MPLA reclama vitória "inequívoca" com resultados por conhecer

por Carlos Santos Neves - RTP
“A vitória do MPLA é inequívoca, praticamente incontornável, e ela está-se a consolidar em termos numéricos”, afirmava nas últimas horas o secretário do Bureau Político do MPLA Manuel de Almeida - Lusa

Estão ainda por publicar os resultados provisórios das eleições gerais de quarta-feira em Angola, mas a cúpula do partido do Presidente cessante, José Eduardo dos Santos, veio já reivindicar uma vitória “inequívoca, praticamente incontornável”.

“A vitória do MPLA é inequívoca, praticamente incontornável, e ela está-se a consolidar em termos numéricos e acreditamos que nas próximas horas já podemos começar a anunciar os números que são ansiados pelos cidadãos”, afirmou a partir de Luanda João Martins, secretário do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola para questões políticas e eleitorais, após uma reunião partidária para um primeiro balanço do processo.
O escrutínio abrange 12.512 assembleias de voto, que somam 25.873 mesas. O processo consiste na eleição direta do Parlamento, com 220 assentos em jogo, e indireta do Chefe de Estado, que será o cabeça-de-lista da força política mais votada.

Ao início da manhã desta quinta-feira, a Comissão Nacional Eleitoral (CNE) ainda não tinha começado a libertar resultados. Todavia, no seio do MPLA, a convicção é a de que a vitória do partido – com a consequente eleição de João Lourenço como o sucessor de José Eduardo dos Santos na Presidência da República - “está a ser confirmada passo a passo”.

“O que temos a dizer é que devemos aguardar com serenidade quer os resultados que vão ser divulgados pelos órgãos institucionais competentes, nomeadamente a CNE, quer aqueles que outros sectores vão fazendo a sua divulgação”, temperou João Martins.

“O MPLA está confiante, cada vez mais confiante, agora com maior certeza, depois de já ter feito uma apreciação preliminar dos resultados que os seus delegados de lista forneceram ao centro coordenador da campanha e que estiveram em apreciação pela direção do partido”, insistiu.

Antena 1

A porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, indicou entretanto que perto de 1300 eleitores de 15 assembleias de voto nas províncias de Moxico, Luanda Norte e Benguela só vão votar no próximo sábado. Isto porque não foi possível organizar as assembleias em causa, devido a mau tempo e à avaria de meios aéreos.

Júlia Ferreira ressalvou que aquela contingência não impedirá a publicação de resultados provisórios ainda esta quinta-feira. O que ocorrerá, explicou, assim que a Comissão receba as atas sínteses das diferentes assembleias de voto.

Também em jeito de balanço a responsável afirmou, em declarações recolhidas pela Antena 1, que as eleições decorreram de forma exemplar.

“Em termos gerais, os angolanos estão de parabéns, o país está de parabéns. Ganhou a democracia, ganhou o pluralismo multipartidário, ganharam os angolanos”, clamou.

A jornada eleitoral em Angola tem sido largamente descrita como serena. Mas houve queixas. A CASA-CE, por exemplo, apontou casos de delegados de lista retirados das mesas no decurso do escrutínio. Algo que a Comissão Nacional Eleitoral diz desconhecer.

“Não sei como se pretende que um processo destes seja transparente quando não se pode contabilizar os votos, quando os delegados de lista, que são fiscais em nome de todos os concorrentes, não podem assistir a essa contagem, quando uma parte substancial [das mesas] está às escuras, sem energia”, afirmava na última noite o secretário executivo nacional da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitoral, Leonel Gomes, que falou mesmo de uma “violação gravíssima à lei”.
“Não vimos, nem ouvimos”

Em declarações à agência Lusa, a porta-voz da CNE procurou esvaziar esta denúncia.

“Na CNE – formalmente, oficialmente informada sobre situações factuais que ocorreram aqui ou ali – não vimos, nem ouvimos. Esta informação não nos foi veiculada, nem pela CASA-CE. Aliás, estou a ouvir agora em primeira instância”, reagiu Júlia Ferreira.

De acordo com Leonel Gomes, estão em causa os dados que a remeter pelos mais de 40 mil delegados de lista da CASA-CE à central paralela de contagem da coligação na capital. E que depende da receção das atas síntese.

“Há casos no Huambo e em Luanda em que foi a própria polícia a retirar os delegados de lista”, acusou o dirigente partidário.

“Se isso aconteceu, então talvez seja perturbação, que são situações diferentes. Há um raio de distância que deve ser respeitado e a polícia só intervém quando há perturbação (...) Se houve situações destas, não temos relatos factuais, concretos e objetivos. Até agora não temos”, contrapôs a porta-voz da Comissão Nacional Eleitoral.

“Em termos gerais e um pouco por todo o lado, não temos qualquer relato de incidentes desta natureza, muito pelo contrário. Aquilo que sabemos e temos conhecimento é que tem havido um ambiente de partilha solidária, não só de informação, como também na forma como cada um dos delegados de lista, nas mesas de voto, cumpriram o seu papel”, reforçou.

c/ Lusa
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