Mundo
Marcelo na China. Aproximação vai além de "alianças clássicas"
Ao segundo dia da visita à China, após a participação no fórum Faixa e Rota, evento internacional promovido por Pequim tendo em vista investimentos em infraestruturas da Ásia à Europa, o Presidente da República afirmou ter constatado uma aproximação ao país de Xi Jinping que “ultrapassa o esquema das alianças clássicas”. Marcelo Rebelo de Sousa considera tratar-se de “um movimento que, em si mesmo, é positivo para o mundo”. Depois, junto de grandes empresários chineses, pediu investimento na “economia real” portuguesa.
“Havia críticas e dúvidas, em alguns sectores internacionais, relativamente à boa-fé da China quanto a esta proposta, se não era uma maneira de a China ter uma estratégia de domínio do mundo”, afirmou o Chefe de Estado, referindo-se à iniciativa levada a cabo por estes dias em Pequim.
“Do ponto de vista chinês, foi a China a responder a essas eventuais críticas dizendo que aderia completamente aos princípios do Direito Internacional, ao respeito pelas regras da Organização Mundial do Comércio, à transparência, ao equilíbrio de prestações, à preocupação de não protecionismo, isto é, à preocupação de multilateralismo e não de uma forma de dominação unilateral mais ou menos disfarçada”, enumerou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas na capital chinesa.
Luísa Bastos e António Antunes, enviados especiais da RTP a Pequim
O Presidente português foi um dos 37 líderes internacionais que participaram, em Pequim, no fórum Faixa e Rota, entre os quais o Presidente russo, Vladimir Putin, além do secretário-geral da ONU, António Guterres, e a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde.
“O que eu senti aqui é que há um grupo crescente de países que sente que é inevitável manter portas abertas para este tipo de diálogos”, acentuou Marcelo, para assinalar, em declarações citadas pela agência Lusa, o que descreveu como “um movimento, que em si mesmo é positivo para o mundo”, de “aproximação e de cooperação entre potências asiáticas e de reforço da aproximação entre a Europa, nomeadamente a União Europeia e a China”.
“É evidente que cada qual tem a sua estratégia: há uma estratégia europeia, há uma estratégia americana, uma estratégia russa, uma estratégia chinesa”.
Quanto à possibilidade de um tal movimento ser encarado como uma aliança de alcance estratégico contra a Administração Trump, Marcelo Rebelo de Sousa quis sublinhar que “não foi essa a disposição de países, por exemplo, da União Europeia que afirmaram claramente – é o caso de Portugal – o relacionamento com os Estados Unidos da América”.
“Os Estados Unidos da América são nosso aliado, enquanto a China é apenas um parceiro e, portanto, há um grau mais íntimo de ligação com os Estados Unidos do que com a China”, contrapôs.
“Outros países da União Europeia e da NATO estão nessa posição, são aliados dos Estados Unidos da América e não são aliados da China, obviamente”, reforçou.
“Mas isto significa que a nível mundial há problemas que são tão graves e tão óbvios que se ultrapassa o esquema das alianças clássicas para encontrar uma forma de parceria em termos de resolver esses problemas. É o caso das relações e interconexões, do digital e das ligações físicas. É o caso das alterações climáticas”, desfiou o Presidente da República.
“E depois, de alguma maneira, o combate à pobreza no mundo e a tentativa de superação das desigualdades. Isso ultrapassa as meras estratégias geopolítico-militares que possa haver, e que há, e que são diferenças entre si”, rematou.
Acordo de Paris. “Liderança forte”
Marcelo adiantou ter mantido contactos, no quadro do fórum Faixa e Rota, com os presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, do Chile, Sebastián Piñera, e do Chipre, Nicos Anastasiades, com quem falou de “uma troca de visitas mais ou menos apalavrada”.
“Depois até aconteceu poder encontrar pontualmente - mas isso vai ser retomado na visita de Estado - o Presidente chinês e também pontualmente o Presidente russo. Foram muito os encontros e muito interessantes”, resumiu.
Em entrevista à televisão estatal chinesa, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que o Presidente chinês mostrou vontade de alinhar a iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota" valores da Europa.
Na sua intervenção perante o fórum, cuja abertura coube ao Presidente chinês, Xi Jinping, Marcelo Rebelo de Sousa instou a uma “liderança forte” e à “ambição política” para levar por diante as metas do Acordo de Paris. A alocução decorreu à porta fechada. Mas a Lusa divulgou o discurso do Presidente português, dominado pela resposta às alterações climáticas.
Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “o direito a um ambiente saudável constitui um direito fundamental” e que se impõe “combinar ação multilateral com diálogo político”. Portugal, enfatizou, “apoia totalmente a neutralidade de emissões de carbono até 2050”.
“As alterações climáticas são a questão decisiva do nosso tempo. Passaram-se três anos desde o Acordo de Paris que definiu um novo rumo para o esforço global no combate às alterações climáticas. Mais do que nunca, será preciso liderança forte e ambição política para implementar este acordo histórico”, vincou.
O fórum de Pequim reuniu chefes de Estado ou de governo de Portugal, Itália, Grécia, Áustria, Chipre, Hungria, República Checa, Sérvia, Suíça e Bielorrússia. Outros países representados foram o Azerbaijão, Brunei, Camboja, Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mongólia, Myanmar, Nepal, Paquistão, Quirguistão, Rússia, Singapura, Tajiquistão, Tailândia, Uzbequistão e Vietname e do Djibouti, Egito, Etiópia, Quénia e Moçambique, Chile e Papua Nova Guiné.
“Economia real”
Já no plano bilateral, Marcelo adiantou, em declarações recolhidas pela Antena 1, que os primeiros-ministros de Portugal e China vão passar a ter encontros anuais, no que constitui um “salto qualitativo”.
Natália Carvalho, enviada especial da Antena 1 a Pequim
O Presidente da República sentou-se também este sábado à mesa com dirigentes das principais empresas chinesas com investimentos em Portugal – entre as quais a China Three Gorges, State Grid, Fosun e Haitong - para um jantar na residência do embaixador português em Pequim.
“Nós preferiríamos a instalação de empresas, preferiríamos o investimento no terreno”, admitiu Marcelo na antecâmara deste encontro.
Já no decurso do jantar, selou o convite para que os grupos chineses extravasem os “investimentos financeiros”, apostando na “economia real” de Portugal e mesmo em “projetos trilaterais” com países de língua portuguesa.
“Estiveram presentes quando outros que teriam podido estar não estiveram”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa, num agradecimento aos grupos que investiram em Portugal em contexto de crise económica e financeira.
“Nós queremos que não fiquem por aqui e queremos que da vossa parte, como da parte de outros investidores chineses, continue a haver a compreensão da importância de estarem presentes em Portugal. Na mesma área em que atuam como noutras áreas”, enfatizou.
O Chefe de Estado quis ainda brindar “à amizade entre a China de Portugal”, pedindo depois um “balanço” das iniciativas de investimento das empresas chinesas em território português: “Gostam muito, gostam pouco, querem gostar mais, querem investir mais, podem trazer mais investimento. Quero ouvir-vos durante o jantar”.
c/ Lusa
“Do ponto de vista chinês, foi a China a responder a essas eventuais críticas dizendo que aderia completamente aos princípios do Direito Internacional, ao respeito pelas regras da Organização Mundial do Comércio, à transparência, ao equilíbrio de prestações, à preocupação de não protecionismo, isto é, à preocupação de multilateralismo e não de uma forma de dominação unilateral mais ou menos disfarçada”, enumerou Marcelo Rebelo de Sousa, em declarações aos jornalistas na capital chinesa.
Luísa Bastos e António Antunes, enviados especiais da RTP a Pequim
O Presidente português foi um dos 37 líderes internacionais que participaram, em Pequim, no fórum Faixa e Rota, entre os quais o Presidente russo, Vladimir Putin, além do secretário-geral da ONU, António Guterres, e a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde.
“O que eu senti aqui é que há um grupo crescente de países que sente que é inevitável manter portas abertas para este tipo de diálogos”, acentuou Marcelo, para assinalar, em declarações citadas pela agência Lusa, o que descreveu como “um movimento, que em si mesmo é positivo para o mundo”, de “aproximação e de cooperação entre potências asiáticas e de reforço da aproximação entre a Europa, nomeadamente a União Europeia e a China”.
“É evidente que cada qual tem a sua estratégia: há uma estratégia europeia, há uma estratégia americana, uma estratégia russa, uma estratégia chinesa”.
Quanto à possibilidade de um tal movimento ser encarado como uma aliança de alcance estratégico contra a Administração Trump, Marcelo Rebelo de Sousa quis sublinhar que “não foi essa a disposição de países, por exemplo, da União Europeia que afirmaram claramente – é o caso de Portugal – o relacionamento com os Estados Unidos da América”.
“Os Estados Unidos da América são nosso aliado, enquanto a China é apenas um parceiro e, portanto, há um grau mais íntimo de ligação com os Estados Unidos do que com a China”, contrapôs.
