Os novos objetivos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) vão incluir a defesa de ameaças à segurança vindas da China, que pode ter impacto na Europa através das suas capacidades cibernéticas, novas tecnologias e mísseis de longo alcance, afirmou o secretário-geral da aliança militar em entrevista ao Financial Times.
À nova orientação dos objetivos da aliança ocidental não é alheia a mudança na orientação geopolítica da Casa Branca, que atribui à Ásia um papel central e quer combater a hegemonia da China. “O que podemos prever é que a ascensão da China terá um impacto na nossa segurança. Já está a ter”, acrescentou Stoltenberg.
O novo Conceito Estratégico da NATO – que vai definir as linhas mestras de atuação para a próxima década - será adotado na cimeira que vai decorrer no próximo verão.
As diretivas atuais não fazem qualquer referência à China, mas o documento assinado em Lisboa refere a necessidade de deter a ameaça terrorista e dos grupos extremistas e “criar as condições para um mundo sem armas nucleares”.
Elaborado na sequência da retirada das forças norte-americanas e da coligação do Afeganistão, e enquanto a Europa debate a retirada de militares de operações fora do seu território, o documento vai alargar a missão da NATO.
“A China está a aproximar-se de nós. Vemo-los no Ártico. Vemo-los no ciberespaço. Vemo-los a investir fortemente em infraestruturas importantes nos nossos países. E, claro, têm mais e mais armas de alto-alcance que podem chegar a países aliados da NATO. Estão a construir muitos silos para mísseis intercontinentais”, detalhou.
Na entrevista ao Financial Times, o secretário-geral da NATO nota que a China e a Rússia não podem ser vistas como ameaças separadas, uma vez que “trabalham em conjunto”. Por isso, defende que “temos de lidar “ com as questões de segurança tanto na Ásia-Pacífico como na Europa.
Sobre a retirada precipitada do Afeganistão, Stoltenberg refere que foi “uma escolha óbvia” depois de os Estados Unidos terem decidido sair do país. Apesar de os militares europeus conseguirem ficar sem o apoio Americano, os líderes políticos não conseguiriam justificar a sua presença, uma vez que as tropas foram mobilizadas para aquele país na sequência de um ataque aos Estados Unidos. “Politicamente, seria irrealista” e difícil de justificar, considera Jens Stoltenberg.