Moçambique. População afetada aumenta para 794 mil com 447 mortos

por Joana Raposo Santos - RTP
O avião fretado pela Cruz Vermelha já chegou a Moçambique Mike Hutchings - Reuters

O número de pessoas afetadas pelo ciclone Idai continua a aumentar. Esta segunda-feira as autoridades anunciaram uma subida de 50 por cento, com 794 mil pessoas a precisar de ajuda. O número de mortos aumentou para 447, mais um face ao balanço de domingo.

A informação foi divulgada pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), que esclarece que nem toda a população afetada está em risco de vida.

Celso Correia, ministro moçambicano da Terra e do Ambiente, explicou no domingo que esta contagem se refere maioritariamente a pessoas que “perderam as casas” ou que se encontram em zonas isoladas e que precisam de assistência. Até ao momento, as autoridades registaram um total de quase 37 mil casas completamente destruídas.

Num briefing realizado esta segunda-feira, o ministro avançou que já foi estabelecido um “canal de abastecimento por via marítima” e que a maioria das áreas onde é necessária assistência já está mapeada.

“Há muita comida, alimentação (…) e ainda hoje esperamos estabelecer sistemas móveis de abastecimento de água em Búzi”, uma das zonas mais afetadas, declarou Celso Correia.

Um avião fretado pela Cruz Vermelha chegou ao início da manhã desta segunda-feira a Moçambique, transportando 35 toneladas de medicamentos e alimentos e ainda um hospital de campanha com 19 voluntários, entre médicos e enfermeiros.

Com o aumento do número de salvamentos, os centros de acolhimento continuam a encher e estão já registadas 128.941 entradas, das quais cerca de 6.500 dizem respeito a pessoas vulneráveis, como grávidas, idosos e crianças.
EUA vão prestar auxílio
Ainda esta segunda-feira, Donald Trump deu instruções diretas às Forças Armadas norte-americanas para prestarem auxílio a Moçambique.

A informação foi divulgada pelo Comando norte-americano para África três dias depois de o Governo moçambicano ter realizado um pedido de ajuda à comunidade internacional.

O comunicado explica que a Força Conjunta Combinada norte-americana no Corno de África irá liderar os esforços militares dos Estados Unidos e que uma avaliação inicial das necessidades foi já lançada no local dos acontecimentos.
Mortes com sintomas de cólera
Daviz Simango, presidente do município da Beira, avançou que foram registadas várias mortes de pessoas com sintomas de cólera, o que faz aumentar os receios de um surto impulsionado pelo ciclone Idai.O Governo angolano enviou hoje o quarto voo com cerca de 52 toneladas de medicamentos e material gastável para a cidade da Beira.

Com várias regiões inundadas e sem saneamento básico, a cólera poderá passar para a água e comida, criando-se um ambiente propício à sua propagação.

"Nos centros de acomodação" para os desalojados, improvisados em escolas, "tem de se colocar tapetes e água desinfetada" para que, quem entra, "não leve a cólera lá para dentro", defendeu Simango, salientando que nesses centros “as pessoas não vivem em condições humanas”.

O ministro da Terra e do Ambiente de Moçambique tinha já destacado a necessidade de continuar a trabalhar para mitigar os eventuais surtos. “É importante termos consciência de que vamos ter cólera, malária, já temos filária, e vai haver diarreias”, declarou no domingo.

Nesse contexto, o Governo angolano está a proceder à instalação de centros de tratamento e à distribuição de equipas médicas pelas regiões afetadas.
"Solidariedade Interna"

Joaquim Chissano, antigo Presidente de Moçambique, declarou esta segunda-feira que é errado apontar demoras à resposta da comunidade internacional, lembrando que a ausência de comunicações levou a que as ajudas fossem mais difíceis.

Chissano elogiou ainda a "solidariedade interna" em Moçambique, acreditando que esta não teve qualquer "conotação partidária".

"Cada partido movimentou-se para dar o que pudesse, para levantar a sua voz para que fosse ouvido" o estado da situação em cada região do país.

c/ Lusa
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