Maduro rejeita convocar eleições e dispara a Madrid
Depois de ter feito saber ao Conselho de Segurança da ONU, pela voz do ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, que não aceita o ultimato europeu para a marcação de eleições, Nicolás Maduro apontou nas últimas horas baterias a Espanha. O Presidente venezuelano, cada vez mais pressionado na arena internacional, acusou o chefe do Executivo de Madrid, Pedro Sánchez, de assumir “uma posição nefasta”.
O presidente do Governo espanhol foi uma das vozes de líderes europeus que saíram no sábado a público com um ultimato. Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e Holanda deram oito dias a Nicolás Maduro para marcar novas eleições, ou ver, em alternativa, reconhecido o autoproclamado presidente interino Juan Guaidó. Uma posição rapidamente secundada pelo Governo português.
Também a representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, advertiu Maduro para “ações adicionais”, na “ausência de um anúncio sobre a organização de novas eleições com as necessárias garantias nos próximos dias”.
Num segundo encontro, desta feita com jovens do programa Plano Trabalho Juvenil, no Parque Ezequiel Zamora, em Caracas, Nicolás Maduro quis exortar os venezuelanos “a manterem-se mobilizados na defesa da paz e da soberania do país”.
Voltou ainda a situar nos Estados Unidos o epicentro de um “golpe de Estado” para o derrubar. Contrapôs, todavia, que há em simultâneo um movimento solidário de condenação deste “golpe” a nascer entre os norte-americanos.
Em Nova Iorque, perante o Conselho de Segurança da ONU, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela acusou Donald Trump de "andar à procura de uma guerra".
Jorge Arreaza sustentou mesmo que os Estados Unidos deviam ser avaliados pelo Conselho de Segurança.
No seio do Conselho de Segurança, durante a sessão de sábado, China e Rússia colocaram-se o lado do regime de Maduro, empregando também a fórmula “golpe de Estado”.
Os Estados Unidos reafirmaram o reconhecimento de Juan Guaidó, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, como presidente interino. E o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, apelou mesmo ao isolamento financeiro do Governo venezuelano.
Munido de um crescente apoio internacional, Guaidó, que no sábado clamou por uma renovação do sistema eleitoral prévia a qualquer chamada às urnas, prepara-se para acentuar este domingo a pressão sobre Maduro – com a oferta de uma amnistia a militares e polícias que rejeitem a legitimidade do atual Presidente.
“Continuamos a avançar, hoje as vozes deste povo foram ouvidas pelo mundo que, tal como nós, crê e luta pela liberdade e a democracia. Obrigado a todas as nações que reconhecem a crise que estamos a viver e pelo seu compromisso para que a superemos”, escreveu o autoproclamado presidente interino no Twitter.
Seguimos avanzando, hoy las voces de este pueblo fueron escuchadas por el mundo que al igual que nosotros, creen y luchan por la libertad y la democracia.
— Juan Guaidó (@jguaido) 26 de janeiro de 2019
¡Gracias a todas las naciones que reconocen la crisis que estamos viviendo y su compromiso porque la superemos! 3/3#ONU pic.twitter.com/y9jf3hUTym
Nas próximas horas deverá ser conhecida, pela voz do próprio Guaidó, a data da próxima manifestação contra Maduro.
Em Washington, o adido da militar da Venezuela, o coronel José Luis Silva, declarou no sábado que deixou de reconhecer Nicolás Maduro como Presidente do país, apelando aos “irmãos militares” para que apoiem Juan Guaidó.
Outra das frentes assumidas pelo presidente da Assembleia Nacional é o fórum das Nações Unidas. Em carta ao secretário-geral da Organização, António Guterres, Guaidó pediu uma “resposta internacional à emergência humanitária na Venezuela”.
#CartaOficial
— Juan Guaidó (@jguaido) 27 de janeiro de 2019
Respuesta Internacional para la Emergencia Humanitaria de parte de la directiva de la @AsambleaVE para el Sr. Antonio Guterres @antonioguterres Secretario General de Naciones Unidas. pic.twitter.com/eBRoscXOjn
“A situação de emergência no nosso país faz milhões de vítimas, que sofrem por não ter acesso à saúde, à segurança alimentar, à educação e à segurança, por causa de um alto nível de violência crónica”, escreve.
De acordo com a organização não-governamental Observatório Venezuelano de Conflitualidade Social, morreram pelo menos 29 pessoas, desde a passada segunda-feira, na vaga de contestação contra o Governo de Nicolás Maduro e a resposta das autoridades.
A ONU refere, por sua vez, mais de 350 pessoas detidas na última semana. Trezentas e vinte foram detidas num único dia: 23 de janeiro.
c/ agências