Líderes mundiais falham. Temperaturas poderão aumentar 2,7 graus até ao final do século
A promessa, estabelecida no Acordo de Paris, era tentar impedir que o planeta aquecesse mais do que 1,5 graus centígrados até ao final do século. No entanto, segundo um relatório divulgado esta quinta-feira, os líderes mundiais não vão conseguir cumprir com a meta: as políticas atuais colocam o aumento da temperatura a caminho dos 2,7 graus.
“Claramente, não conseguimos alterar a curva”, disse ao Guardian a responsável pelo relatório, Sofia Gonzales-Zuñiga.
No mês passado, um estudo concluiu que metade das 68 mil mortes causadas pelo calor na Europa em 2022 resultou do aquecimento de 1,3°C registado a nível global. Com as temperaturas mais elevadas que se preveem para o final do século, a probabilidade de mais eventos irreversíveis e catastróficos também deverá aumentar.
As conclusões projeto Climate Action Tracker foram divulgadas numa altura em que líderes e especialistas de todo o mundo se reúnem na cimeira COP29, no Azerbaijão, para negociações sobre a poluição por gases com efeito de estufa e o dinheiro necessário para a combater.
A estagnação acontece apesar de o mundo estar a assistir a uma mudança vertiginosa no desenvolvimento de tecnologias limpas que podem substituir o carvão, o petróleo e o gás.
O relatório concluiu ainda que os subsídios aos combustíveis fósseis atingiram máximos históricos e que o financiamento para esses projetos quadruplicou entre 2021 e 2022, dificultando ainda mais os progressos no combate às alterações climáticas.
"Nos últimos anos, os combustíveis fósseis ganharam a corrida contra as energias renováveis, o que levou ao aumento das emissões", explicou ao Guardian Niklas Höhne, cientista climático do Instituto NewClimate, na Alemanha.
Ainda assim, "as energias renováveis surpreendem-nos todos os anos" com um crescimento mais rápido do que o esperado, pelo que, em breve, os combustíveis fósseis poderão mesmo ser ultrapassados.
Há, no entanto, quem esteja menos otimista. Vários investigadores alertaram já para o facto de a estimativa de aquecimento médio de 2,7°C até 2100 ter uma margem de erro suficientemente grande para se traduzir em temperaturas muito mais altas do que as esperadas.
"O que é que estamos a fazer nesta reunião?", questionou o primeiro-ministro albanês, Edi Rama, aos seus homólogos na quarta-feira. "O que é que isto significa para o futuro do mundo se os maiores poluidores continuarem como sempre?", quis saber o líder.
Já o primeiro-ministro belga, Alexander De Croo, considerou que de facto “estas negociações extenuantes estão longe de ser perfeitas”, mas vincou que “se compararmos a política climática atual com a de há uma década, estamos num mundo diferente”. Daniela Santiago, Bruno de Jesus | Enviados especiais da RTP a Baku
Esta quinta-feira, os negociadores na COP29 avisaram que, se os países mais ricos não ajudarem agora os mais pobres a enfrentar as alterações climáticas, o preço será pago mais tarde.
Segundo os especialistas, as nações em desenvolvimento precisam de pelo menos um bilião de dólares por ano até ao final da década para poderem começar a utilizar energias verdes e para se protegerem contra condições meteorológicas extremas.
c/ agências