Mugabe convoca conselho de ministros para terça-feira

por RTP
Sábado, milhares de zimbabueanos saíram às ruas a exigir a partida de Robert Mugabe. Philimon Bulawayo - Reuters

O presidente do Zimbabué agarra-se ao poder por todos os meios e esta segunda-feira convocou uma reunião do gabinete na sua residência oficial, em Harare. O anúncio foi feito em comunicado emitido pelo secretário principal do chefe de Estado.

A convocatória parece mais um desafio de Mugabe aos planos do partido no poder, a União Nacional Africana do Zimbabué - Frente Patriótica (Zanu-PF), para o impugnar, um processo cujo início está marcado também para terça-feira.

A realizar-se o conselho, esta será a primeira vez que os membros do Governo se reúnem desde que, na madrugada de quarta-feira passada, o exército assumiu o controlo da capital e colocou Robert Mugabe sob prisão domiciliária. Habitualmente o conselho de ministros do Zimbabué realiza-se no Edifício Munhumutapa, no centro da capital, mas este está bloqueado por um carro blindado e por soldados.

A convocatória de Mugabe poderá não ser atendida, já que a Zanu-PF demonstrou ao longo do fim de semana vontade em afastar o Presidente.

Domingo, o partido retirou ao Presidente e líder histórico todas as funções partidárias e ameaçou destitui-lo se não se demitisse até às 12 horas de segunda-feira (11h em Lisboa).

O prazo passou e a Zanu-Pf vai agir.
Um "animal chamado Mugabe"
O processo de impugnação deverá ter início já amanhã.

A decisão foi anunciada aos jornalistas pelo vice-líder parlamentar e responsável pelos Assuntos Constitucionais da ZANU-PF, Paul Mangwana.

"Esperamos uma sessão das duas câmaras do Parlamento amanhã", revelou Magwana à imprensa, antes de uma reunião de emergência dos deputados e senadores da Zanu-PF. Será então apresentada a moção de destituição.

Depois deverá ser criado um comité especial para que, quarta-feira, apresente um relatório oficial e se avance com a votação. A Zanu-PF está no poder no Zimbabué desde 1980.
 
"Queremos desembaraçar-nos deste animal chamado Mugabe, ele deve partir", barafustou por seu lado, à Agência France Presse, o deputado Vongai Mupereri, garantindo que o partido tem "vozes suficientes" para o conseguir.

De acordo com a Constituição do Zimbabué, a Assembleia Nacional e o Senado podem iniciar um processo de revogação do Presidente em caso de "falta grave", de "violação deliberada da Constituição", de "falta à Constituição" ou por "incapacidade".

A resolução de destituição tem de ser aprovada por uma maioria de dois terços.
Braço-de-ferro
O vice-presidente destituído há duas semanas, Emmerson Mnangagwa, diz que o partido no poder necessita apenas dos votos da oposição do Movimento para as Mudanças Democráticas (MDC, na sigla inglesa) para que a votação leve à destituição de Mugabe.

Desconhece-se por quanto tempo irá prolongar-se o processo, bem como se o Presidente irá interpor recursos para evitar a destituição.

A Zanu-PF pretende acusar Robert Mugabe "de ter autorizado a sua mulher a usurpar os seus poderes" e de "já não ter capacidade física para garantir o seu papel, devido à sua idade avançada", referiu Mnangagwa.

Robert Mugabe tem 93 anos e está há 37 no poder.

A atual crise é atribuída ao favorecimento da sua mulher, Grace Mugabe, para lhe suceder, em detrimento de Mnangagwa.
Luta de fações
O exército interveio dias depois da destituição do vice-presidente e assumiu o controlo do país.

Desde então tem procurado desembaraçar-se de Mugabe, nomeadamente oferecendo-lhe imunidade, mas o Presidente recusa-se e mantém um braço de ferro com quem quer afastá-lo.

Domingo, Mugabe surpreendeu o país numa intervenção na televisão oficial, na qual desafiou os militares, recusando deixar a presidência, e os dirigentes do partido, ao recusar abandonar os seus cargos. Prometeu liderar o congresso do partido previsto para dezembro.

O líder do MDC, Morgan Tsvangirai, que regressou ao Zimbabué no mesmo dia da intervenção armada, anunciou que irá votar a a favor da destituição de Mugabe.

Tsvangirai exprimiu contudo dúvidas sobre se a Zanu-PF irá ser capaz de governar o país, sublinhando que a crise resulta da luta interna entre as múltiplas fações em que o principal partido no poder está dividido.

C/Agências
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