Meios militares varrem oceano para localizar avião
Nove aviões, dois helicópteros e três navios mobilizados pelas autoridades de Brasil, França e Estados Unidos compõem hoje o dispositivo envolvido na procura de sinais do avião da Air France dado como desaparecido sobre o Atlântico. As operações de busca do Airbus A-330, que transportava 216 passageiros e 12 tripulantes, decorrem a mais de 1.100 quilómetros das costas brasileiras.
O desaparecimento do Airbus A-330 começa a ser descrito como o mais grave desastre aéreo no currículo da Air France depois da queda de um Concorde da transportadora em Julho de 2000, que causou 113 mortes.
Os únicos indícios possivelmente relacionados com o avião da companhia francesa foram reportados em espaço aéreo do Senegal por um piloto da brasileira TAM, logo após a derradeira comunicação emitida pelo Airbus. O piloto disse ter avistado manchas alaranjadas, mas não pôde descortinar se os sinais correspondiam a chamas ou bóias. A ausência de qualquer rasto do aparelho, assinala em França o Centro Nacional de Estudos Espaciais, "tende a demonstrar que a catástrofe foi muito rápida".
Buscas em curso
O Brasil é o país com o maior número de meios destacados para as buscas no Atlântico. As autoridades brasileiras mobilizaram seis aviões, dois helicópteros e três navios, que estão a percorrer uma rota calculada a 1.110 quilómetros da cidade de Natal, situada na costa nordeste do Brasil, e a 100 quilómetros do limite do espaço aéreo senegalês.
Dois dos aparelhos envolvidos nas operações - um Hércules C130 e um Embraer R-99 - pertencem à Força Aérea Brasileira e estão dotados com equipamentos electrónicos, radares e infravermelhos.
A França mobilizou dois aviões de reconhecimento de uma base de Dacar, no Senegal, e os Estados Unidos enviaram um aparelho militar de observação e uma equipa de especialistas em busca e salvamento. Em declarações à estação televisiva francesa i-TV, o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, garantiu que as autoridades norte-americanas vão facultar "toda a assistência necessária para descobrir o que aconteceu".
Avião desapareceu dos radares
O aparelho da Air France deixou a pista do Aeroporto Tom Jobim, no Rio de Janeiro, cerca das 23h00 de domingo (hora de Lisboa) e deveria ter aterrado em Paris ao início da manhã de segunda-feira. O último contacto entre o cockpit e as autoridades aeronáuticas do Brasil foi efectuado três horas e 36 minutos depois da descolagem. Ao cabo de quatro horas de voo, o avião encontrou turbulência. Catorze minutos depois, foi emitida uma mensagem automática para a sede da Air France a dar conta de problemas eléctricos. É então que o A-330 desaparece dos radares.
O avião, afirmava ontem o ministro francês da Ecologia Jean-Louis Boorlo, com a tutela dos transportes, estava "preparado" para resistir a perturbações atmosféricas, "mas deverá ter ocorrido uma acumulação de circunstâncias". Ao serviço da Air France desde 2005, o avião tinha sido inspeccionado em meados de Abril e era pilotado por um comandante experiente com 11 mil horas de voo, das quais 1.700 em aparelhos A-330 e A-340.
Na zona da última comunicação do aparelho, a nordeste do arquipélago de Fernando de Noronha, são frequentes as situações de turbulência. Ali colidem massas de ar dos hemisférios Norte e Sul.
Passaporte caducado salva luso-descendente
A bordo do avião da Air France seguiam 228 pessoas de 32 nacionalidades. A maioria, 73 (61 passageiros e 12 elementos da tripulação), era francesa.
Outros 58 ocupantes tinham nacionalidade brasileira e 26 eram alemães. A lista de passageiros inclui ainda chineses (9), italianos (9), suíços (6), britânicos (5), libaneses (5), húngaros (4), eslovacos (3), noruegueses (3), irlandeses (3), norte-americanos (2), espanhóis (2), marroquinos (2) e polacos (2).
Com apenas um passageiro foram registadas as nacionalidades sul-africana, argentina, austríaca, belga, canadiana, croata, dinamarquesa, islandesa, estónia, gambiana, holandesa, filipina, romena, russa, sueca e turca.
A lista de passageiros da Air France não inclui cidadãos portugueses. João Marcelo Calaça, um brasileiro luso-descendente de 37 anos, contava embarcar no voo AF 447. O passaporte caducado impediu-o de seguir viagem para Paris.
"Faltando uma hora para o check-in, resolvi confirmar o meu passaporte e vi que tinha caducado em Março", explicou João Marcelo Calaça à agência Lusa, acrescentando que o seu companheiro de viagem, de nacionalidade norte-americana, também desistiu do voo.
"Estou a sentir-me como se tivesse nascido novamente. É o meu segundo nascimento", afirmou.