Lieberman, a primeira vítima do cessar-fogo de Gaza

por RTP
Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Lieberman recebeu a pasta da Defesa em 2015 Suhaib Salem - Reuters

O ministro da Defesa israelita Avigdor Lieberman pediu a demissão, como forma de protesto contra o acordo com a Palestina para o cessar-fogo na Faixa de Gaza. É “uma capitulação ao terrorismo”, considera Lieberman, cuja resignação implica a saída do partido de direita Beitenu da coligação no Governo, liderada por Benjamin Netanyahu. O Hamas considera que a saída do ministro ultra-nacionalista é “uma vitória”.

“Se ficasse em exercício, não seria capaz de olhar para os moradores da parte sul”, justificou Lieberman, cuja demissão tem efeito 48 horas após a entrega da carta de resignação ao primeiro-ministro.
Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Lieberman recebeu a pasta da Defesa em 2015. Nascido na antiga União Soviética, a base eleitoral de Lieberman é composta por imigrantes russos, pessoas de direita e secularistas que partilham a sua hostilidade à minoria árabe de Israel, aos palestinianos e à autoridade religiosa exercida pelos partidos judeus ultra-ortodoxos.
Com o cessar-fogo em particular, "demos uma resposta insuficiente, inadequada e inaceitável aos disparos de 500 rockets" contra Israel, sustentou.

"O Estado está a comprar calma a curto prazo, à custa de sérios danos a longo prazo contra a segurança nacional", acrescentou.

Lieberman também pediu que as eleições legislativas, previstas para novembro do próximo ano, sejam antecipadas. "Precisamos de encontrar uma data para as eleições o mais rápido possível", argumentou Lieberman.

Avigdor Lieberman criticou a decisão de Netanyahu, de permitir a transferência de dólares do Qatar para a Faixa de Gaza, principalmente para pagar os salários aos funcionários do Hamas.
Netanyahu com maioria mínima no Parlamento
A saída do Beitenu da coligação no Governo - formada pelo Likud, Kulanu, Shaas, Beitenu e pelo partido nacionalista religioso Lar Judaico -, reduz a 61 o número de deputados afetos à governação mais à direita da história de Israel, num total de 120 deputados.

Um porta-voz do partido do Likud avançou que Netanyahu vai assumir a pasta da Defesa. "Não há necessidade de convocar eleições durante um período sensível para a segurança nacional", escreveu Jonatan Urich no Twitter.

Contudo, o partido "Lar Judaico" já veio apresentar um ultimato exigindo para o seu dirigente Naftali Benett essa pasta temporariamente vaga. Segundo o diário Times of Israel, se essa exigência não for aceite, o partido retirar-se-á da coligação, precipitando as eleições antecipadas.

Antes do anúncio da demissão, Netanyahu tinha justificado a decisão de aceitar o cessar-fogo proposto pelo Egipto e pelas Nações Unidas. “Os nossos inimigos pediram-nos para aceitar este cessar-fogo e eles sabem muito bem por que o fizeram isso", comentou Netanyahu.

Uma série de ataques desde o início da semana vitimou sete palestinianos e um militar israelita.

As milícias palestinianas de Gaza concordaram com a proposta 24 horas depois do lançamento de mais de 460 rockets e 160 bombardeamentos israelitas sobre o enclave.

A escalada da violência começou no domingo com uma operação especial israelita na faixa de Gaza.
Hamas reclama “vitória”
O movimento islâmico Hamas considera que o pedido de demissão de Lieberman é uma “vitória para Gaza, que conseguiu pela sua resistência provocar um terramoto político em Israel”.

“A resignação de Lieberman é uma admissão da derrota e desamparo perante as forças da resistência palestiniana”, declarou Sami Abu Zuhri.

A Jihad Islâmica também saudou a demissão, que considera uma “lição para quem quiser testar a resistência em Gaza”.

Os responsáveis do movimento e de outros grupos palestinianos também garantem pretender respeitar o cessar-fogo “pelo tempo que o inimigo sionista o respeitar”.

Após o anúncio de cessar-fogo, milhares de habitantes de Gaza celebraram nas ruas a “vitória sobre Israel”. Um ambiente que contrastava com o que se vivia do outro lado da fronteira.

Em Sderot, cidade costeira em Gaza, os habitantes israelitas também foram para as ruas e redes sociais, mas para expressar o descontentamento com um Governo que deveria ser mais duro com os grupos palestinos e que, com o cessar-fogo, os deixa à mercê de mais ataques.
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