situação em Espanha.

Parlamento europeu apela ao diálogo
No final de um debate de urgência agendado para esat quarta-feira em Estrasburgo, na sequência dos incidentes ocorridos no passado domingo na Catalunha por ocasião do referendo, o presidente da assembleia sintetizou "a posição expressa por uma maioria" do Parlamento, que criticou a organização da consulta.

"Tal como nos ensina a história da União Europeia, em democracia a única forma de ir em frente é trabalhando em conjunto pela harmonia e unidade. Ninguém ficou indiferente ao que se passou no domingo. Contudo, decisões unilaterais, incluindo declarações de independência de um Estado soberano, são contrárias à ordem legal europeia e propícias a provocar perigosas divisões", disse Antonio Tajani.

O presidente da assembleia apelou ainda "à calma e deliberação profunda, que encorajarão o diálogo em Espanha, no respeito pelo quadro constitucional, incluindo o estatuto de autonomia da Catalunha, e que fará regressar a política às instituições".

Apesar da repressão policial, que fez 893 feridos, 42 por cento dos 5,3 milhões de eleitores conseguiram votar e 90 por cento fizeram-no a favor da independência, de acordo com os dados divulgados pelo Governo regional da Catalunha.
pub