Mulher com feto mal-formado teve de ir do Louisiana a Nova Iorque para fazer um aborto

por RTP
Clínicas por todos os Estados Unidos estão a ser encerradas após decisão do Supremo Tribunal Reuters

Uma mulher grávida com um feto com uma má-formação no crânio teve de viajar desde o Louisiana até Nova Iorque para poder fazer um aborto. Nancy Davis, de 36 anos, teve de fazer uma viagem de mais de mil quilómetros depois de ter visto o pedido de aborto ser recusado. A situação sucede depois da reversão da lei “Roe v Wade”por parte do Supremo Tribunal.

Em declarações a The Guardian, Nancy Davis explicou que a gravidez terminou a 1 de setembro, depois de sair da região de Baton Rouge e ir a uma clínica de Manhattan onde aceitaram fazer o aborto.

A medida surge após o Louisiana ter sido um dos Estados que ilegalizaram o aborto, sendo que Nova Iorque mantém a legalidade do procedimento. Em julho último, Davis fez uma ecografia que mostrou que o feto não tinha parte do crânio, uma condição rara mas fatal, conhecida como acrania, que mata os bebés numa questão de dias e por vezes horas após o parto.

A lei do Louisiana respeitante ao aborto contém exceções à regra, de fetos que não conseguem sobreviver fora do útero da mãe. Katrina Jackson, senadora do Estado do Louisiana, disse que Davis podia ter feito o aborto de forma legal no Estado sem ter de deslocar-se até Nova Iorque.

No entanto, a lista de condições raras que justificam o aborto no Louisiana não contempla a acrania. Assim, os médicos e enfermeiros do hospital de Baton Rouge recusaram-se a fazer o aborto, com medo de implicações judiciais, especialmente o cumprimento de tempo de prisão e o pagamento de multas altas.

“Basicamente teria de levar o meu bebé no útero até que tivesse de enterrá-lo”, disse Nancy Davis. Depois da explicação da mulher grávida sobre o que teve de passar após saber da situação do feto, uma campanha de angariação de fundos juntou perto de 40 mil dólares para ajudar Nancy a viajar até um Estado para poder fazer um aborto seguro e legal.

A primeira opção era a Carolina do Norte mas Davis acabou por escolher uma clínica em Manhattan, ligada ao programa Planned Parenthood.

Este é mais um caso de uma mulher que teve de tomar medidas consideradas extremas para poder fazer um aborto, após a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos, de permitir a cada Estado decidir sobre a legalidade do aborto, um direito alcançado após o famoso caso “Roe v. Wade”.

No Estado da Florida, por exemplo, uma rapariga de 16 anos foi proibida de fazer um aborto porque o tribunal decidiu que a adolescente era imatura para poder tomar uma decisão dessa envergadura. Num outro caso, uma rapariga de apenas 10 anos, do Ohio, teve ir ao Indiana para fazer um aborto, já que o Estado de onde era originária baniu todos abortos.

Também o Indiana está prestes a ilegalizar o aborto.

Em agosto, Nancy Davis e o advogado apareceram em público à frente do edifício camarário e pediram uma clarificação da lei no Louisiana para que outras mulheres não tivessem as dúvidas que ela teve e nem passassem pelas dificuldades que ela passou.

O advogado de direitos humanos, Ben Crump, explicou na altura que Davis passou por períodos de “dor indescritível, danos emocionais e riscos físicos” devido a uma lei mal escrita e pouco explicativa.
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