Novo processo contra Navalny. Opositor russo é acusado de difamar um veterano de guerra

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Na terça-feira passada, o maior opositor do Presidente russo Vladimir Putin foi condenado a dois anos e oito meses de prisão Reuters

Pela segunda vez esta semana, o líder da oposição russa, Alexei Navalny, voltou a comparecer a um tribunal em Moscovo, desta vez acusado de difamar um veterano da Segunda Guerra Mundial. Navalny descreve esta nova audiência como um "repugnante julgamento de relações públicas" planeado pelo Kremlin para denegrir a sua imagem.

Em junho do ano passado, Navalny começou a ser investigado sob a acusação de difamação depois de o ativista político ter apelidado as pessoas que apareciam num vídeo a promover a reforma constitucional – que permitiu a extensão do Governo de Vladimir Putin por mais dois mandatos – de “patetas corruptos”, “pessoas sem consciência” e “traidores”.

As autoridades russas consideram que os comentários de Navalny “denigrem a honra e a dignidade” de um veterano de guerra apresentado no vídeo. Se for condenado, Navalny poderá ser multado ou forçado a prestar serviços comunitários.

Por sua vez, o líder da oposição, que na terça-feira foi sentenciado a três anos e meio de prisão, acusa o Governo russo de estar a usar este julgamento para o denegrir.

Este julgamento foi usado como uma espécie de julgamento de relações públicas, porque o Kremlin precisa de manchetes: ‘Navalny injuriou um veterano’”, disse o ativista anticorrupção durante a audiência no tribunal, esta sexta-feira.

No mês passado, o opositor russo de 44 foi detido em Moscovo quando regressava de Berlim, onde permaneceu durante cinco meses a recuperar de um envenenamento com um agente nervoso do tipo novitchok, uma substância desenvolvida por militares soviéticos nos anos 1970.

Na terça-feira passada, o maior opositor do Presidente russo Vladimir Putin foi condenado a dois anos e oito meses de prisão por violação da sua liberdade condicional da sua pena suspensa de 2014 (por lavagem de dinheiro) ao não ter comparecido às autoridades competentes no ano passado – uma acusação que os advogados consideram absurda, uma vez que Navalny apenas viajou para a Alemanha durante o seu período de convalescença. Navalny acusa Putin de ser o responsável pelo seu envenenamento, mas o Kremlin nega qualquer envolvimento no ataque e rejeita a conclusão de especialistas de que foi usado novitchok na tentativa de homicídio.

A detenção e a condenação do ativista russo geraram protestos massivos por toda a Rússia. Dezenas de milhares de manifestantes saíram às ruas para exigir a libertação de Navalny e muitos acabaram detidos. Desde o início do movimento de protesto contra a prisão de Navalny, em janeiro, já foram detidas mais de 11 mil pessoas. Só na terça-feira, após o veredicto, mais de mil manifestantes foram detidos nos protestos desse dia.

As imagens partilhadas nos meios de comunicação russos e nas redes sociais retratam um clima de violência nos protestos, com a polícia a atacar os manifestantes com bastões. Os manifestantes detidos são vistos a serem colocados em pequenas carrinhas da polícia sobrelotadas, onde permanecem muitas vezes, segundo testemunhos, durante horas, sem acesso a comida, água ou casas de banho.


Das prisões chegam também imagens de celas sobrelotadas após a detenção em massa de manifestantes pró-Navalny. Os manifestantes denunciam as “condições desumanas” em que vivem nas prisões.

A indignação perante a sentença contra Navalny também chegou ao ocidente, com a União Europeia a exigir a libertação do ativista. O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell condenou a pena aplicada pelas autoridades russas ao opositor russo, classificando-a como “inaceitável e politicamente motivada”, admitindo a possibilidade de aplicar novas sanções contra a Rússia.

Por sua vez, o Kremlin anunciou na quinta-feira que não está disponível para discutir com os parceiros ocidentais as decisões judiciais dos tribunais russos ou a forma como tem tratado os manifestantes nos protestos em apoio ao líder oposicionista.

“Repito: não temos intenção de levar em consideração as declarações sobre questões relacionadas à aplicação das nossas leis àqueles que as violam, nem aquelas que se referem aos veredictos dos nossos tribunais”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

c/ agências
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