A mestria no tratamento de uma bola. Os excessos de um hedonista que o dinheiro do futebol milionário, esse patamar já muito distante do bairro de Villa Fiorito, nos arredores de Buenos Aires, acabou por dar à luz. Foram estes os matizes mais referidos desde a primeira notícia da morte de Diego Armando Maradona, esta semana. Mas o eterno número dez da albiceleste Argentina foi também um ativista político. À esquerda, como o melhor dos seus pés.
Maradona tinha mesmo o rosto de Castro tatuado numa das pernas – além da face de Che Guevara no braço direito. Morreram ambos, Diego e Fidel, no dia 25 de novembro, com uma diferença de quatro anos. “Fidel era como um segundo pai”, chegou a dizer Maradona, que visitou pela última vez o líder da revolução cubana em 2014.
O sentimento era mútuo. “Diego é um grande amigo e também muito nobre. Não há dúvida de que é um maravilhoso atleta, que manteve uma amizade com Cuba sem qualquer ganho material para si”, afirmou um dia Fidel, a quem a lenda argentina dedicou a sua autobiografia, entre outros nomes.Outros líderes controversos visitados por Maradona foram o ditador líbio Muammar Kadhafi e o autocrata Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Da primeira década do século XXI ressalta uma viagem à então Venezuela de Chávez, onde Maradona não poupou nos elogios ao Presidente da camisa vermelha: “Fui conhecer um grande homem e encontrei um gigante”.
Estes laços perduraram com o successor de Chávez, Nicolás Maduro, que, no Twitter, publicou no dia da morte de Maradona o registo de vídeo de um encontro entre o futebolista e Fidel Castro.
Comparto este hermoso vídeo que nos muestra al Comandante Fidel Castro y a Maradona, en un momento muy bonito y jocoso para los dos, que nos dice que vale la pena vivir. ¡Gracias a la Vida, Gracias Dios Santo! pic.twitter.com/9H1ePL6hDe
— Nicolás Maduro (@NicolasMaduro) November 26, 2020
“Partilho este belo vídeo que nos mostra o Comandante Fidel Castro e Maradona, num momento muito bonito e jocoso para ambos, que nos diz que vale a pena viver. Obrigado à vida! Obrigado Santo Deus!”, escreveu o Presidente venezuelano.
“Um golpe orquestrado na Bolívia”
Também o boliviano Evo Morales granjeou a simpatia de Maradona, de quem recebeu apoio público quando se viu obrigado a abandonar o seu país, na sequência de uma grande vaga de manifestações.
No Instagram, Maradona chegou mesmo a repudiar o que descreveu como “um golpe orquestrado na Bolívia”: “Acima de tudo pelo povo boliviano e por Evo Morales, uma boa pessoa que trabalhou sempre pelos mais humildes”.
Outro instante gravado a cinzel na galeria colorida que foi a vida do Pibe teve lugar no Vaticano, quando João Paulo II ocupava o trono de Pedro. Maradona questionou na autobiografia a riqueza da Igreja Católica: “Vi o teto dourado. E pensei para comigo: como é que se pode viver sob um teto dourado e depois ir aos países pobres e beijar os meninos na barriga daquela forma. Deixei de acreditar, porque estava a ver”.
Foi em 2005, ano da reabilitação em Cuba, que resumiu assim o seu – a espaços contraditório – bilhete de identidade anti-imperialista: “Com Fidel Castro, Lula e Nestor Kirchner, creio que podemos formar uma boa aliança contra a pobreza, a corrupção e romper com a relação filial com os Estados Unidos”.