Nagorno-Karabakh. Separatistas arménios acusam Baku de violar o cessar-fogo

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
Os representantes do Azerbaijão reúnem com membros da delegação de arménios de Nagorno-Karabakh na cidade de Yevlakh, no Azerbaijão, a 21 de setembro Sringer - Reuters

O Azerbaijão iniciou conversações com os arménios sobre Nagorno-Karabakh, esta quinta-feira, depois de a região separatista ter sido forçada a uma rendição após a vitória militar relâmpago de Baku, acusada de violar o cessar-fogo. Após duas horas de discussões, o Azerbaijão entregou à Arménia um projeto de acordo de paz entre os dois países vizinhos, de acordo com a agência de notícias russa RIA.

Os separatistas arménios da região de Nagorno-Karabakh anunciaram, na quarta-feira, que não tinham outra alternativa senão aceitar negociar a reintegração da parte do território do sul do Cáucaso que controlavam no Azerbaijão, onde vivem cerca de 120 mil pessoas.

Na cidade de Yevlakh, a oeste da capital azerbaijanesa, representantes de ambas as partes começaram, esta quinta-feira, conversações após uma ofensiva militar de 24 horas do Azerbaijão para recuperar o controlo do território azeri de população maioritariamente arménia, que os separatistas alegaram ter causado pelo menos duas centenas de mortos e mais de quatro centenas de feridos.

Vinte e quatro horas depois de ter lançado a sua ofensiva militar, o Azerbaijão tinha "restabelecido a sua soberania" sobre o Nagorno-Karabakh, congratulou-se o presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, na quarta-feira. Garantindo que o objetivo de Baku é a “reintegração pacífica dos arménios” do território separatista."A população arménia de Karabakh pode finalmente respirar de alívio. Já o disse antes e quero repeti-lo: a população arménia de Karabakh é nossa cidadã", afirmou Aliyev.

De acordo com o líder do Azerbaijão, os “arménios de Karabakh” terão a partir de agora os “seus direitos religiosos e culturais respeitados”.
Violação do cessar-fogo

Simultaneamente com o início das conversações em Yevlakh, esta quinta-feira, um correspondente da agência noticiosa France Presse (AFP) na capital de Karabakh – a que os arménios chamam Stepanakert e os azeris Khankendi – afirmou ter ouvido tiros. 

Entretanto as autoridades de etnia arménia confirmaram ter havido um tiroteio nas imediações da cidade e acusaram as forças do Azerbaijão de violar o cessar-fogo, que entrou em vigor na quarta-feira. 

O ministro da Defesa do Azerbaijão, Zakir Hassanov, negou a acusação afirmando que "completamente falsa e tinha como objetivo a desinformação".
“Limpeza étnica” em Nagorno-Karabakh
Entretanto, em Genebra, a Arménia descreveu a operação militar do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh como um "crime contra a humanidade", assegurando que estava "em curso uma limpeza étnica", tendo sido convocada uma reunião de emergência do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, para esta quinta-feira. 

"A Arménia tem informado (...) sobre a iminência de uma limpeza étnica. Hoje, ela está em curso. Mas os civis de Nagorno-Karabakh estão encurralados e não têm forma de evacuar", denunciou o embaixador arménio, Andranik Hovhannisyan. "Não se trata apenas de uma situação de conflito, mas de um crime contra a humanidade que deve ser tratado como tal", acrescentou.

Sob forte pressão, o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pachinian, apelou esta quinta-feira ao seu país para aceitar “o caminho” para a paz, mesmo que “não seja fácil”, numa altura em que é acusado pela oposição de ter permitido ao Azerbaijão recuperar o controlo militar da região separatista do Nagorno-Karabakh.

"Temos de apreciar a paz e não confundir paz, tréguas e cessar-fogo. A paz é um ambiente desprovido de conflitos intraestatais e interétnicos", afirmou num discurso à nação por ocasião do Dia da Independência da Arménia, que se celebra a 21 de setembro. O "caminho" para a paz "não é um caminho fácil, mas temos de o percorrer", acrescentou.

Apesar da vitória do Azerbaijão ter provocado mais uma reviravolta na tumultuosa história da região - que esteve ao longo dos séculos sob o domínio de persas, turcos, russos, otomanos e soviéticos - o futuro de Nagorno-Karabakh parece continuar em aberto, sem o entendimento entre arménios e azeris que estão em conflito há mais de um século.

c/agências
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