Mulheres muçulmanas esfaqueadas junto à Torre Eiffel após discussão sobre cão

por RTP
As autoridades policiais francesas já detiveram as duas jovens mulheres suspeitas de levarem a cabo o ataque. Benoit Tessier - Reuters

Duas mulheres muçulmanas foram esfaqueadas na noite de domingo junto à Torre Eiffel depois de alegadamente serem alvo de insultos racistas durante uma discussão sobre um cão sem trela. O ataque aconteceu numa altura de tensão na capital francesa devido ao assassinato, na semana passada, de um professor que mostrou caricaturas do profeta Maomé nas suas aulas.

As vítimas foram identificadas como Kenza e Amel, ambas mulheres francesas de meia idade e com origem argelina. O esfaqueamento terá ocorrido durante uma discussão com outras duas mulheres, depois de uma delas se ter recusado a colocar uma trela no seu cão.

“Tínhamos ido dar um passeio. Junto à Torre Eiffel existe um pequeno parque e entrámos nele. Enquato caminhávamos, dois cães vieram na nossa direção”, contou Kenza ao jornal Liberation.

“As crianças assustaram-se. A minha prima, que estava a usar um hijab, perguntou às duas mulheres [donas dos animais] se podiam manter os seus cães afastados porque as crianças tinham medo”.

Depois de recusarem fazê-lo, “uma delas tirou uma faca e golpeou-me na cabeça, nas costelas e no braço”, revelou a vítima. “Depois atacaram a minha prima”. Durante a agressão, terão sido pronunciadas as frases “árabes sujas” e “voltem para o vosso país”, segundo as mulheres agredidas.

Ainda não estão, no entanto, confirmadas as alegadas motivações racistas do ataque. “Nesta fase das investigações, não há provas que sustentem a tese de motivação racista ou relacionada com o uso do hijab por uma das mulheres”, refere o jornal Le Monde.

“Não foi mencionado o véu nas queixas à polícia”, garantiu a essa publicação francesa uma fonte policial. Ouvida pelo Le Monde, Amel confirmou, porém, que as agressoras lhe rasgaram o hijab.

Kenza, esfaqueada seis vezes, foi hospitalizada com um pulmão perfurado, enquanto Amel teve de ser submetida a cirurgia numa das mãos, que apresentava também ferimentos. Nenhuma delas corre perigo de vida.

As autoridades policiais francesas já detiveram as duas jovens mulheres suspeitas de levarem a cabo o ataque e que foram descritas como “de aparência europeia”. Ambas enfrentam acusações de tentativa de homicídio, de uso de arma branca e de ofensas relacionadas com etnia ou religião, segundo procuradores parisienses.

Apesar de ter ocorrido no domingo, o episódio não foi divulgado pelas autoridades francesas, o que gerou indignação nas redes sociais, onde começaram a circular imagens e vídeos do momento do incidente. A polícia apenas confirmou o ataque na noite de terça-feira.

“A 18 de outubro, pelas 20h00, a polícia atuou após uma chamada de emergência realizada por duas mulheres feridas por facas no Champs-de-Mars”, refere um comunicado da polícia de Paris, entretanto divulgado.


O incidente aconteceu depois do assassinato do professor Samuel Paty, aos 47 anos, que tinha mostrado aos seus alunos numa aula sobre liberdade de expressão caricaturas do profeta Maomé. O Presidente francês, Emmanuel Macron, está a planear uma homenagem nacional ao docente.
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