Líder da oposição no Uganda diz que eleições foram "as mais fraudulentas da história" do país

por Lusa

O líder da oposição no Uganda, Bobi Wine, classificou hoje as eleições da passada quinta-feira como "as mais fraudulentas da história" do país, apelando aos ugandeses e à comunidade internacional para rejeitarem a vitória do Presidente Yoweri Museveni.

"O general Museveni assumiu o controlo destas eleições. Os números que as autoridades estão a divulgar não são reais", disse o candidato presidencial pela Plataforma de Unidade Nacional (NUP), numa declaração telefónica à agência Efe a partir da sua casa, onde permanece bloqueado.

Os resultados das presidenciais no Uganda divulgados pela Comissão Eleitoral do país no sábado passado garantem o sexto mandato ao Presidente Museveni, no poder desde 1986, com 58,64% dos votos contabilizados, tendo Robert Kyagulanyi, o nome verdadeiro de Bobi Wine, músico popular no país e deputado desde 2017, registado 34,83% dos sufrágios.

Desde a publicação dos resultados oficiais, Wine tem sido mantido bloqueado na sua residência - a cerca de 15 quilómetros do centro de Kampala- pelas forças de segurança ugandesas, que o têm impedido de sair e de receber visitas em casa.

"Estou sob prisão domiciliária, mais de 400 soldados estão a cercar a minha casa. Nem eu nem a minha mulher podemos sair de casa, estamos a ficar sem comida, mas ninguém pode entrar, mesmo os meus advogados foram bloqueados", disse Bobi Wine.

O exército ugandês nega, porém, a detenção de Wine. Um porta-voz da instituição, coronel Deo Akiiki, disse à Efe este fim-de-semana que a operação se destina a garantir a segurança do político de 38 anos.

"Se não deixamos ninguém entrar na casa de Bobi Wine, é para sua própria segurança e para a segurança das pessoas próximas do candidato presidencial", afirmou Akiiki.

A NUP revelou também que altos dirigentes da coligação da oposição foram hoje impedidos de chegar à sua sede na capital, Kampala, quando se preparavam para reunir e preparar a contestação legal da detenção domiciliária de Wine.

A polícia tomou posse dos escritórios da NUP esta madrugada, desviou o trânsito, e impediu a entrada de pessoas, disse o porta-voz da coligação e deputado, Joel Ssenyonyi, em declarações à agência Associated Press.

A formação política de Bobi Wine garante ter provas em vídeo de várias fraudes eleitorais levadas a cabo por militares. Medard Sseggona, deputado e advogado de Wine, manifestou receios de que a polícia apreenda informação vital relacionada com as eleições guardada na sede do partido.

Em declarações ao país a seguir ao anúncio dos resultados eleitorais no passado sábado, Museveni rejeitou as alegações de fraude eleitoral. "Penso que estas podem ser as eleições mais isentas de batota desde 1962", ano da independência do Reino Unido, afirmou o chefe de Estado.

Wine, que começou por rejeitar os resultados oficiais desde que os primeiros números foram sendo lançados, na sexta-feira passada, afirmou hoje, em contrapartida, que estas foram "as eleições mais fraudulentas da história do Uganda" e assegurou que partilhará "todas as provas que a sua equipa reuniu" logo que "forem restabelecidas as ligações à internet", bloqueadas desde a noite anterior às eleições.

"Levaremos estas eleições a tribunal, apesar de sabermos que o poder judicial é controlado pelo general Museveni. É por isso que estamos também a considerar outras opções pacíficas, incluindo protestos não violentos em todo o Uganda e em todo o mundo", disse à Efe o líder da oposição ugandesa.

"Todas as decisões que tomamos dentro do meu partido são tomadas em grupo, são decisões de grupo. Uma vez que ainda não consegui encontrar-me com os líderes do meu partido, ainda não podemos dizer claramente quais serão os nossos próximos passos, mas certamente partilharemos com o público o que vamos fazer a seguir", garantiu o político.

A atual tensão política suscita receios de que venham a repetir-se episódios como os de novembro passado, quando pelo menos 54 pessoas foram mortas pelas forças de segurança ugandesas em ações de repressão quando milhares de manifestantes saíram às ruas para exigir a libertação de Bobi Wine, detido na altura.

Fontes policiais confirmaram à Efe que, em pelo menos duas cidades ugandesas, Masaka (sudeste) e Luweero (centro), já houve manifestações isoladas nos últimos dias, que foram dispersadas pelas forças de segurança em operações que resultaram em dezenas de detenções.

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