Mais de 600 migrantes detidos na Líbia e mantidos em condições desumanas

por RTP
Reuters

No início da semana, as autoridades líbias prenderam centenas de migrantes, refugiados e requerentes de asilo em Tripoli, junto a um centro de ajuda humanitária das Nações Unidas que foi encerrado. Os migrantes, acampados na região desde outubro, estavam a protestar pacificamente quando foram detidos e mantidos em condições desumanas, denunciou a organização Médicos Sem Fronteiras.

“Mais de 600 migrantes, requerentes de asilo e refugiados, manifestando-se pacificamente por realocação, proteção e evacuação da Líbia foram presos e transferidos para o centro de detenção Ain Zara, na parte sul de Trípoli, onde centenas de migrantes, refugiados e requerentes de asilo já estão detidos em celas superlotadas e condições de vida precárias”, escreveu num comunicado Gabriele Ganci, coordenadora-geral da Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Líbia.

A prisão em massa ocorreu após uma manifestação pacífica de migrantes que se reuniram em protesto, apelando a uma transferência para outros países, do lado de fora do Centro Comunitário de Dia da Agência da ONU para Refugiados (CDC) em Trípoli – que se viu forçado a encerrar por não conseguir dar resposta às necessidades das pessoas que precisavam de assistência.

Segundo relatos da organização médica, as forças de segurança da Líbia terão usado, uma vez mais, força contra os migrantes em protesto, de forma a detê-los. As autoridade líbias destruíram e queimaram também abrigos improvisados pelos refugiados.



Durante a visita semanal a Ain Zara para prestar assistência médica e mental às pessoas detidas, as equipes da MSF trataram pacientes com ferimentos de facadas, marcas de espancamento e sinais de choque/trauma causados pelas detenções forçadas. Foram espancados e separados dos filhos durante os ataques", lê-se no comunicado.

De acordo com organização não-governamental, as pessoas foram levados para um centro de detenção, em Trípoli, que não cumpre as condições mínimas.

No dia 10 de janeiro, após as detenções os colaboradores da MSF prestaram assistência médica a 68 pessoas detidas – sete das quais foram encaminhadas para hospitais para receber mais cuidados médicos – e organizaram sessões de aconselhamento em grupo para 190 pacientes dentro do centro de detenção.
MSF apela a fim das detenções

As detenções da passada segunda-feira aconteceram poucos meses depois de uma ação de repressão semelhante por parte das forças de segurança líbias. No total, já foram detidas mais de quatro mil pessoas, incluindo mulheres e crianças.

No Centro de Detenção de Ain Zara os detidos estão em celas superlotadas e sem o mínimo de condições básicas, como comida ou condições sanitárias.

No comunicado, a Médicos Sem Fronteira MSF pediu às autoridades líbias para que ponham fim às detenções em massa de "migrantes e refugiados vulneráveis e libertem todas as pessoas mantidas ilegalmente em centros de detenção".

"Isto não prova apenas, mais uma vez, como os migrantes estão sujeitos à detenção aleatória e arbitrária – algo que se aplica a praticamente todos os migrantes atualmente na Líbia –, mas revela que essas pessoas são também detidas por pedir proteção básica, segurança e tratamento de acordo com [as cartas de] Direitos Humanos”, explica Ellen van der Velden, coordenadora de operações de Médicos Sem Fronteiras em Amsterdão.

“Mais uma vez, apelamos às autoridades líbias para que cessem as prisões em massa. Também pedimos às mesmas autoridades que encontrem alternativas dignas à detenção, assim como pedimos à UE que pare com seu apoio à perpetração de um sistema interminável de abusos na Líbia".

Nos últimos dois meses, as equipas dos MSF em Trípoli procuraram realizar consultas médicas semanais no centro de detenção de Ain Zara, fornecendo assistência básica de saúde, consultas de saúde mental e serviços relacionados a assuntos humanitários para migrantes, refugiados e requerentes de asilo.

Estas pessoas presas numa Líbia devastada pela guerra encontram-se em situação ainda mais vulnerável devido à escalada do conflito armado e à disseminação da covid-19 por todo o país.

"Atualmente, milhares de homens, mulheres e crianças permaneceram detidos em condições insalubres e de superlotação, com pouco acesso a cuidados de saúde, alimentos e água potável insuficientes e sem possibilidade de distanciamento físico", concluiu a organização.
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