Moçambique. Polícia recuperou Muidumbe onde rebeldes decapitaram dezenas

por RTP
Imagem de arquivo Reuters

"Cumprimos uma etapa do nosso trabalho, mas não é o fim". As palavras são do comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), Bernardino Rafael. As Forças de Defesa e Segurança recuperaram das mãos de rebeldes a sede distrital de Muidumbe. Palco, há dias, de vários assassinatos e decapitações.

Pelo menos 16 rebeldes terão sido abatidos.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é há três anos alvo de ataques por grupos armados, alguns reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico.

Há cerca de duas semanas fizeram uma investida na zona. Alguns sobreviventes contaram à Lusa que os rebeldes mataram várias pessoas e tomaram de assalto casas e outros bens.

De acordo com o site Pinnacle News, os rebeldes decapitaram várias pessoas num campo de futebol que foi usado como local de extermínio na aldeia de Muatide.

O comandante-geral da Polícia da República de Moçambique afirmou hoje que os grupos insurgentes estão "enfraquecidos" com as investidas das forças governamentais. "Os terroristas estão em apuros e não têm o que comer", disse Bernardino Rafael, referindo que as FDS destruíram vários mantimentos (seis sacos de arroz e mais de 350 quilos de peixe seco) saqueados e escondidos pelos rebeldes.
Pesadelo

Vários jornalistas que presenciaram os ataques de rebeldes, e conseguiram escapar, sobreviveram durante duas semanas nas matas de Cabo Delgado. Já em local seguro contaram que a "situação está descontrolada, há muitas crianças, sozinhas e perdidas nas matas". Beatriz João, jornalista da Rádio Comunitária São Francisco de Assis, localizada no distrito de Muidumbe, disse que se cruzou com "muitas dessas crianças enquanto caminhava quilómetros em direção a Montepuez (onde agora se refugia)".

Moisés José, outro dos jornalistas que também se encontrava refugiado nas matas, disse que "os insurgentes capturaram inúmeras mulheres. Uma delas foi a minha filha de 27 anos que felizmente conseguiu fugir para as matas e juntar-se a nós". Disse ainda que no local onde esteve refugiado durante dias "havia muitos corpos em fase de decomposição".

A violência armada em Cabo Delgado já fez mais de duas mil mortes. Há já 500 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos.

A província onde avança o maior investimento privado de África, para exploração de gás natural, está desde há três anos sob ataques de insurgentes e algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019.

Ainda esta semana Presidente admitiu que não consegue combater sozinho o terrorismo no país e por isso pediu ajuda, como conta nesta reportagem o correspodente da RTP em Moçambique Pedro Martins.

c/ Lusa
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