NATO adverte Rússia para consequências de intervenção militar na Ucrânia

A Rússia tem um forte dispositivo militar junto à fronteira com a Ucrânia, incluindo tanques e tropas prontas a combater, alertou o secretário-geral da NATO. São sinais "muito perigosos" de uma possível invasão que geram inquietude em Kiev. Segundo o presidente Zelensky, uma tentativa de golpe de Estado que envolvia "pessoas na Rússia" estava prevista para o início de dezembro. A NATO avisa que Moscovo sofrerá "consequências" e terá um "preço a pagar se recorrer à força contra a Ucrânia".

RTP /
Um atirador da autoproclamada República Popular de Donetsk, na linha de separação das forças armadas ucranianas fora da cidade controlada pelos rebeldes Reuters

“Estamos preocupados com a situação. A Rússia concentrou pela segunda vez este ano equipamento pesado, tanques e tropas de combate nas fronteiras da Ucrânia. Multiplica os discursos agressivos e as suas intenções não são claras”, avisa o antigo primeiro-ministro norueguês.

Deve ficar claro que, se a Rússia usar a força contra a Ucrânia, haverá custos que terão consequências. É por isso que continuamos a apelar à Rússia para evitar a escalada”, ameaçou Jens Soltenberg.
 
O secretário-geral da NATO não revelou mais detalhes sobre as informações de que dispõe, nem sobre a reação da NATO se a Rússia avançar militarmente sobre a Ucrânia. Stoltenberg apenas lembrou que Moscovo já rejeitou tentativas de diálogo, quando recusou tomar parte numa reunião do Conselho NATO-Rússia. No entanto, um diplomata avançou que foram enviadas mensagens para Moscovo e que a NATO está a levar a questão muito a sério.

Em 2014, e na sequência da eleição de políticos pró-ocidentais, a Rússia anexou a península da Crimeia e reforçou o apoio militar e financeiro aos separatistas na região de Donbass, no leste da Ucrânia. O conflito entre separatistas pró-russos e forças ucranianas nesta região já provocou 13 mil mortos nos últimos sete anos.

A situação na Ucrânia é um dos assuntos na agenda dos ministros dos Negócios Estrangeiros, que vão reunir-se na próxima terça e quarta-feira, em Riga. A NATO "tem de ter em conta novas realidades, incluindo as ações agressivas da Rússia, uma China mais assertiva, tecnologias emergentes e disruptivas e o impacto das alterações climáticas na segurança", disse Stoltenberg.

Como a Ucrânia não pertence à Aliança Atlântica, o artigo que estabelece a entreajuda entre Estados-membros em caso de agressão não pode ser invocado. Por isso, a NATO não interveio aquando da anexação da Crimeia ou a intervenção militar russa na Geórgia.

Segundo Stoltenberg, a cooperação da NATO com a Ucrânia consiste em ajudar Kiev a fortalecer as capacidades militares, treino de soldados e fornecimento de armas.

A Ucrânia integra o Conselho da Parceria Euro-Atlântica desde que celebrou a Parceria para a Paz com a NATO, em 1994.

Kiev vê sinais “muito perigosos” de invasão

A tensão entre a Ucrânia e a Rússia tem crescido ao longo das últimas semanas. Em Kiev, o presidente Volodymyr Zelensky está alarmado com uma possível invasão, pois interpreta os movimentos das tropas russas junto à fronteira como “o sinal (…) de que é possível uma escalada”.

Para Zelensky, a Rússia apenas está à procura de um pretexto para intervir militarmente na Ucrânia e nota a “retórica muito perigosa” da Rússia. Moscovo criticou o envio de militares da NATO para a Ucrânia e acusou Kiev de minar o processo de paz com os separatistas ucranianos.

“Hoje, há intimidações que indicam que uma guerra vai acontecer amanhã”, considera Zelensky, notando que a Ucrânia está “totalmente pronta”. “Devemos contar apenas connosco, com o nosso exército, que é poderoso”, respondeu Zelensky, instado pelos jornalistas a comentar a possível resposta de Kiev.

De acordo com os serviços secretos ucranianos, a Rússia tem 92 mil soldados junto à fronteira da Ucrânia. Kyrylo Boudanov prevê que uma ofensiva - com eventuais ataques aéreos, anfíbios e de artilharia - possa decorrer em finais de janeiro ou início de fevereiro.

Por seu lado, Moscovo nega qualquer intenção de “ingerência” e acusa Kiev, NATO e os ocidentais de agravarem as tensões com manobras militares próximo das fronteiras.

Zelensky revela alegado golpe de Estado

O presidente ucraniano afirmou que estava a ser preparado “um golpe de Estado” para o início de dezembro, com “algumas pessoas na Rússia” envolvidas. De acordo com Zelensky, os serviços secretos obtiveram gravações áudio de conspiradores a conversar sobre como envolver o magnata Renat Akhmetov, o empresário mais rico da Ucrânia, de modo a que este apoiasse o golpe.

No entanto, Zelensky acredita que o plano não seguirá em frente. O Kremlin já desmentiu qualquer envolvimento. “A Rússia não faz este tipo de coisas”, comentou o porta-voz. O empresário também protestou contra este alegado envolvimento.

"Temos desafios não apenas da Federação Russa e possível escalada - temos grandes desafios internos. Recebemos informações de que um golpe de Estado acontecerá no nosso país nos dias 1 e 2 de dezembro", disse Zelenskiy.

"A informação tornada pública por Volodymyr Zelensky sobre as tentativas de me atrair para algum tipo de golpe é uma mentira absoluta. Estou indignado com a disseminação desta mentira, não importa quais sejam os motivos do presidente," reagiu o empresário em comunicado.

"Como cidadão ucraniano, o maior investidor, contribuinte e empregador do país, continuarei a defender uma Ucrânia livre, uma economia livre, democracia e liberdade de expressão", acrescentou.

Os títulos soberanos da Ucrânia caíram para o nível mais baixo em mais de um ano e o custo de garantir a exposição à dívida do país disparou face o aumento das preocupações com segurança.
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