“Outros países da União Europeia e da NATO estão nessa posição, são aliados dos Estados Unidos da América e não são aliados da China, obviamente”, reforçou.
“Mas isto significa que a nível mundial há problemas que são tão graves e tão óbvios que se ultrapassa o esquema das alianças clássicas para encontrar uma forma de parceria em termos de resolver esses problemas. É o caso das relações e interconexões, do digital e das ligações físicas. É o caso das alterações climáticas”, desfiou o Presidente da República.
“E depois, de alguma maneira, o combate à pobreza no mundo e a tentativa de superação das desigualdades. Isso ultrapassa as meras estratégias geopolítico-militares que possa haver, e que há, e que são diferenças entre si”, rematou.
Acordo de Paris. “Liderança forte”
Marcelo adiantou ter mantido contactos, no quadro do fórum Faixa e Rota, com os presidentes de Moçambique, Filipe Nyusi, do Chile, Sebastián Piñera, e do Chipre, Nicos Anastasiades, com quem falou de “uma troca de visitas mais ou menos apalavrada”.
“Depois até aconteceu poder encontrar pontualmente - mas isso vai ser retomado na visita de Estado - o Presidente chinês e também pontualmente o Presidente russo. Foram muito os encontros e muito interessantes”, resumiu.
Em entrevista à televisão estatal chinesa, Marcelo Rebelo de Sousa, afirmou que o Presidente chinês mostrou vontade de alinhar a iniciativa "Uma Faixa, Uma Rota" valores da Europa.
Na sua intervenção perante o fórum, cuja abertura coube ao Presidente chinês, Xi Jinping, Marcelo Rebelo de Sousa instou a uma “liderança forte” e à “ambição política” para levar por diante as metas do Acordo de Paris. A alocução decorreu à porta fechada. Mas a Lusa divulgou o discurso do Presidente português, dominado pela resposta às alterações climáticas.
Marcelo Rebelo de Sousa sustentou que “o direito a um ambiente saudável constitui um direito fundamental” e que se impõe “combinar ação multilateral com diálogo político”. Portugal, enfatizou, “apoia totalmente a neutralidade de emissões de carbono até 2050”.
“As alterações climáticas são a questão decisiva do nosso tempo. Passaram-se três anos desde o Acordo de Paris que definiu um novo rumo para o esforço global no combate às alterações climáticas. Mais do que nunca, será preciso liderança forte e ambição política para implementar este acordo histórico”, vincou.
O fórum de Pequim reuniu chefes de Estado ou de governo de Portugal, Itália, Grécia, Áustria, Chipre, Hungria, República Checa, Sérvia, Suíça e Bielorrússia. Outros países representados foram o Azerbaijão, Brunei, Camboja, Cazaquistão, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Mongólia, Myanmar, Nepal, Paquistão, Quirguistão, Rússia, Singapura, Tajiquistão, Tailândia, Uzbequistão e Vietname e do Djibouti, Egito, Etiópia, Quénia e Moçambique, Chile e Papua Nova Guiné.
“Economia real”
Já no plano bilateral, Marcelo adiantou, em declarações recolhidas pela Antena 1, que os primeiros-ministros de Portugal e China vão passar a ter encontros anuais, no que constitui um “salto qualitativo”.
Natália Carvalho, enviada especial da Antena 1 a Pequim
O Presidente da República sentou-se também este sábado à mesa com dirigentes das principais empresas chinesas com investimentos em Portugal – entre as quais a China Three Gorges, State Grid, Fosun e Haitong - para um jantar na residência do embaixador português em Pequim.
“Nós preferiríamos a instalação de empresas, preferiríamos o investimento no terreno”, admitiu Marcelo na antecâmara deste encontro.
Já no decurso do jantar, selou o convite para que os grupos chineses extravasem os “investimentos financeiros”, apostando na “economia real” de Portugal e mesmo em “projetos trilaterais” com países de língua portuguesa.
“Estiveram presentes quando outros que teriam podido estar não estiveram”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa, num agradecimento aos grupos que investiram em Portugal em contexto de crise económica e financeira.
“Nós queremos que não fiquem por aqui e queremos que da vossa parte, como da parte de outros investidores chineses, continue a haver a compreensão da importância de estarem presentes em Portugal. Na mesma área em que atuam como noutras áreas”, enfatizou.
O Chefe de Estado quis ainda brindar “à amizade entre a China de Portugal”, pedindo depois um “balanço” das iniciativas de investimento das empresas chinesas em território português: “Gostam muito, gostam pouco, querem gostar mais, querem investir mais, podem trazer mais investimento. Quero ouvir-vos durante o jantar”.
c/ Lusa