Novo diretor do IHMT quer maior envolvimento no combate às epidemias em África

por Lusa

O novo diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), o médico angolano Filomeno Fortes, defendeu hoje, em Lisboa, um maior envolvimento de equipas médicas e de cientistas portugueses no combate às epidemias em África.

"As nossas equipas em Portugal, quer do IHMT, quer de outras unidades ligadas à saúde, não têm tido uma grande participação no combate às epidemias, principalmente ao nível de África", disse.

Filomeno Fortes falava hoje aos jornalistas, na Universidade Nova de Lisboa, no final da cerimónia de tomada de posse como novo diretor do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, que pela primeira vez será dirigido por um estrangeiro.

"Tivemos uma epidemia de febre amarela em Angola, a União Europeia veio dar-nos apoio e não havia nenhum técnico, por exemplo, do IHMT e nós temos potencial no instituto, temos quadros qualificados com muita experiência e temos de mostrar essa experiência e interagir mais com os países que estão sujeitos a essas epidemias", defendeu.

Citando um alerta recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre os perigos e o potencial de mortalidade da eventual globalização de uma epidemia desse género, Filomeno Fortes sustentou que é preciso "estar preparado".

"Neste momento, temos grandes movimentos de migração. Com a saída de muitas comunidades de férias para Portugal, o risco da entrada de doenças epidémicas a partir de Portugal é muito grande e não temos estado a assistir a uma pressão no sentido de se controlar esse risco", disse.

O médico angolano, especialista em doenças tropicais, apontou, por isso, como prioridades do mandato que agora inicia, "elevar bem alto a luta contra as doenças tropicais e o apoio aos países de expressão portuguesa".

Nesse sentido, assumiu como responsabilidade o reforço do apoio aos sistemas de saúde nos países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

"Temos estado a ter essa colaboração em termos de formação [...], mas penso que podemos contribuir mais para o diagnóstico epidemiológico das doenças tropicais e na formação de gestores" para o setor da saúde, disse.

Filomeno Fortes quer ainda tornar o IHMT mais conhecido a nível mundial, do ponto de vista científico, contribuindo com novas descobertas para a evolução da ciência, nomeadamente em África.

Com Angola a assumir a presidência rotativa da CPLP em 2020, Filomeno Fortes quer promover uma maior interação entre a organização e o IHMT, que é consultor técnico do Plano Estratégico de Cooperação em Saúde da comunidade lusófona.

"Sentimos que não tem havido suficiente dinamismo, quer em termos de prioridades de projeção, quer em temos de busca de recursos, numa melhor interatividade com os governos dos países da CPLP", apontou.

Manifestando-se "otimista" em relação ao mandato, apontou o financiamento e a insuficiência de recursos humanos como as principais dificuldades.

Professor da Universidade Agostinho Neto, em Angola, Filomeno Fortes é mestre em Saúde Pública, doutorado em Ciências Biomédicas e especialista em malária.

Ao longo da sua carreira exerceu em Angola, entre outros cargos, o de diretor de Saúde de Luanda, Diretor Nacional de Controlo de Epidemias, chefe de Departamento de Controlo de Doenças e diretor do Programa de Controlo da Malária.

Até ser eleito para dirigir o IHMT, coordenava o doutoramento em Ciências Biomédicas da Universidade Agostinho Neto, em Luanda.

Faz também parte do Conselho da Federação Internacional de Doenças Tropicais.

A eleição, que decorreu há cerca de um mês, em Lisboa, e foi precedida de um concurso internacional, apresentação pública da proposta de programa para os próximos quatro anos e defesa perante os membros do Conselho do IHMT.

Fundado em 1902, o Instituto de Higiene e Medicina Tropical dedica-se ao ensino e à investigação da saúde pública, medicina tropical, ciências biomédicas e epidemiologia, com especial incidência na ligação com os países de língua oficial portuguesa.

O instituto tem também um programa de mestrados, doutoramentos e pós-graduações com cerca de 500 alunos, mais de metade dos quais frequentam as aulas à distância e com recurso às tecnologias de informação e comunicação.

A maior parte dos alunos são brasileiros, moçambicanos e angolanos, mas o IHMT tem atualmente estudantes de mais de 20 nacionalidades.

O organismo fornece ainda consultas de medicina tropical e das viagens, tendo, em 2017, feito 11.262 consultas do viajante, 369 consultas de medicina tropical e administrado 21.658 vacinas.

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