Nova Deli. Espuma tóxica e a pior poluição do ar de 2021

por Carla Quirino - RTP
Anushree Fadnavis - Reuters

Os devotos hindus foram oferecer orações ao rio sagrado, Yamuna, dar um mergulho na água e adorar o sol nascente, agradecendo as bênçãos da vida na Terra. Este banho faz parte do festival religioso Chhath Puja. A bênção foi envolta pela maior poluição do ar deste ano e pela espuma tóxica que flutua no rio indiano.

Não é algodão nem neve. É espuma com mau cheiro que flutua no rio Yamuna, a principal fonte de água para os 19 milhões de habitantes de Delhi. É o segundo maior afluente do Ganges e também um dos rios mais poluídos da Índia.

"Yamuna não é mais um rio", declarou à CBS, Manoj Mishra, da organização Yamuna Jiye Abhiyaan, um grupo que faz campanha para limpar o rio.

"É uma coleção de 18 esgotos que fluem para dentro dele, carregando um cocktail tóxico de esgoto, produtos químicos, detergentes, lixo industrial e excrementos", acrescentou.
Menos de 10 por cento do esgoto que é lançado ao rio é tratado. Milhões de pessoas continuam a usar a água para atividades domésticas, colocando-se em risco de contrair doenças.

De acordo com o ativista, diversos especialistas temem que a sopa tóxica possa tornar-se uma incubadora de superbactérias resistentes a medicamentos.

Mishra defende que a "primeira prioridade do governo indiano deve ser devolver o rio ao rio".

Os diversos governos traçaram planos para limpar o rio sagrado, inclusivé o Tribunal Nacional Verde, que trata de assuntos ambientais, estabeleceu em 2015 um conjunto de medidas para restaurar o Yamuna.

Mas "nenhum tijolo foi colocado durante este tempo", disse Mishra, acrescentando que a luta do governo central contra a poluição do ar e da água, está longe de ser eficaz.

"O que está a faltar é uma maior consciencialização da urgência por parte dos governantes, eles não podem continuar a acordar durante os invernos e acharem que estão sozinhos", sublinhou a repórter ambiental Bahar Dutt, autora de "Rewilding India: Experiments in saving nature".
Ar insalubre Um manto de fumo cobriu a cidade, que tradicionalmente tem a pior qualidade do ar de todas as capitais do mundo, e fez disparar os valores para a poluiçao do ar mais perigosa de 2021.

O Índice de Qualidade do Ar (AQI) subiu para 463 numa escala de 500, o máximo registrado em 2021, indicando condições "graves" que afetam até mesmo pessoas saudáveis. O registo foi feito pelas autoridaders centrais indianas que monitorizam a concentração da poluição do ar.

A Organização Mundial de Saúde também considerou o ar inseguro, especialmente para quem já sofre de doenças respiratórias.

Os fogos de artíficio do fim das festividades do Diwali, associados às queimadas feitas pelos agricultores que preparam os terrenos para a sementeira seguinte, terão contribuído para a subida dos valores de poluição.
Rajat Gupta - EPA

Os governos indianos são continuamente acusados por colocar a economia em primeiro lugar em detrimento da saúde e compromissos ambientais.

O primeiro-ministro Narendra Modi afirmou na Cimeira do Clima, COP26, em Glasgow, que pretende que a Índia alcance emissões líquidas zero de carbono até 2070.

Alguns especialistas duvidam e estimam que a meta está, pelo menos, duas décadas atrasada.



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