Morte de Daunte Wright. Demissões não acalmaram protestos

por Andreia Martins - RTP
Leah Millis - Reuters

A agente da polícia que disparou fatalmente contra Daunte Wright durante uma operação de trânsito e o chefe da esquadra em causa apresentaram a demissão na última terça-feira. No entanto, as demissões não silenciaram os protestos, que se realizaram na terça-feira pela terceira noite consecutiva. Alguns manifestantes lançaram garrafas e outros projéteis contra a sede da polícia, que respondeu com disparos de gás lacrimogéneo e balas de borracha. Mais de 60 pessoas foram detidas durante a manifestação.

Os ânimos já estavam ao rubro naquela cidade norte-americana antes da morte de Daunt Wright no último domingo, num subúrbio de Minneapolis, no Estado norte-americano do Minnesota. É ali que decorre o julgamento do polícia acusado de matar o afro-americano George Floyd em maio do ano passado, um caso que levou a uma enorme onda de protestos do movimento Black Lives Matter que varreu o país durante vários meses.

Também por isso, o subúrbio em causa, Brooklyn Center, foi colocado sob recolher obrigatório após a morte de Daunte Wright. No entanto, os protestos continuam mesmo após os pedidos de demissão apresentados na terça-feira por Kim Potter, a agente que disparou sobre o jovem, e do chefe da esquadra, Tim Gannon.

O anúncio foi feito pelo prefeito de Brooklyn Center, Mike Elliott, que agradeceu na terça-feira as demissões e disse esperar que estas saídas “tragam alguma calma à comunidade”. Pelo menos no imediato, a notícia das demissões, o recolher obrigatório e o frio e chuva que se fizeram sentir não levaram ao acalmar dos ânimos no protesto de terça-feira.

“Ela devia ter sido despedida. O seu pedido de demissão não devia ter acontecido antes disso”, disse Amber Young, uma das manifestantes que integrou os protestos, em declarações à BBC. Sobre o chefe da polícia que também apresentou a demissão, a ativista mostrou-se satisfeita: “Estou feliz que ele se tenha ido embora. Não mostrava preocupação com a comunidade”, frisou.

De acordo com o jornal local Star Tribune, entre 800 a mil pessoas estiveram junto ao departamento de polícia de Brooklyn Center na noite de terça-feira. A CNN adianta que o protesto começou de forma pacífica, mas a situação complicou-se horas depois. De acordo com a polícia local foram feitas mais de 60 detenções por “motins e outros comportamentos criminosos”.
Um engano?

Os manifestantes consideram que as demissões anunciadas na terça-feira são um passo importante, mas exigem uma revisão completa de todo o departamento da polícia e prometem não desistir até que isso aconteça. Isto porque, argumentam, o carro de Daunte Wright só foi parado pela polícia por questões raciais.

É o que defende também a família do jovem de 20 anos que morreu no último domingo. A polícia adianta que o carro foi mandado parar apenas porque a licença da matrícula tinha expirado.

Daunte Wright foi abordado durante a operação de trânsito do último domingo e acabou por morrer quando a agente Tim Gannon alegadamente confundiu a pistola com um taser, arma que provoca uma forte descarga elétrica paralisante, mas não é letal.

“A agente tinha a intenção de utilizar o seu taser, mas em vez disso disparou uma única bala”, explicou o agente de polícia demissionário na última segunda-feira.

Durante a operação de trânsito do último domingo, os agentes pediram ao jovem para que se identificasse, percebendo depois que Wright tinha um mandato pendente por não ter comparecido em tribunal por crimes de posse ilegal de arma e resistência a detenção.

As imagens divulgadas sobre este incidente mostram a agente Kim Potter a tentar algemar Daunte Wright fora da viatura. O jovem ofereceu resistência e conseguiu voltar a entrar no veículo. Já com o jovem ao volante e a tentar fugir, Potter avisa várias vezes que vai disparar o “taser”, mas está de facto a apontar a pistola. Com a viatura em fuga, a agente grita: “Dei-lhe um tiro”.
Duas famílias de luto

O pai do jovem, Aubrey Wright, disse à ABC News que não acredita na versão de Kim Potter, uma agente treinada que alega ter confundido a arma com o taser. “Perdi o meu filho, ele nunca irá voltar. Não posso aceitar isto, que tenha sido um erro. Esta agente está na polícia há 26 anos. Não posso aceitar esta situação”, salientou o pai de Daunte Wright.

O julgamento de Derek Chauvin, o polícia acusado do homicídio de George Floyd, decorre a cerca de 15 quilómetros do epicentro dos protestos após a morte de Wright. A família de Floyd, a assistir ao julgamento ali perto, saiu da sala de audiências na terça-feira para estar junto da família de Daunte Wright e as duas famílias enlutadas estiveram juntas numa conferência de imprensa.

“Vamos apoiá-los. O mundo está traumatizado ao ver mais um afro-americano a ser assassinado. (...) Acordei esta manhã com isto em mente: não quero ver mais vítimas”, disse Philonise Floyd, irmão de George Floyd.



Durante os protestos pela morte de Daunte Wright, os manifestantes também recordaram a morte de Floyd, ao ajoelharem-se durante nove minutos e 29 segundos, o total de tempo que o agente Derek Chauvin esteve ajoelhado em cima do pescoço de George Floyd.

Para conter uma cidade em ebulição, Minneapolis decretou recolher obrigatório a partir das 19h00 e mobilizou militares da Guarda Nacional para evitar pilhagens. Os protestos têm acontecido todas as noites desde a morte de Wright e elevaram ainda mais as tensões naquela cidade.

Nos últimos dias houve registo de confrontos entre manifestantes e as autoridades e os media locais adiantam que ocorreram pilhagens de várias lojas. Outras empresas e comércio que não sofreram estas pilhagens têm estado a defender-se com civis armados.
Tópicos
pub