Nova Zelândia. Milhões de lagostas tornam as praias vermelhas

por RTP
Reuters

As praias de Otago, no sul da Nova Zelândia, ficaram vermelhas devido à invasão de milhões de lagostas. Anualmente estes crustáceos juntam-se nos areais de Otago para procriar, dando um tom avermelhado às praias.

As pequenas comunidades costeiras de Broad Bay e Edwards Bay, no sul da Nova Zelândia, assistem todos os anos a este fenómeno: milhões de lagosta da espécie munida gregaria invadem as praias de Otago, colorindo o areal de vermelho.

John Zeldis, especialista do Centro Nacional de Ciências da Água e da Atmosfera da Nova Zelândia, explicou à emissora nacional Radio New Zealand (RNZ), esta sexta-feira, que este acontecimento é comum todos os anos, na época de verão - de dezembro a junho - em que o tom avermelhado das praias é causado pelos milhares de carcaças de lagostas munida gregaria.

Quando a maré está alta, estes crustáceos agarram-se à areia - num comportamento instintivo a que o cientista chama de "acomodação" -, para poderem procriar. Quando a maré baixa, estes animais deviam voltar para a água, mas alguns deles permanecem agarrados ou ficam presos à areia e acabam mesmo por morrer no areal.

"O comportamento de acomodação é fundamental para o ciclo de vida deles", esclareceu Zeldis.

Ao longo das últimas décadas, Zeldis assistiu a esta "maré" de lagostas nas praias de Otago, que se estende até à península de Banks, mais a sul.

Este ano, a população local relatou que inúmeras praias ficaram vermelhas, o que significa que as lagostas adultas não estão a regressar ao mar. As lagostas estão a perecer na praia para não perderem o seu local de acasalamento.

Este fenómeno deixa milhões de lagostas "adolescentes", sem sítio para se reproduzir também. Mas o forte instinto de se acomodar e de se "apegar" às superfícies leva a que a maioria morra.

"Se elas tentam estabelecer-se no nicho de adultos que não estão prontos para seguir em frente, há muita agressão que continua", continuou o cientista.

"Supostamente as lagostas instalam-se no fundo do mar, a 30 ou 40 metros de profundidade, e vivem lá durante os próximos dois anos. Passado esse tempo, reaparecem à superfície e formam a próxima geração", explicou o investigador.

Apesar de as praias ficarem cobertas de carcaças vermelhas, e de as populações ficarem normalmente alarmadas com a extensão de areal invadido, Zeldis garantiu que a população de lagostas ainda não estava ameaçada e que o número de crustáceos mortos na praia de Otago era apenas uma "minúscula" fração da população total.

As lagostas munida gregaria "têm muitos aspetos interessantes e fascinantes, aparecer nas praias é apenas a parte mais visível para o público".
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