Maduro sob pressão. Guaidó exige renovação antes de eleições

Os países mais poderosos da Europa endureceram este sábado o discurso para com Nicolás Maduro, instando-o a convocar eleições no prazo de oito dias, sob pena de ver reconhecida a legitimidade do autoproclamado Presidente interino da Venezuela. E este último já se pronunciou. Juan Guaidó afiança que a oposição não irá a votos nas atuais “condições”.

Carlos Santos Neves - RTP /
“Não nos prestamos a falsos diálogos e muito menos iremos a eleições nestas condições” Miguel Gutierrez - EPA

“Não nos prestamos a falsos diálogos e muito menos iremos a eleições nestas condições”, clamou Guaidó no decurso de uma assembleia popular na zona leste de Caracas.
Os resultados das eleições antecipadas de maio de 2018 foram de imediato contestados pela oposição, que denunciou irregularidades.

O presidente da Assembleia Nacional e autoproclamado chefe de Estado interino da Venezuela enunciou requisitos prévios para qualquer chamada às urnas, a começar pela renovação do Conselho Nacional Eleitoral e do registo, de forma a que fique acautelado o princípio de “um eleitor, um voto”.

Juan Guaidó defendeu também a abertura do recenseamento eleitoral no estrangeiro e a realização de auditorias.

Nicolás Maduro tomou posse a 10 de junho do ano passado para um novo mandato de seis anos no Palácio de Miraflores. De acordo com os dados do Conselho Nacional Eleitoral relativos às eleições de 20 de maio, o Presidente venezuelano foi reeleito com 67,84 por cento dos votos.

O presidente da Assembleia Nacional reagiu assim ao ultimato desencadeado horas antes pelos governos de Madrid, Paris, Berlim e Londres, que deram a Nicolás Maduro oito dias para convocar “eleições livres” ou, em alternativa, ver Juan Guaidó reconhecido como Presidente interino da Venezuela. Uma posição posteriormente reforçada pela representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini.

Já o ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros respondeu ao ultimato com uma pergunta: “Oito dias de quê?”.

“Porque não convoca eleições o presidente [do Governo espanhol] Pedro Sánchez? De onde lhes ocorre semelhante ação de ingerência e, diria, até infantil?”, questionou-se ainda Jorge Arreaza, para depois martelar a acusação de um “golpe de Estado” dirigido pelos Estados Unidos.
Lisboa subscreve ultimato
A posição portuguesa face à Presidência de Maduro foi oficializada durante a tarde numa nota com a chancela do gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, já depois de uma sequência de declarações de Augusto Santos Silva à rádio TSF, ao jornal Expresso e à agência Lusa.

“O Governo português, em linha com a posição da União Europeia (UE), apela à realização na Venezuela de eleições presidenciais livres, transparentes e credíveis, de acordo com as práticas democráticas internacionalmente aceites e no respeito da Constituição da Venezuela”, lê-se num comunicado remetido às redações.

“Caso a convocação das eleições nos termos referidos não seja anunciada nos próximos dias, e o mais tardar daqui a oito dias, o Governo português tenciona reconhecer Juan Guaidó como Presidente interino da Venezuela, nos termos previstos pela Constituição da Venezuela, com a incumbência de convocar as eleições”, acrescenta o texto.

Lisboa “congratula-se” com “o facto de a União Europeia ter assumido uma posição solidária nesta sensível matéria”, o que, a seu ver, contribui, para “a muito desejável solução pacífica, inclusiva e democrática que permita ultrapassar o impasse politico e a forte crise social em que a Venezuela hoje se encontra”.

O Governo declara-se, por último, “fortemente solidário com o povo venezuelano e com a Comunidade Portuguesa e Luso-descendente na Venezuela nestas horas difíceis”, prometendo continuar “a acompanhar a situação com grande cuidado e atenção”.

c/ agências
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