Lula da Silva reafirma-se inocente antes de se entregar às autoridades

por RTP
Reuters

O ex-presidente do Brasil vai entregar-se às autoridades depois de almoçar com a família. Depois de falar à multidão, Lula da Silva voltou a entrar no Sindicato dos Metalúrgicos onde se encontra desde quinta-feira. Junto à sede do sindicato, juntaram-se milhares de apoiantes, entre os quais Dilma Rousseff.

Depois de falar à multidão, num longo discurso de cerca de uma hora, Lula da Silva abandonou a sede do Sindicato em ombros e com flores na mão.

De acordo com a imprensa brasileira, o ex-presidente vai almoçar com sua família antes de se entregar à Polícia Federal, durante a tarde.

A última refeição em liberdade do ex-Presidente irá decorrer na companhia dos filhos e netos na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo em São Paulo, revela A Folha de São Paulo.

A Polícia Federal bloqueou as ruas adjacentes ao Sindicato e não há certezas sobre a saída que irá ser usada para retirar Lula da Silva.

"A rua João Lotto, numa das laterais do sindicato, pode ser uma das rotas de saída de Lula. Estava bloqueava por dois caminhões-pipa da Sabesp. Um agente da PF, vestido de preto, controla um dos portões. No outro, dois seguranças com rádio, protegem uma entrada vedada por lona amarela. É uma das possíveis rotas de saída dos três carros que chegaram ao sindicato às 6h da manhã com agentes e delegados da PF. Dois pretos e um cinza, sem identificação. Um lava-lato e um estacionamento seriam uma das passagens possíveis dos carros. "Está lotado", diz o homem que manobra alguns carros e que seria proprietário do local", escrevia a Folha de São Paulo.

Um carro descaracterizado da polícia deverá ir buscar o ex-presidente e conduzi-lo ao aeroporto de Congonhas. De lá, segue para Curitiba num avião da PF.
Agradecimento a Dilma
Na hora da despedida, o ex-Presidente brasileiro afirmou-se mais uma vez inocente e confirmou que se iria entregar, garantindo "não ter medo deles".

Antes, teve palavras especialmente elogiosas para Dilma Roussef, que lhe sucedeu na presidência, e que descreveu como a mais "injustiçada mulher em todo o Brasil".

Lula da Silva agradeceu ainda a outros dirigentes do Partido dos Trabalhadores, muito aplaudidos, como a presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann.

O ex-Presidente lembrou depois a "forte" relação que o une ao Sindicato dos Metalúrgicos, onde muitos ainda o tratam como se fosse o seu líder sindical.
"Não tenho medo deles"
Lula garantiu depois que está condenado injustamente. "Eu sou o único ser humano que sou processado por um apartamento que não é meu", referindo que todas as acusações são mentiras e que foi condenado sem provas.

"É por isso que eu sou um cidadão indignado", por ser "passada para a sociedade a ideia de que sou um ladrão".

"O que eles não percebem é que quanto mais eles me atacam mais cresce a minha relação com o povo brasileiro", disse ainda Lula da Silva.

"Eu não tenho medo deles!" garantiu, durante um discurso que durou mais de uma hora e pouco antes de confirmar que se ia entregar.

"Eu sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente", disse o ex-Presidente que afirma estar a ser perseguido para não se recandidatar à Presidência, em outubro.

"A história daqui a alguns dias vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me condenou", acrescentou.

"Eu vou atender o mandado deles", acabou por anunciar. "Eu vou cumprir o mandado e todos vocês daqui para frente vão virar Lula. A morte de um combatente não para a revolução".
O processo contra Lula
O ex-Presidente brasileiro foi condenado em duas instâncias da Justiça num processo da Operação Lava Jato, em que foi acusado de receber um apartamento de luxo da construtora OAS em troca de favorecer os contratos da empresa com a estatal brasileira Petrobras.

Foi condenado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato, a nove anos de prisão, pena agravada em segunda instância para 12 anos e um mês. Um pedido de habeas corpus para evitar ter de cumprir a pena antes de esgotados todos os recursos foi rejeitado esta semana pelo Supremo Tribunal Federal.

Após receber uma notificação do tribunal Regional Federal da 4ª região, TRF-4, que condenou Lula na segunda instância, o juiz Sérgio Moro ordenou a Lula da Silva que se apresentasse voluntariamente.

O prazo dado para Lula da Silva se entregar às autoridades terminou às 17h00 (21h00 em Portugal continental) de sexta-feira. Ontem, no final do prazo, o ex-presidente fez um acordo com a Polícia Federal para se entregar este sábado no final de uma missa em memória da sua mulher, Marisa Letícia.

Esse prazo foi depois alargado para depois do almoço.

Os advogados do ex-presidente recorreram para o Supremo Tribunal Federal para tentar suspender a ordem de prisão e estão também a tentar negociar que Lula fique em São Paulo e não em Curitiba.

Luiz Inácio Lula da Silva, 72 anos, foi o 35.º Presidente do Brasil (2003-2011).
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