"Não queria estar viva". Meghan e Harry falam de hostilidade racial da coroa em entrevista a Oprah

por Joana Raposo Santos - RTP
Meghan Markle contou que chegou a pedir ajuda psiquiátrica e que esta lhe foi recusada pela família real. Damir Sagolj - Reuters

Numa inédita entrevista à apresentadora Oprah Winfrey, Meghan Markle acusou a família real britânica de uma hostilidade racial tão forte que a levou a ter pensamentos suicidas. "Não queria estar viva", admitiu. A duquesa de Sussex e o seu marido, príncipe Harry, falaram sobre os momentos pesados que os fizeram afastar-se da coroa para impedirem que uma tragédia semelhante à da vida da princesa Diana se repetisse.

Pouco mais de um ano depois de Harry e Meghan terem anunciado que iriam afastar-se das suas funções enquanto membros da coroa britânica, o casal contou que a família real expressou preocupações com "quão escura" a cor de pele do seu filho Archie viria a ter e se recusou a fornecer-lhe um título real ou segurança.

Mesmo quando os tabloides britânicos começaram a escrutinar abertamente o facto de Meghan ser afrodescendente, nenhum membro da família real se manifestou para a defender ou para reconsiderar a decisão de atribuir segurança a Archie, contou a duquesa na entrevista de duas horas com Oprah Winfrey.

“Estava tudo a acontecer apenas porque eu respirava”, disse emocionadamente Meghan, antes de começar a chorar. “Eu não queria estar viva. Esse era um pensamento constante, claro e assustador”.

Questionada por Oprah sobre se, quando se juntou à família real, pensou sobre a sua ascendência racial ou sobre o facto de já ser divorciada, a duquesa respondeu: “Pensei sobre isso porque eles me fizeram pensar sobre isso”.
Meghan desencorajada a pedir ajuda psiquiátrica
Nunca apontando dedos diretamente a ninguém e elogiando várias vezes a rainha Isabel II, o casal pintou o retrato de uma família pronta a receber Meghan ao início, mas que mudou subitamente de tom quando a duquesa engravidou do primeiro filho e começou a ser elogiada nas revistas pela sua postura enquanto figura pública.

Segundo Meghan, desde o início que a coroa insistiu que esta continuasse com a sua carreira de atriz pois diziam não haver dinheiro para a incluir na lista de ordenados pagos à realeza. Esse aparente pormenor levou a que a duquesa não pudesse usufruir de segurança.

Quando, num momento de desespero, Meghan pediu ajuda ao departamento responsável, disseram-lhe: “Lamentamos e compreendemos, mas não há nada que possamos fazer pois a Meghan não é um membro pago da instituição”. Meghan Markle contou que, depois de se juntar à família real, deixou de ter acesso a passaporte, carta de condução ou chaves e que estes apenas lhe foram devolvidos depois de o casal ter abandonado as suas funções na coroa.

A mulher do príncipe contou ainda que vários membros da família lhe disseram que não podia pedir ajuda psiquiátrica pois isso não seria bom para a instituição. Segundo Harry, o argumento dos seus familiares era que já todos tinham passado por situações semelhantes e que a única coisa a fazer era seguir em frente.

Na altura, o príncipe terá alertado a própria família para a gravidade da situação. “O que era diferente, para mim, era o elemento racial. Disse-lhes que isto não iria acabar bem”, revelou.

Foi já no final da sua primeira gravidez que Meghan Markle falou ao marido dos pensamentos suicidas que a assombravam. “Tinha vergonha de o dizer, e vergonha de o admitir especialmente ao Harry, porque sabia que ele tinha sofrido uma grande perda. Mas sabia que, se não o dissesse, iria fazê-lo. Simplesmente não queria mais estar viva”, contou na entrevista a Oprah.

Harry disse ter ficado “horrorizado” com a confissão da mulher. “Não fazia ideia do que fazer, fui para um sítio muito escuro também, mas queria estar lá para ela”, afirmou. A partir daí, começou a formular um plano para aliviar a pressão e assegurar que a tragédia passada que culminou na morte da sua mãe, a princesa Diana, não se repetiria.
Harry de relações cortadas com a família
Em janeiro de 2020, Harry e Meghan acabaram por anunciar que iriam afastar-se das suas funções enquanto membros da família real. Começaram por ir para o Canadá, onde pensaram que poderiam desempenhar um papel importante por estarem num país da Commonwealth britânica, mas tudo mudou no início da pandemia de Covid-19, quando a coroa cortou a segurança do casal, alegando uma “mudança de estatuto”.

Harry e a mulher sentiram-se então expostos e desprotegidos, pelo que acabaram por se mudar para a casa de um amigo em Los Angeles que lhes forneceu seguranças. Apenas depois compraram casa em Montecito, Califórnia, onde agora vivem.

A relação do casal com a família real está atualmente em suspenso – mesmo entre Harry e o irmão mais velho, William. O príncipe contou que o seu próprio pai, Charles, deixou há algum tempo de lhe atender as chamadas. “Sinto-me muito desapontado”, admitiu. “Há muita dor em tudo o que aconteceu”.

Segundo Harry, desde que o casal se mudou para os Estados Unidos que deixou de ser financiado pela coroa. Terá sido o dinheiro herdado diretamente da sua mãe Diana que o permitiu comprar a casa na Califórnia. Agora, Harry e Meghan têm outros meios de subsistência, entre os quais acordos com a Netflix e o Spotify, o que poderá indicar um futuro como produtores de entretenimento.

Depois de divulgados excertos da entrevista a Oprah Winfrey, o jornal Sunday Times noticiou que a rainha Isabel II não iria assistir à mesma e que o palácio apenas responderia publicamente caso membros individuais fossem atacados por Harry e Meghan.

A entrevista chega no fim de uma semana agitada entre o casal e o palácio de Buckingham. Na quarta-feira, o Times avançou que Meghan Markle tinha feito bullying a dois dos seus funcionários. Um porta-voz do casal definiu a acusação como “uma campanha de difamação baseada em desinformação enganosa e prejudicial”. O palácio, porém, disse que iria investigar as acusações.
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