Nagorno-Karabakh. O início do êxodo em massa dos arménios étnicos que fogem da morte, da guerra e da fome

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Refugiados de Nagorno-Karabakh chegam à cidade fronteiriça de Kornidzor, na Arménia, a 26 de setembro Irakli Gedenidze - Reuters

A situação no Nagorno-Karabakh deteriorou-se ainda mais na segunda-feira à noite, quando um depósito de combustível explodiu, causando a morte a pelo menos 20 pessoas e ferindo mais de 200. O número de vítimas não para de aumentar desde que o Azerbaijão recuperou o controlo da região separatista. Os arménios do Nagorno-Karabakh continuam a fugir da região. Pelo menos 19 mil já chegaram à Arménia esta terça-feira, segundo a agência de notícias russa TASS, citando o vice-primeiro-ministro arménio Tigran Khachatryan.

O cenário é de engarrafamento na única estrada que liga a Arménia a Nagorno-Karabakh, enclave reconhecido internacionalmente como pertencente ao Azerbaijão, mas povoado maioritariamente por arménios. Desde as primeiras evacuações de domingo que carros e autocarros apinhados têm chegado ao posto de controlo arménio de Kornidzor.

Isto na sequência das declarações do primeiro-ministro arménio, Nilkol Pachinian, que anunciou que a Arménia acolheria “com cuidado os seus irmãos e irmãs do Nagorno-Karabakh”. "Às 8h00 locais (5h00) de 26 de setembro, 13.550 pessoas deslocadas chegaram à Arménia vindas de Nagorno-Karabakh", afirmou o Conselho de Ministros arménio, num comunicado publicado no seu site.

No primeiro dia do êxodo, pelo menos 19 dos 120 mil arménios do Nagorno-Karabakh conseguiram atravessar a fronteira e deixar a capital do enclave em disputa -  conhecida como Stepanakert pela Arménia e Khankendi pelo Azerbaijão - segundo a agência de notícias russa TASS, citando o vice-primeiro-ministro arménio Tigran Khachatryan. Contra as 13.550 pessoas noticiadas esta manhã pelo Governo arménio.

De acordo com as autoridades locais, na segunda-feira à noite, a explosão de um depósito de combustível no enclave matou pelo menos 20 pessoas e feriu 280, no meio do êxodo de outros milhares que se apressavam para fugir e recorreram às estações de combustível para fazer compras. "Infelizmente, não foi possível salvar a vida de sete pacientes, que morreram no hospital. Dezenas de pacientes estão ainda em estado crítico. Treze corpos não identificados foram transferidos para a perícia médica", indicaram as autoridades separatistas em comunicado.

Segundo o ministério da Saúde de Nagorno-Karabakh, “muitas pessoas estão dadas como desaparecidas”, pelo que se teme que o número de mortos possa aumentar substancialmente nas próximas horas, atendendo também ao número de viaturas de habitantes de Nagorno-Karabakh que se encontrava no local quando ocorreu a explosão.

Devido ao engarrafamento nas estradas de Karabakh, que têm dificultado o acesso à ajuda humanitária e a evacuação de civis, o Ministério da Saúde informou que um helicóptero com uma equipa médica, medicamentos e material médico foi enviado para ajudar no tratamento de feridos.

Entretanto a situação humanitária na região, já marcada por relatos de conflito, escassez de alimentos, combustível, gás e eletricidade, tem-se deteriorado nas últimas horas e o afluxo de refugiados do Nagorny Karabakh para a Arménia continua, apesar do cessar-fogo acordado no passado dia 20 de setembro e das promessas do presidente azeri Ilham Aliev de que os direitos dos arménios de etnia estariam "garantidos".
"O Governo (da Arménia) fornece alojamento a todos aqueles que não têm onde viver", afirmou um porta-voz do governo arménio.
Na cidade de Kornidzor, na fronteira com o Azerbaijão e a 150 quilómetros do enclave disputado, milhares de deslocados recém-chegados estão atualmente a ser hospedados num centro humanitário criado para o efeito.

Esta terça-feira, Bruxelas anunciou um novo financiamento de 4,5 milhões de euros para ajudar os deslocados na Arménia e os civis vulneráveis no Nagorno-Karabakh, depois do primeiro envio de 500 mil euros de apoio de emergência anunciado na sexta-feira.

A União Europeia recebeu esta terça-feira, em Bruxelas, os altos representantes da Arménia e do Azerbaijão, e indicou que o primeiro-ministro arménio, Nikol Pachinian e o presidente azeri, Ilham Aliev, deverão participar numa reunião da Comunidade Política Europeia, onde estarão reunidos cinquenta países europeus, membros e não membros da UE, a 5 de outubro, em Granada. 

c/ agências
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