Nigéria admite novos ataques com os EUA contra grupos islamitas

O ministro nigeriano dos Negócios Estrangeiros, Yusuf Tuggar, disse à estação de televisão local ChannelsTV que o combate aos grupos islamitas irá prosseguir, com a possibilidade de ações "conjuntas" com os EUA.

Graça Andrade Ramos - RTP /
Habitante locais examinam destriços após ataque dos EUA contra islamitas do Estado Islâmico na Nigéria Abdullahi Dare Akogun - Reuters

"É um processo contínuo e estamos a trabalhar com os Estados Unidos. Estamos também a colaborar com outros países", revelou Tuggar.

O ministro confirmou que o ataque norte-americano a posições de combatentes islamitas no norte da Nigéria, no dia de Natal, foi acordado com o seu homólogo norte-americano, Marco Rubio.

"Foi a Nigéria que forneceu a informação" a Washington, disse Yusuf Tuggar, especificando que estava ao telefone com o secretário de Estado dos EUA pouco antes do bombardeamento.

"Falámos duas vezes. Falámos durante 19 minutos antes do ataque e depois falámos novamente durante cinco minutos antes de ele começar", disse Yusuf Tuggar.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Nigéria confirmou ainda que o presidente, Bola Tinubu, tinha dado luz verde aos ataques aéreos dos EUA.


"As autoridades nigerianas continuam empenhadas na cooperação estruturada em matéria de segurança com parceiros internacionais, incluindo os Estados Unidos da América, para combater a ameaça persistente do terrorismo e do extremismo violento", afirmou o Ministério dos Negócios Estrangeiros nigeriano, em comunicado de imprensa. Ainda não foi revelado oficialmente qual dos numerosos grupos armados da Nigéria foi alvo dos ataques, apesar do presidente Donald Trump ter afirmado que o alvo foi o Estado Islâmico.

 Os jihadistas nigerianos estão concentrados sobretudo no nordeste do país, mas também realizaram incursões no noroeste.

Os jihadistas incluem os grupos do Boko Haram, do Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP) e militantes fulani radicalizados. Travam desde 2009 uma perseguição cerrada às populações maioritariamente cristãs do nordeste da Nigéria, reivindincando o estabelecimento, na zona, de um Estado islamita sob a lei da sharia.

Normalmente atacam aldeias e arrasam a população ou raptam mulheres, jovens raparigas, crianças e sacerdotes, numa estratégia de intimidação e caos.

Gangues armados tiram igualmente proveito da confusão.
Indignação norte-americana
Algumas fontes afirmam que foram massacrados já mais de 18.000 cristãos nigerianos. O governo em Abuja desmente, afirmando que o número é substancialmente menor e que os islamitas atacam, além de cristãos, muçulmanos que não subscrevem as suas ideias e outros grupos.

O presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, denunciou várias vezes o massacre dos cristão, exigindo ação por parte do governo nigeriano.

O proeminente senador do Texas, Ted Cruz, tem vindo a fazer campanha sobre o assunto há algum tempo tendo escritona rede social X que, "desde 2009, mais de 50.000 cristãos na Nigéria foram massacrados e mais de 18.000 igrejas e 2.000 escolas cristãs foram destruídas".

Num e-mail enviado à BBC, o seu gabinete esclareceu contudo que o senador não estava a chamar "genocídio" aos ataques, mas a descrever "perseguição".

Cruz acusou ainda assim as autoridades nigerianas de "ignorarem e até facilitarem o assassinato em massa de cristãos por jihadistas islâmicos"Trump descreveu a Nigéria como um "país desonrado", dizendo que o governo "continua a permitir o assassinato de cristãos".

Há semanas a exigir ação a Abuja, Trump ameaçou tomar medidas. Abuja e Washington parecem ter ultrapassado entretanto o impasse diplomático.

O presidente dos EUA referiu que as forças norte-americanas atacaram quinta-feira o grupo Estado Islâmico (EI) na Nigéria, acusando-o de "atacar e matar brutalmente, principalmente, cristãos inocentes".

Um funcionário do Pentágono confirmou que "o Departamento de Guerra dos EUA colaborou com o governo nigeriano para realizar estes ataques", do dia de Natal de 2025. "Os ataques foram aprovados pelo governo nigeriano".
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