"Não há ciência" que prove eficácia do fim progressivo dos combustíveis fósseis, diz o presidente da COP28

por Andreia Martins - RTP
"Não há ciência ou cenário que diga que o fim progressivo dos combustíveis fósseis irá permitir atingir a meta de 1,5°C" afirmou o responsável num evento a 21 de novembro. Amr Alfiky - Reuters

Al Jaber, dos Emirados Árabes Unidos, considerou que o fim dos combustíveis fósseis não será determinante para limitar o aquecimento global a 1,5ºC, ainda que a redução seja "inevitável". O presidente da COP28, que dirige a petrolífera Adnoc, alertou que uma eliminação rápida do carvão, petróleo e gás poderá levar o mundo "de volta às cavernas".

De acordo com o jornal The Guardian, o presidente da COP28, Sultan Al Jaber, considerou que “não há ciência” que ateste a importância da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

O jornal acrescenta que as declarações surgiram no contexto de um evento com a ex-presidente da Irlanda, Mary Robinson, a 21 de novembro.

Desafiado por Robinson a apelar ao fim dos combustíveis fósseis, Al Jaber recusou-se a subscrever “discussões alarmistas”.

“Não há ciência ou cenário que diga que fim progressivo dos combustíveis fósseis irá permitir atingir a meta de 1,5°C" (…) A redução dos combustíveis fósseis é, na minha opinião, inevitável. É essencial. Mas devemos ser sérios e pragmáticos", considerou.

“Mostrem-me um itinerário para o fim dos combustíveis fósseis que seja compatível com o desenvolvimento socioeconómico, sem levar o mundo de volta à era das cavernas”, lançou.

Al Jaber, presidente da Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, a decorrer no Dubai, é também o chefe executivo da petrolífera Adnoc e presidente da empresa de energias renováveis Masdar, ambas dos Emirados Árabes Unidos.

“Não acredito que consigam ajudar a resolver a questão climática apontando dedos ou contribuindo para a polarização e a divisão do mundo. Mostrem as soluções. Parem de apontar dedos”, argumentou o responsável no mesmo evento.

Na sexta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, considerou que “o limite de 1,5ºC só será possível se pararmos de queimar todos os combustíveis fósseis”.

“Não é reduzir, não é diminuir. Eliminação gradual, com um prazo claro”, afirmou Guterres numa intervenção na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas.

Num relatório divulgado em setembro, a Agência Internacional de Energia estimava que a produção de combustíveis fósseis deverá cair 83% entre 2022 e 2050 de forma a alcançar a neutralidade carbónica, permitindo ainda assim que se mantenha uma produção residual.

Um porta-voz da presidência da COP28, citada pela agência France Presse, destaca esse mesmo documento, sublinhando que “os combustíveis fósseis têm um papel a desempenhar no futuro sistema energético, embora com uma menor dimensão”.

“[Al Jaber] disse claramente que a indústria de petróleo e gás deve enfrentar as emissões, (…) deve investir em energia e tecnologias limpas para lidar com as emissões (…) e que toda a indústria se deve alinhar para manter os 1,5°C ao seu alcance. Mais uma vez, este é claramente um esforço para minar as conquistas da presidência da COP e é uma deturpação da nossa posição e dos sucessos alcançados até à data”, acrescentou o porta-voz, citado pelo Guardian
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