Negociações tensas no Congresso dos EUA sobre a ajuda à Ucrânia

por Cristina Sambado - RTP
Doug Mills - Pool via Reuters

Democratas e republicanos entraram em conflito durante uma reunião no Congresso dos Estados Unidos consagrada à ajuda à Ucrânia, com o novo pacote financeiro para a ofensiva de Kiev no centro de negociações muito complexas. Volodymyr Zelensky, que deveria ter participado por videoconferência na reunião que decorreu à porta fechada, cancelou à última hora presença. Sem qualquer justificação.

A reunião aconteceu depois de um alto funcionário norte-americano ter avisado que Kiev corre o risco de perder a guerra contra a Rússia, se não for aprovada mais ajuda militar dos EUA.

O chefe de gabinete de Zelensky, Andriy Yermak, afirmou na terça-feira que há um "grande risco" de derrota da Ucrânia sem o apoio contínuo dos EUA.

"Será difícil manter as mesmas posições”, acrescentou, num discurso proferido no Instituto da Paz dos EUA, em Washington DC.Os EUA são o maior fornecedor de ajuda militar a Kiev, tendo-se comprometido com dezenas de milhares de milhões de dólares desde a invasão russa em fevereiro de 2022.

A promessa de Biden de continuar a apoiar financeiramente a Ucrânia está em risco, o pior cenário para Kiev, cuja contraofensiva no verão não conseguiu obter os ganhos territoriais esperados e que os combates na linha da frente parecem ter chegado a um impasse prático.

A primeira votação processual, agendada para esta quarta-feira, no Congresso, sobre um novo pacote de ajuda militar, humanitário e macroeconómico deverá fracassar.No final de terça-feira, Biden expressou a sua frustração: “A incapacidade de apoiar a Ucrânia é absolutamente insana. É contrária os interesses dos Estados Unidos. É simplesmente errado”.

Consciente de que o sentido de urgência diminuiu em Washington desde o início da guerra, Biden tinha pedido, a 20 de outubro, para juntar ao seu pedido de ajuda à Ucrânia - mais de 61 mil milhões de dólares - um outro de cerca de 14 mil milhões para Israel, um aliado histórico dos Estados Unidos em guerra com o Hamas.

O encontro de terça-feira decorreu numa altura em que os senadores republicanos estão preparados para votar contra o avanço de um pacote de segurança nacional de mais 100 mil milhões de dólares, a menos que inclua grandes mudanças na política de fronteiras, lançado dúvidas sobre se a ajuda será aprovada este ano. Os republicanos condicionam a ajuda à Ucrânia a um claro endurecimento da política migratória, para fazer face ao afluxo de imigrantes na fronteira com o México. Algo que, para já, os democratas estão a recusar.

As negociações em torno deste pacote são tão tensas que vários membros do Congresso relataram elevado a voz durante a reunião de terça-feira à tarde. O que levou os republicanos abandonaram a sala em bloco.

Os republicanos insistem em recuperar a ideia de Trump de ampliar o muro ao longo da fronteira com o México, bem como em tornar mais difícil aos migrantes solicitarem asilo nos EUA.

"Optaram por pôr em causa o financiamento da Ucrânia e vão ter de viver com essa escolha quando Vladimir Putin marchar sobre Kiev e a Europa", criticou o senador democrata Chris Murphy.

Na terça-feira, a secretária do Tesouro norte-americana, Janet Yellen, em visita ao México, acrescentou: "Podemos considerar-nos responsáveis pela derrota da Ucrânia se não conseguirmos fornecer-lhe este financiamento".

"A Ucrânia ficou simplesmente sem dinheiro", avisou, indicando que tinha falado com membros do Congresso sobre esta "situação desastrosa".
As autoridades ucranianas insistem que precisam de mais armas para evitar que os ataques russos deixem milhões de pessoas sem energia este inverno, como aconteceu no ano passado.


A Casa Branca fez soar o alarme na segunda-feira, avisando que a ajuda militar dos EUA à Ucrânia poderia ser cortada nas próximas semanas, na ausência de um acordo orçamental com a oposição republicana.

"Se o Congresso não agir, no final do ano ficaremos sem recursos para entregar mais armas e equipamento à Ucrânia e para fornecer equipamento dos stocks militares dos EUA", escreveu a diretora do orçamento da Casa Branca, Shalanda Young.
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