Militares ligados a Bolsonaro planearam adesão das Forças Armadas a golpe de Estado afirma polícia

por Lusa

Militares ligados ao ex-Presidente brasileiro Jair Bolsonaro planearam forçar a adesão das Forças Armadas a uma tentativa de golpe de Estado, segundo uma investigação da Polícia Federal, que realizou hoje uma grande operação em vários estados.

Hoje, Bolsonaro, generais que foram ministros no seu Governo, militares e ex-assessores estão a ser alvo de uma grande operação da Polícia Federal chamada Tempus Veritatis (Hora da Verdade) no âmbito de uma investigação a uma tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022.

A força policial comunicou também que Bolsonaro recebeu e ajustou a minuta de um decreto para se executar um golpe de Estado que previa deter juízes, líder do Senado e novas eleições.

Na operação de hoje, além das buscas, estão a ser cumpridos 33 mandados de busca e apreensão, quatro mandados de prisão preventiva e 48 medidas cautelares diversas da prisão.

A polícia brasileira afirmou ter descoberto elementos que comprovam a tentativa de arregimentação de militares "com curso de Forças Especiais do Exército" que, "coadunados com os intentos golpistas, dariam suporte às medidas necessárias para tentar impedir a posse do Governo eleito e restringir o exercício do Poder Judiciário".

O plano terá contado com a participação de generais de alta patente, incluindo o ex-ministro da Defesa e vice na candidatura presidencial de Bolsonaro, Walter Braga Neto, e do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, o general Augusto Heleno.

Entre os militares de alta patente referidos como participantes da tentativa de golpe de Estado estão também os generais Estevam Theophilo, que chefiava o Comando de Operações Terrestres, Marco Antônio Freire Gomes (ex-comandante do Exército), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e o almirante Almir Garnier (ex-comandante da Marinha).

Há também indícios de participação de outros militares do Comando de Operações Terrestres do Exército brasileiro, unidade cuja adesão à alegada tentativa de golpe, segundo a polícia, "seria fundamental pois seria a unidade militar que tem, sob sua administração, o maior contingente de tropas do Exército".

Nas investigações, a corporação teve acesso ao conteúdo de uma reunião que contou com a participação de Augusto Heleno e Jair Bolsonaro, em julho de 2022, meses antes das presidenciais, na qual Heleno defendeu que o Governo "virasse a mesa" antes das eleições para garantir a reeleição de Bolsonaro.

Parte das informações sobre a adesão de militares das Forças Especiais foi obtida em conversas na aplicação WhatsApp entre Mauro Cid (ex-assessor de Jair Bolsonaro) com Bernardo Romão Corrêa Neto, suspeito de ter empregado técnicas de militares com formação para direcionarem as manifestações nas portas dos quartéis e a invasão em 08 de janeiro 2022 às sedes dos Três Poderes na capital brasileira.

Houve, segundo os investigadores, o uso de "tática de investir contra militares não-alinhados às iniciativas de golpe, também por meio de disseminação de notícias falsas, tudo com o objetivo de incitar os integrantes do meio militar a voltarem-se contra os comandantes que se posicionaram contra o intento criminoso".

A investigação aponta que a estratégia do grupo investigado se dividiu em dois. Primeiro pela propagação da versão de fraude nas eleições de 2022 e disseminação de notícias falsas sobre vulnerabilidades do sistema eletrónico de votação, discurso reiterado pelos investigados desde 2019 e que persistiu após os resultados da segunda volta das eleições em 2022.

O segundo eixo de atuação do alegado grupo criminoso consistiu na prática de atos para apoiar a abolição do Estado Democrático de Direito, através de um golpe de Estado, com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais num ambiente politicamente sensível.

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