Massacre de Atocha. Um dos homicidas foi detido no Brasil

por Cristina Sambado - RTP
Todos os anos, a 24 de janeiro o Massacre de Atocha é recordado na Praça Anton Martín, onde uma escultura de Juan Genovés homenageia as vítimas DR

O espanhol Carlos García Juliá, um dos cinco autores da matança de advogados em Atocha no ano de 1977, foi detido na passada quinta-feira em São Paulo. As autoridades espanholas já solicitaram a extradição de García Juliá, que tinha 24 anos quando cometeu os assassinatos.

No atentado morreram três advogados, Enrique Valdelvira Ibañez, Luis Javier Benavides Orgaz e Francisco Javier Sauquillo, o estudante de direito Serafin Holgado e um funcionário administrativo, Angel Rodríguez Leal. Outras quatro pessoas ficaram feridas gravemente.

O Massacre de Atocha marcou a transição espanhola rumo à democracia após a morte, dois anos antes, do ditador Francisco Franco e dois meses depois da legalização do Partido Comunista de Espanha (PCE) e cinco meses depois das primeiras eleições democráticas, após quatro décadas de ditadura. O Massacre de Atocha em 1977 foi um atentado terrorista cometido na rua Atocha, no centro de Madrid, na noite de 24 de janeiros de 1977.

García Juliá foi condenado a 193 anos de prisão como autor material dos cinco assassinatos. No entanto, só cumpriu 14 anos de detenção.

Em 1979, antes do julgamento, García Juliá tentou fugir da prisão de Cidade Real onde estava detido. Após cumprir os 14 anos de prisão, conseguiu que um juiz o autorizasse a viajar para o Paraguai, enquanto estava em liberdade condicional, com a desculpa de ter uma oferta de trabalho.

O Tribunal nacional condenou García Juliá em 1980 por fazer parte de um “grupo ativista e ideológico, defensor de uma ideologia política radicalizada e totalitária, insatisfeita com a mudança institucional que estava a ocorrer em Espanha”.

Em 1994, um tribunal solicitou que García Juliá regressasse a Espanha, pedido esse que foi ignorado.

Dois anos depois, foi preso na Bolívia por tráfico de drogas e foi detido na cadeia de Palmasola (La Paz), uma prisão de máxima segurança. As investigações indicaram a possibilidade de que os lucros da compra e venda da droga se destinassem a financiar grupos fascistas. Ao longo dos anos, García Juliá viveu, com documentos falsos, no Chile, Argentina, Venezuela e Brasil.

Em 2017, foi emitido um mandado de detenção internacional o que levou a que fossem realizados maiores esforços para localizar o paradeiro de García Juliá.

As buscas determinaram que García Juliá poderia ser localizado no Brasil, mais especificamente em São Paulo, com a identidade de um cidadão venezuelano. Em julho de 2018, a Polícia Federal do Brasil detetou-o e deu início aos passos necessários para solicitar a sua extradição.

O passo seguinte é o Serviço Nacional de Audiências do Tribunal Nacional de Espanha, responsável por executar as sentenças, perguntar ao Ministério Público se o pedido de extradição de García Juliá será processado.

No relatório, a acusação terá que se pronunciar sobre se prescreveu a sentença e se é apropriado exigir ao Brasil a sua entrega. Todos os anos, a 24 de janeiro o Massacre de Atocha é recordado na Praça Anton Martín, onde uma escultura de Juan Genovés homenageia as vítimas.

Quando a acusação é pronunciada, a primeira seção do Tribunal Nacional, que foi quem sentenciou García Juliá a 193 anos de prisão, terá de emitir um pedido para que o processo de extradição seja iniciado.

O tribunal condenou os quatro acusados a um total de 464 anos de prisão. José Fernández Cerdá e Carlos García Juliá, os autores materiais, foram condenados a 193 anos de prisão cada, Francisco Albadalejo Corredero que morreu na prisão em 1985 foi condenado a 63 anos, já Leocadio Jiménez Caravaca, que faleceu em 1985 com um cancro de laringe foi condenado com quatro anos. Gloria Herguedas Herrando foi condenado a um ano de prisão. Lerdo de Tejada foi processado, mas não se sentou no banco dos réus.

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