Myanmar. População apela à polícia para que se junte à luta pela democracia

Milhares de manifestantes regressaram às ruas de Myanmar num protesto contra o golpe de Estado militar de 1 de fevereiro, exigindo a libertação de Aung San Suu Kyi, que se encontra em prisão domiciliária. Apelaram mesmo às forças policiais para que se juntassem à causa da democracia. Pela primeira vez, as forças de segurança usaram canhões de água para dispersar os protestos na capital do país, Naypyidaw.

RTP /
Reuters

No domingo, as autoridades policiais dispararam tiros de alerta em Myawaddy, na fronteira com a Tailândia.

Para já não há relatos de força policial em Rangoon, a maior cidade do país, onde vários defensores de Aung San Suu Kyi se reuniram esta segunda-feira, apesar de as ruas estarem mais policiadas e com canhões de água a postos. Nos últimos três dias, vários grupos de ativistas estiveram concentrados junto ao Centro Hledan.

Nos cartazes apelam à polícia para que os apoie, como parte de um crescente movimento pela desobediência civil, contra os militares que tomaram o poder do país na passada semana.

Vários médicos, professores e outros funcionários do Governo já se juntaram aos manifestantes.Ao mesmo tempo, os manifestantes apelavam para a realização de uma greve geral, tal como haviam feito durante o fim de semana, um pouco por todo o país.

A esperança dos manifestantes é separar a força policial da militar, apesar da constituição militar de 2008 dar às Forças Armadas autoridade sobre a polícia.


Para o analista político Khin Zaw Win, “a polícia está mais perto do que os militares” de Aung San Suu Kyi – líder do país e fundadora da Lida Nacional para a Democracia- e “seria mais provável que apoiasse os manifestantes”.

“Se um número maior de manifestantes se juntar vai depender da chegada de oficiais superiores a duração dos protestos e a incidência da violência”, acrescentou político Khin Zaw Win à Al Jazeera.
“Fiquem com o povo”
No sábado, os manifestantes confrontaram as forças de segurança – pela primeira vez desde que os militares tomaram o poder – e ficaram cara a cara com a polícia na estrada Yangon’s Insein, com a situação a ficar muito tensa.
“Fiquem com o povo”, gritavam muitos dos manifestantes enquanto apelavam para o fim acabar da ditadura militar e a implementação da democracia.  Um dos manifestantes erguia um cartaz onde se lia: “Que lado vais defender? O opressor ou o oprimido”.
Este é já considerado o maior protesto desde 2007.

Durante cerca de uma hora, policias fortemente armados, segurando escudos de plástico e com equipamento antimotim, ficaram atrás das barricadas enfrentando os manifestantes furiosos que agitavam bandeiras vermelhas nas quais se podia ler: “Libertem os nosso dirigentes”, “Respeitem os nossos votos” ou “Rejeitem o golpe de Estado”.

Autocarros e carros, que não conseguiam circular, buzinavam em solidariedade com os manifestantes, que juntavam trabalhadores, estudantes e monges.

Cenas semelhantes repetiram-se no domingo, primeiro quando milhares de manifestantes tentaram marchar em direção à Embaixada dos Estados Unidos e de seguida junto à câmara de Rangoon.

Em ambos os casos, dezenas de polícias armados montaram barricadas com camiões com canhões de água esperavam ao lado. Enquanto os manifestantes lhes apelavam para se juntarem à sua luta e a defender a democracia.

“O treino do general Aung San é proteger e não matar”, gritavam em referência ao pai de Aung San Suu Kyi, herói da independência de Myanmar e fundador das Forças Armadas da antiga Birmânia.

O país viveu sob um regime militar durante cerca de 50 anos, desde a independência em 1948.
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