Lítio. Uma solução ou uma ameaça ambiental?

por RTP
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A exploração de lítio tem vindo a crescer por, alegadamente, ser um recurso precioso para travar o aquecimento global. Contudo, vários ambientalistas e membros de comunidades indígenas condenam os investimentos milionários que têm sido feitos, alertando para as desvantagens associadas à extração mineira.

O lítio é apelidado pelos investidores de “ouro branco” devido ao valor crescente que tem adquirido no mercado. A exploração do minério está a ser impulsionada por uma aposta cada vez maior em energia limpa. O lítio revelou-se essencial para desenvolver baterias para veículos elétricos e, neste sentido, acredita-se que possa contribuir para abrandar o aquecimento global. Estima-se que haja cerca de 39 milhões de toneladas deste minério na Terra, das quais apenas cerca de um terço está na forma que permite a extração. Cerca de 87% do lítio extraível está em águas salgadas, enquanto a percentagem restante encontra-se em depósitos minerais de rocha dura.

Os projetos para a extração do minério têm-se multiplicado nos últimos tempos. A única grande mina de lítio dos Estados Unidos, no Nevada, por exemplo, pretende duplicar as 5.000 toneladas que produz por ano, que serve o fabrico de baterias para 80.000 carros elétricos, para 10.000 toneladas. A vice-presidente executiva da empresa diz que a procura de lítio é “tremenda” e que excede largamente a oferta.

O governo americano tem feito esforços para incentivar a produção de peças de energia limpa por acreditar ser algo fundamental para enfrentar a clise climática que se vive a nível global. Até ao momento, Joe Biden já distribuiu mais de 370 mil milhões de dólares em créditos fiscais para projetos com energias renováveis, os quais o presidente acredita que “vão alimentar o futuro”. A administração do país espera que até 2030 metade dos carros vendidos nos Estados Unidos sejam elétricos.

Apesar de o projeto americano ser ambicioso, o país produz apenas 1% do lítio mundial. A maior parte da produção realiza-se no Chile e na Austrália.

A Agência Internacional de Energia estima que a procura global de lítio vai aumentar mais de 40 vezes até ao ano de 2040 se os países cumprirem os objetivos que estipularam no Acordo de Paris, de reduzirem a utilização de combustíveis fósseis e as emissões de gases poluentes para a atmosfera.

A proliferação da exploração do minério tem indignado vários ambientalistas e membros de comunidades indígenas. Apesar de ser uma tecnologia que mitiga alguns problemas associados à extração de combustíveis fósseis, como a poluição do ar e a emissão de gases de efeito estufa, cria outras complicações.

Como qualquer outra operação de mineração, a extração do lítio tem repercussões no ambiente. Um estudo publicado na revista científica Environmental Earth Sciences concluiu que a atividade de extração do lítio tem, efetivamente, impacto na qualidade no ar, uma vez que, na investigação, foram identificadas partículas nocivas, como dióxido de nitrogénio.

A exploração do minério é, normalmente, realizada a céu aberto, o que leva a uma forte intrusão na paisagem natural. Além disso, deteriora o solo e destrói ecossistemas, devido às escavações feitas, o que causa um forte impacto na conservação da fauna e da flora das regiões exploradas. Os solos são afetados, devido aos derrames de combustíveis e óleos lubrificantes ligados à circulação de equipamentos e os cursos de água, por sua vez. 

As implicações no desenvolvimento das comunidades locais também são notórias. No Nevada, por exemplo, a empresa Lithium Americas vai extrair lítio de uma terra sagrada índigena, apesar das reclamações dos locais. A tribo Paiute diz que um massacre de pelo menos 31 membros ocorreu ali em 1865. "Aquilo que resta dos meus ancestrais vai ser sacrificado por baterias de automóveis eléctricos", advertiu um membro da tribo Fort McDermitt Paiute e Shoshone.

Os ambientalistas compreendem que o investimento no lítio é, hoje em dia, algo indispensável para o desenvolvimento económico de um país, uma vez que a sua exploração está a conduzir as nações desenvolvidas a um aumento do Produto Interno Bruto, ao mesmo tempo que cria vários postos de trabalho, direta e indiretamente. Contudo, defendem que esta atividade consegue ser muito prejudicial no que concerne ao impacto que tem no ambiente e pedem que a procura de mecanismos de armazenamento de energia mais sustentáveis não obrigue ao sacrifício de outros valores naturais.


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