Nancy Pelosi aterra em Taiwan. Pequim denuncia atitude "extremamente perigosa" dos EUA

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Ritchie B. Tongo - EPA

Apesar das várias ameaças por parte de Pequim, a líder do Congresso norte-americano aterrou mesmo em Taiwan esta terça-feira. Logo após a chegada de Pelosi, a China denunciou a atitude “extremamente perigosa” dos EUA e alertou Washington para “não brincar com o fogo”.

A presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, aterrou perto das 23h00 locais (16h00 em Lisboa) na pista do aeroporto de Songshan, em Taipé.

A visita da presidente do Congresso norte-americano provocou um aumento da tensão diplomática entre a China e os Estados Unidos, já que a soberania da ilha é reivindicada pela China.
Logo após a chegada de Pelosi, a China denunciou a atitude “extremamente perigosa” dos EUA.

"Os Estados Unidos estão a tentar usar Taiwan para conter a China", disse o Ministério dos Negócios Estrangeiros da China em comunicado, acrescentando que Washington "continua a distorcer e a assombrar o princípio de uma só China”.

Essas ações, como brincar com fogo, são extremamente perigosas”, alertou o Ministério. Na semana passada, durante uma chamada com o presidente norte-americano Joe Biden, o seu homólogo chinês, Xi Jinping, já tinha avisado que "quem brinca com o fogo queima-se".

"[A visita] é uma grave violação ao princípio de uma só China. [...] Tem um grande impacto nas relações políticas entre a China e os Estados Unidos e infringe gravemente a soberania e a integridade territorial da China, prejudicando gravemente a paz e a estabilidade em todo o estreito de Taiwan", lê-se no comunicado do Ministério chinês.

"Há apenas uma China no mundo. Taiwan é uma parte inalienável do território da China, e o Governo da República Popular da China é o único governo legal que representa toda a China. Isso foi claramente reconhecido pela Resolução 2758 da Assembleia Geral das Nações Unidas de 1971", argumenta-se no comunicado. A China reivindica soberania sobre a ilha e considera Taiwan uma província rebelde desde que os nacionalistas do Kuomintang se retiraram para lá, em 1949, depois de perder a guerra civil contra os comunistas.

O porta-voz chinês do ministro dos Negócios Estrangeiros avisou mesmo que a visita da presidente do Congresso norte-americano a Taiwan “vai criar uma situação grave que terá consequências”.

A China já tinha alertado que iria retaliar caso Pelosi decidisse mesmo visitar a ilha, afirmando que os seus militares “não iriam ficar de braços cruzados”. Pouco depois da chegada da congressista, a televisão estatal chinesa CGTN anunciou que "caças Su-35 chineses começaram a cruzar o estreito de Taiwan", que separa a China continental da ilha reivindicada por Pequim.

Entretanto, o Ministério da Defesa de Taiwan veio afirmar que estes relatos são falsos. Mais tarde, Taiwan anunciou que 21 aviões militares chineses entraram na zona de identificação de defesa aérea da ilha.

"21 aeronaves militares chinesas entraram na ADIZ (Zona de Identificação de Defesa Aérea) no sudoeste de Taiwan a 2 de agosto de 2022", disse o Ministério da Defesa de Taiwan num comunicado publicado no Twitter.
Militares chineses em alerta máximo
O Ministério da Defesa da China já anunciou que os militares chineses foram colocados em alerta máximo e lançarão "operações militares direcionadas" em resposta à visita de Pelosi a Taiwan.

Separadamente, o Comando de Teatro Oriental, do Exército de Libertação Popular, disse que realizará operações militares conjuntas perto de Taiwan a partir da noite desta terça-feira e testará o lançamento de mísseis convencionais no mar a leste de Taiwan.

As operações militares incluirão exercícios aéreos e marítimos conjuntos no norte, sudoeste e nordeste de Taiwan, disparos de longo alcance no Estreito de Taiwan e lançamentos de mísseis de teste no mar a leste de Taiwan, especificou o Comando de Teatro Oriental. Taiwan, com quem o país norte-americano não mantém relações oficiais, é uma das principais fontes de conflito entre a China e os EUA, principalmente porque Washington é o principal fornecedor de armas de Taiwan e seria o seu maior aliado militar em caso de conflito com o gigante asiático.

Também os Estados Unidos mobilizaram porta-aviões próximos do estreito de Taiwan e estão em estado de alerta. “Obviamente, estamos a tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança dos membros eleitos do Congresso, onde quer que eles decidam ir e quando viajarem", disse um porta-voz do Departamento de Defesa dos Estados Unidos esta terça-feira.
Pelosi quer mostrar o “apoio incondicional” dos EUA a Taiwan
Pouco depois de aterrar na ilha, a presidente do Congresso norte-americano publicou um tweet onde sublinha que a visita "honra o inabalável compromisso no apoio à vibrante democracia em Taiwan", assegurando que "não contradiz a política de longa data dos Estados Unidos", baseada em acordos estabelecidos com Taiwan e a China.


“A solidariedade da América com os 23 milhões de habitantes de Taiwan é mais importante hoje do que nunca, pois o mundo enfrenta uma escolha entre autocracia e democracia”, escreveu Pelosi. Pelosi é a mais alta-representante política norte-americana a visitar a ilha nos últimos 25 anos.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Taiwan saudou a visita da congressita, afirmando que demonstra o apoio "inabalával" de Washington.

"Acreditamos que a visita da presidente Pelosi fortalecerá as relações próximas e amistosas entre Taiwan e os Estados Unidos, e aprofundará ainda mais a cooperação geral entre os dois lados em todos os campos", disse o Ministério.

A congressista deverá visitar o escritório presidencial e o parlamento de Taiwan na manhã de quarta-feira, prevendo-se ainda um encontro com a presidente Tsai Ing-wen. Pelosi deve terminar a sua visita a Taiwan ainda na quarta-feira.

c/agências
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