Na segunda-feira, rei emérito de Espanha, Juan Carlos, anunciou a sua saída do país face à "repercussão pública" no âmbito das mais recentes revelações que o envolvem em episódios de corrupção. O dia marcou o fim da era de um monarca que passou de salvador da democracia a desprezado.
A carta apenas formaliza e concretiza um afastamento que já era evidente e esperado e marca o fim da era de Juan Carlos.
Franco designou assim o filho, Juan Carlos, como seu sucessor, pois acreditava que seria mais provável que o monarca, educado sob o regime de Franco, continuasse leal ao Estado franquista.
No entanto, depois da morte do ditador, Juan Carlos foi proclamado rei em 1975, sob o juramento de restabelecer a democracia e ser “rei de todos os espanhóis”. Juan Carlos viria a liderar a transição do regime franquista para a democracia parlamentar, conseguindo consenso entre os partidos políticos e conquistando a popularidade entre os espanhóis.
A 27 de fevereiro de 1981, o monarca vestiu o uniforme de capitão-general e impediu uma tentativa de golpe de Estado, alcançando assim um poderoso prestígio.
Da ascensão à queda
No entanto, o monarca viria o seu percurso a passar da ascensão à queda, remetendo a sua imagem em que envergava o uniforme militar naquela noite de 1981 a meras memórias do passado.
Juan Carlos viria a ser envolvido em várias polémicas, que passavam desde relacionamentos extraconjugais a escândalos financeiros. Quase desde o início do seu reinado, Juan Carlos era conhecido por diversos casos de infidelidade para com a sua mulher, Dona Sofía, tendo a imprensa chegado a reportar que o casamento dos dois teria chegado ao fim poucos anos após a união. Vários nomes foram remetidos a possíveis amantes do monarca, mas o mais notório fora o da empresária alemã Corinna Larsen. O início do relacionamento remontará a 2004 e surgiram inclusivamente notícias de que o rei estaria disposto a divorciar-se de Sofía, sob pressão de Larsen para se tornar rainha de Espanha.
O episódio de caça no Botswana, em 2012, marcaria o início do desmoronamento do legado do monarca e a mensagem não podia ser mais incontestável: enquanto a sociedade espanhola sofria os efeitos devastadores da crise económica, o chefe de Estado caçava elefantes em África.
Dois anos depois, em junho, Juan Carlos despedia-se de 39 anos de trono e abdicava, constituindo a primeira tentativa do monarca em defender a imagem da coroa espanhola.
A empresária alemã revelar-se-ia uma difamadora do rei, revelando diversos casos de corrupção que envolvia o monarca. Há dois anos foram reveladas gravações comprometedoras que indicavam que Corinna Larsen estaria a ser usada como testa de ferro para branquear património de Juan Carlos. Nos últimos meses têm surgido mais informações que ensombram ainda mais a imagem de Juan Carlos e são agora o motivo do seu exílio, numa segunda tentativa de salvaguardar a monarquia. “Há um ano, expressei-te a minha vontade e desejo de deixar de exercer atividades institucionais. Agora, guiado pela convicção de prestar um melhor serviço aos espanhóis, às suas instituições e a ti como Rei, comunico-te a minha ponderada decisão de ir viver para fora de Espanha”, escreveu ainda o rei Emérito na carta enviada ao filho.
No último mês, a imprensa espanhola publicou dois documentos que comprovam que Juan Carlos recebeu 65 milhões de euros do rei saudita em 2008, quando ainda era sobreano. O dinheiro estaria guardado numa conta bancária na Suíça em nome de Corinna Larsen.
Este é mais um indício de corrupção de que o rei emérito é suspeito e motivou uma investigação por parte do Supremo Tribunal de Espanha. Face aos escândalos em torno do pai, Filipe VI abdicou em março da herança a que tinha direito e retirou a Juan Carlos a pensão de cerca de 200 mil euros por ano.
Com destino à República Dominicana
Na carta agora enviada a Filipe VI, Juan Carlos apenas diz que vai sair do país, não revelando pormenores sobre o seu destino. No entanto, a imprensa espanhola avança que o rei emérito irá instalar-se provisoriamente na República Dominicana, onde vive o multimilionário Pepe Fanjul, amigo de Juan Carlos.
O jornal espanhol La Vanguardia adianta que Juan Carlos abandonou Zarzuela no domingo e passou a noite na cidade de Sanxenxo. Na manhã de segunda-feira terá viajado até Portugal, à cidade do Porto e de lá seguiu para a República Dominicana.
De acordo com o jornal, Juan Carlos ficará alojado temporariamente na Casa de Campo, um resort onde o rei emérito se terá refugiado em 2014.