Ministros europeus da Defesa debatem tensão entre Rússia e Ucrânia

por Antena 1

Reuters

As tensões entre a Rússia e a Ucrânia estão esta sexta-feira a ser discutidas em Brest, França, pelos ministros da Defesa da União Europeia.

Uma reunião no dia em que a Ucrânia sofreu um ataque informático a várias páginas governamentais. A União Europeia já condenou o ciberataque e afirmou que o bloco comunitário vai “mobilizar todos os recursos” para ajudar Kiev perante um ataque que já era temido, como relata o correspondente da Antena 1 em França, José Manuel Rosendo.

“Infelizmente, já esperávamos que isto pudesse acontecer. Evidentemente, não podemos apontar o dedo a ninguém, pois não temos provas, mas podemos imaginar” quem está por detrás do ciberataque, disse Josep Borrell, à entrada para a reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros dos 27 da União Europeia (UE) em Brest, França, marcada precisamente pelas tensões a leste, entre Ucrânia e Rússia.

Borrell adiantou que foi já convocada uma reunião de emergência dos embaixadores do Comité Político e de Segurança, para analisar como a UE pode reagir e “prestar assistência técnica à Ucrânia para aumentar a sua capacidade de resistência a este tipo de ataques”.

Vou pedir aos Estados-membros que, mesmo não sendo a Ucrânia membro da UE e não participe no projeto da Cooperação Estruturada Permanente, possamos mobilizar os recursos de que dispomos para enfrentar este tipo de ataque. Assim, mobilizaremos todos os recursos para ajudar a Ucrânia a enfrentar este ciberataque”, disse o representante comunitário.

Portugal esteve representado hoje na reunião informal de Brest pela secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, que substituiu o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que esteve em Roma para as cerimónias fúnebres do presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli.
A secretária de Estado dos Assuntos Europeus disse hoje esperar que o ciberataque de que a Ucrânia foi alvo não signifique que a Rússia decidiu fechar as portas ao diálogo e “passar ao ataque”, pois tal seria “muito problemático”.

“Há quem ache que este ataque pode ter sido o primeiro parte dessa versão de que ‘não há mais diálogo, passamos ao ataque’. Se assim for, é muito problemático, porque, se assim for, a União Europeia (UE) tem realmente de tomar medidas”, comentou Ana Paula Zacarias em declarações à Lusa e RTP em Brest, França, onde hoje representou Portugal numa reunião informal de ministros dos Negócios Estrangeiros da UE.

A secretária de Estado sublinhou que “ainda há aqui um desejo de abertura e de diálogo, e sobretudo de fazer estes diálogos paralelos e interconectados com a NATO, com os Estados Unidos, com a OSCE [Organização para a Segurança e Cooperação na Europa]”, diálogos que possam “permitir chegar a uma boa conclusão”.

Mas, destacou Ana Paula Zacarias, por outro lado, que também é necessário manter “esta firmeza de que um ataque em relação à Ucrânia – e apesar de ser um ataque digital, não deixa de ser um ataque e ter consequências complicadas – encontrará sempre do lado europeu uma posição bastante forte e sobretudo unida”.

De acordo com Ana Paula Zacarias, se a atitude de Moscovo for de facto no sentido das agressões, então a UE tem de “começar a discutir as linhas gerais aprovadas no último Conselho Europeu, em que se dizia que qualquer agressão que venha a ser feita em relação à Ucrânia terá de ser confrontada com medidas bastante duras, bastante graves impostas pelo lado europeu”.
Kiev diz que danos do ciberataque são limitados e estão controlados
A Ucrânia indicou, entretanto, que "até ao momento" não foram constatados danos importantes na sequência do ciberataque, de origem desconhecida, que afetou na última madrugada vários ‘sites’ governamentais ucranianos, garantindo que as páginas ‘online’ estarão em breve operacionais.

"Mensagens provocadoras foram publicadas nos ‘sites (governamentais ucranianos), mas o conteúdo das páginas não foi modificado nem se verificaram alterações de dados pessoais, de acordo com as informações disponíveis", indicaram os Serviços de Segurança Ucranianos (SBU), num comunicado.

"Uma parte significativa dos meios (‘sites’) governamentais que foram afetados já foi restabelecida e a parte restante vai ficar acessível em breve"
, referiu a mesma fonte.

De acordo com os mesmos responsáveis, as autoridades suspenderam os serviços disponíveis em outros portais do Governo para se "evitar a propagação de ataques (informáticos)” e para que seja "localizado o problema".

Os países ocidentais acusam a Rússia de ter concentrado cerca de 100.000 soldados na fronteira com a Ucrânia nas últimas semanas para preparar um ataque àquele país, o que Moscovo nega. Moscovo, por seu lado, exige garantias ocidentais de que será travada a ideia de expansão da NATO para países junto às suas fronteiras, em particular para a Ucrânia.

Estas tensões podem ter repercussões no gasoduto Nord Stream-2, que liga a Rússia à Alemanha e ao qual a Ucrânia se opõe.

Os Estados Unidos, mas também os ministros dos Verdes alemães do novo Governo tripartido germânico, acreditam que, em caso de entrada de tropas russas na Ucrânia, este gasoduto, um projeto germano-russo que ainda não está funcionamento, pode ser alvo de sanções.
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