Morreu o antigo embaixador dos Estados Unidos Frank Carlucci

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
O antigo representante dos Estados Unidos em Portugal tinha 87 anos Reuters

Morreu o histórico diplomata e governante norte-americano Frank Carlucci, antigo embaixador dos Estados Unidos em Portugal. Tinha 87 anos.

Frank C. Carlucci III morreu no domingo na sua residência em McLean, no Estado norte-americano de Virginia.

Carlucci apresentou credenciais em Lisboa no final de janeiro de 1975, tendo sido nomeado em dezembro de 1974, ano da Revolução dos Cravos. Enquanto embaixador, representou os Estados Unidos na capital portuguesa durante o período do Verão Quente e acompanhou de perto a trajetória de destacados dirigentes políticos do país, desde logo Mário Soares, com quem manteve uma amizade próxima.

Frank Carlucci era visto como o homem que fazia as coisas acontecerem. Na sua própria opinião, “não era um grande visionário”, mas um especialista na resolução de crises. Como dele dizia quem o conhecia nas seis administrações da Casa Branca por que passou, era o homem a chamar quando havia necessidade de garantir que o objetivo era cumprido.

Na Universidade de Princeton, onde se formou em 1952 em Relações Internacionais, foi colega  de Donald Rumsfeld na equipa de luta e, mais tarde, de Caspar W. Weinberger, dois republicanos convictos e futuros secretários da Defesa. Seria fruto dessa rede de amizades, que cedo começou a forjar, que anos depois viria a ser chamado para uma série de lugares que o levariam a conselheiro de segurança nacional, subdiretor da CIA, embaixador dos Estados Unidos em Portugal no pós-25 de Abril e ele próprio secretário da Defesa na Administração Reagan.
"Duro"

Mas a lenda de “duro” terá começado no Congo, onde – após dois anos na Marinha, um ano a lutar contra um MBA em Harvard e um ensaio falhado na indústria dos fatos de natação – assumiu funções em 1960, quatro anos depois de ter entrado para o serviço de negócios estrangeiros.

Vivia-se no Congo o período de separação e independência da Bélgica, quando um grupo de americanos se viu numa situação em que o veículo em que seguiam atropelou mortalmente um congolês em Leopoldville, anterior designação da agora capital Kinshasa.

Carlucci conseguiria colocar a salvo todos os ocupantes do veículo e só mais tarde, já no autocarro a caminho de casa, notaria que tinha várias feridas de faca nas costas. De acordo com o Washington Post, este e outros episódios cimentariam a sua amizade com Cyrille Adoula, futuro líder do país, e Patrice Lumumba, chefe do governo congolês.

Já em Washington, dois anos depois, em 1962, aquando de uma visita de Estado de Cyrille Adoula durante a Presidência de John F. Kennedy, o antigo funcionário da embaixada teve de ser procurado e sentado à mesa na Casa Branca depois de Adoula ter lançado a pergunta “Onde está o Carlucci?”. JFK ter-se-á voltado para o secretário de Estado Dean Rusk e perguntado: “Quem é o Carlucci?”.
A missão em Portugal

O prontuário de ação de Carlucci viajaria consigo em 1975 quando embarcou para Portugal no período que se seguiu à Revolução do 25 de Abril. Chamado a conter a ameaça comunista pelo então secretário de Estado Henry Kissinger, Frank Carlucci afrontou o ideólogo da Casa Branca para propor uma intervenção com mão de veludo, todo o contrário da operação dura arquitetada pela mente daquele que é ainda hoje uma das personalidades mais controversas da história das administrações dos Estados Unidos.

A missão de que estava investido era apenas uma: evitar que o PCP de Álvaro Cunhal tomasse o poder e que Portugal se tornasse numa nova Cuba no extremo da Europa Ocidental. O novo embaixador dos Estados Unidos acreditava que uma linha dura atiraria os portugueses para as mãos dos comunistas e preferiu confiar na tradição católica da nação, colocando a sua fé nas eleições que aí vinham.

Kissinger – que apostava numa política de retaliação, com o isolamento de Portugal na NATO e o corte dos programas de ajuda dos Estados Unidos – questionou a fama de duro de Carlucci, mas, em última instância, a estratégia do diplomata vingaria com os eleitores a afastarem o PCP do poder.

Foram apenas três anos os que passou em Portugal (1975-1978), mas suficientes para cimentar uma imagem decisiva no período pós-revolucionário e garantir muitas páginas nos livros que escrevem a História do país no século XX.

Depois disso viriam funções como número dois da CIA, conselheiro nacional de segurança e secretário da Defesa, cargo em que sucedeu ao amigo Caspar W. Weinberger. Retirado da política em 1989, integrou o grupo financeiro Carlyle, um dos grandes fundos de investimento norte-americanos e que em 2004 tentou comprar a Petrogal.

Em Portugal, Frank Carlucci foi condecorado em 2004 com a grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo então primeiro-ministro Pedro Santana Lopes. Um ano depois, seria distinguido com a medalha da Defesa Nacional, já no crepúsculo do Governo de Santana Lopes.
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