Mariano Rajoy pede sensatez a Puigdemont em nome de toda a Espanha

por RTP
Juan Medina, Reuters

A 24 horas do final do prazo dado por Madrid ao presidente do governo da Catalunha, Carles Puigdemont, para esclarecer se declarou a independência da região, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, pediu a Puigdemont para que “aja com sensatez” em nome dos interesses de todos os cidadãos espanhóis. Ao mesmo tempo, a sua vice-presidente confirmou que a suspensão da autonomia catalã está em cima da mesa e que a decisão de acionar o artigo 155 apenas aguarda os esclarecimentos de quinta-feira.

Durante a sessão desta quarta-feira do Congresso, o presidente do governo, Mariano Rajoy, foi  inquirido por um deputado do PDeCAT que o acusou de ignorar a realidade. A essas acusações, Rajoy desfiou o rol do que considerou as inconstitucionalidades cometidas recentemente no parlamento da Catalunha, fazendo dos dias 6 e 7 de setembro como “os piores do parlamentarismo espanhol”, em que teria sido proibida de falar a oposição.

No momento mais tenso das relações entre Madrid e Barcelona, Mariano Rajoy lançou um pedido a Carles Puigdemont para que “aja com sensatez, com equilíbrio, que ponha à frente os interesses gerais de todos os cidadãos, do conjunto dos espanhóis e do conjunto dos catalães”. Nesse momento, Rajoy voltou a pedir ao líder da Generalitat que esclareça se declarou ou não a independência dos catalães.
Suspensão da independência em cima da mesa
Ao mesmo tempo, a vice-presidente do governo, Soraya Saenz de Santamaria veio admitir que a suspensão total ou parcial da autonomia da Catalunha está em cima da mesa. A condição está na manifestação da declaração da independência, que deve ser esclarecida até às 8H00 (GMT) desta quinta-feira. Em caso afirmativo, “Puigdemont vai provocar a aplicação do artigo 155 da Constituição”, ameaçou.

A vice-presidente do governo esclarecia o Congresso após uma questão do deputado Albert Rivera, líder do Ciudadanos, partido com que o executivo quer contar, a par do PSOE, para assegurar “uma ampla maioria” no Congresso e no Senado antes de acionar o artigo 155 da Constituição que reduz o estatuto de autonomia da Catalunha.

Na segunda-feira, Carles Puigdemont enviou uma carta a Madrid, propondo a Mariano Rajoy a via do diálogo para resolver o diferendo entre Madrid e Barcelona. À missiva do presidente da Generalitat respondeu o governo espanhol pela voz de Soraya Sáenz de Santamaría: o líder da Catalunha tinha até à manhã de quinta-feira para comunicar a Madrid o que pretende fazer quanto à questão da independência.

“O senhor Puigdemont tem uma última oportunidade para esclarecer [a incógnita quanto à independência] e voltar à legalidade”, declarou a vice-presidente do Governo, Soraya Sáenz de Santamaría. Rejeitar a declaração da independência será a única forma de evitar a aplicação do Artigo 155 da constituição.

Num curto comunicado, Soraya Sáenz de Santamaría lamentaria ainda que Puigdemont “não tenha cumprido em responder sim ou não” à questão deixada por Madrid sobre se no dia 10 de outubro tinha declarado a independência da Catalunha, deixando o repto ao presidente da Generalitat: basta esclarecer o governo com “sim” ou “não”.
Troca de cartas entre Puigdemont e Rajoy
Na carta de Puigdemont a Mariano Rajoy, o presidente da Generalitat voltou a propor um diálogo entre Barcelona e Madrid, ainda que não tenha esclarecido se se tratava ali de declarar ou não a independência da Catalunha, unica exigência e único ponto que interessava de facto ao governo espanhol.

Pedindo um encontro com Mariano Rajoy o “mais rápidamente possível” para estabelecer uma ponte de diálogo para os dois próximos meses, Puigdemont assegurava na missiva enviada à capital que a oferta era "honesta apesar de tudo o que aconteceu". E lembrou a Rajoy a violenta repressão lançada por Madrid na Catalunha - "uma atuação policial denunciada pelos mais prestigiados organismos internacionais".

Puigdemont fez ainda questão de esclarecer que o pedido de diálogo deixado logo a 10 de Outubro não deveria ser lido pelo governo central como um sinal de fraqueza ou debilidade por parte da liderança catalã, mas antes "uma proposta honesta para encontrar uma solução para relação entre o Estado espanhol e a Catalunha, bloqueada há muitos anos".

Acrescentou o líder catalão os dados de um referendo em que dois milhões de catalães expressaram nas urnas o desejo de independência, confirmando sinais já sentidos na região aquando do último escrutínio: uma maioria de 47,7 por cento de forças políticas independentistas foram escolhidas para o parlamento catalão, face aos 39,1 por cento de votos confiados às forças que se lhe opõem.

Nesse sentido, e perante a "manifestação reiterada da vontade" dos catalães, Carles Puigdemont aconselhava Mariano Rajoy a "aceitar a realidade como caminho para resolver os problemas", mas o presidente do governo insistiu, em resposta no mesmo dia, que a única questão a esclarecer é a da existência de uma declaração de independência.

Rajoy lamentou que Puigdemont não tivesse respondido a esse pedido de esclarecimento relativamente à declaração produzida a 10 de outubro: “Esse é um esclarecimento absolutamente necessário. Não apenas o governo de Espanha, como todos os catalães, têm o direito de saber com toda a certeza se a sua declaração de 10 de outubro (...) implica a declaração de independência”, escreveu o chefe do governo.

Instando Puigdemont a ser claro na resposta esperada até quinta-feira, Rajoy, líder do governo e do PP, defendeu que “esta situação de incerteza apenas favorece aqueles que querem acabar com a concórdia cívica e impor um projecto radical e empobrecedor para a Catalunha”.
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