Novo Presidente sul-africano promete seguir exemplo de Nelson Mandela

por Andreia Martins - RTP
Reuters

No segundo dia como Presidente de África do Sul, Cyril Ramaphosa fez o primeiro discurso sobre o Estado da Nação. Em inglês, mas também em afrikaans, o novo Presidente sul-africano evocou a memória de Nelson Mandela e garantiu agir "guiado pelo seu exemplo".

Um dia depois da tomada de posse, Cyril Ramaphosa voltou a dirigir-se ao Parlamento Nacional, sediado na Cidade do Cabo, desta feita para fazer o discurso do Estado da União.

Ramaphosa garantiu que o seu Governo irá dar prioridade no combate à corrupção, um dos principais focos desde que chegou à liderança do Congresso Nacional Africano (ANC), em dezembro de 2017.
 
O antigo braço de direito de Nelson Mandela nas negociações para o fim do aparheid prometeu tomar "decisões difíceis" para reduzir o défice, estabilizar a dívida e combater as desigualdades sociais, comprometendo-se com "políticas de certeza e consistência".

“A nossa tarefa é aproveitar este momento de esperança. Este ano vamos encetar novas medidas para levar este país por um novo caminho, para construir uma regeneração da nossa economia. Serão necessárias decisões difíceis”, avisou.

Ramaphosa apontou ainda a criação de emprego como um dos principais objetivos dos próximos meses de governação.

Mas o protagonista do discurso foi mesmo Mandela. "Guiados pelo seu exemplo, vamos aproveitar este ano para reforçar o nosso compromisso com um comportamento ético e uma liderança ética. Não estamos somente a honrar o passado, mas também a construir o futuro que Nelson Mandela perspetivou para o seu povo", referiu.

Em 2018, mais precisamente em julho, assinala-se o centenário do nascimento do líder histórico sul-africano.

"É um ano em que vamos recordar a vida de um dos mais notáveis líderes que o nosso país, o nosso continente e o mundo alguma vez conheceu. (...) Recordamos o seu longo caminho para a liberdade, com uma inquebrável humildade e integridade. Dedicamos este ano à sua memória e vamos também dedicar-lhe todas as ações e todos os esforços. Estamos a prosseguir o longo caminho que ele iniciou", refereiu Cyril Ramaphosa.
Zuma demitiu-se na quarta-feira
África do Sul teve uma semana alucinante no que à política diz respeito. Na terça-feira, o Congresso Nacional Africano (ANC) ditava um ultimato de 48 horas para que Jacob Zuma abandonasse a presidência ao fim de nove anos no Edifício da União, em Pretória, onde se encontra a residência oficial do Presidente sul-africano.

Na quarta-feira, Jacob Zuma renunciou à Presidência da República depois de o seu próprio partido, o ANC, ter ameaçado a votação uma moção de censura na sequência dos escândalos de corrupção em que estava envolvido.

Logo no dia seguinte, na quinta-feira, Ramaphosa, líder do ANC e vice-presidente da República, foi eleito de forma unânime pelo Parlamento sul-africano para substituir Jacob Zuma.  A votação foi uma mera formalidade, uma vez que o ANC, no poder desde 1994, detém a maioria no órgão legislativo. A tomada de posse aconteceu poucas horas depois, também na Cidade do Cabo.

Jacob Zuma assumiu a Presidência da República em 2009 mas vinha a ser cada vez mais contestado na sociedade e no mundo político. O próprio partido que liderou até 2017 e que o protegeu em anteriores moções de censura propostas pela oposição, perdeu a paciência. O anterior Presidente é visado em vários processos de corrupção, favorecimento de terceiros com bens do Estado e uso indevido de dinheiros públicos.

O mais recente escândalo envolve os poderosos Guptas, uma família indiana imigrante com grandes negócios na África do Sul, a quem o ex-Presidente terá favorecido em concursos públicos milionários. Na quarta-feira, o mesmo dia em que Jacob Zuma apresentou a demissão, foi desencadeada uma busca na residência dos Guptas em Joanesburgo.

Agora, é a vez de Cyril Ramaphosa liderar. O quinto Presdente desde o fim do regime de segregação racial na África do Sul foi um dos principais intervenientes nas negociações que ditaram o fim do apartheid. Com 65 anos, chega à Presidência de uma das maiores potências do continente africano, entre a expetativa e a esperança daqueles que muitos apontam como o delfim de Madiba.
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