Obama em campanha com ataque feroz a Trump

por Alexandre Brito - RTP
Obama no comício na Pensilvânia Reuters

O ex-Presidente norte-americano Barack Obama entrou em força na campanha com um comício em que lançou um violento ataque ao atual Presidente e candidato Republicano. Isto "não é um reality show, é a realidade", disse Obama, acrescentando que Trump "não mostrou interesse em fazer o trabalho ou ajudar alguém que não ele mesmo".

"Nunca pensei que Donald Trump abraçasse a minha visão ou continuasse as minhas políticas, mas esperava, pelo bem do país, que ele pudesse mostrar algum interesse em levar o trabalho a sério", disse Obama. "Mas não aconteceu".

O momento e as palavras do ex-Presidente foram escolhidas ao pormenor. E têm um peso acrescido uma vez que é tradição, nos EUA, antigos presidentes não criticarem de forma aberta os sucessores. Obama tem tentado cumprir essa tradição. Abriu algumas exceções na altura da campanha de Hillary Clinton mas neste comício drive-in na Filadélfia não teve travão.

"Antigos presidentes tendem a não se envolverem muito na política dos seus sucessores", explicava à CNN David Axelrod, um conselheiro de longa data de Obama. "Penso que esse era o plano, mas o Trump mudou o plano".

Obama começou por atacar a forma com Trump lidou com a pandemia, em particular quando recentemente disse que "não há muito" que mudaria na resposta dos EUA ao vírus que já matou mais de 220 mil pessoas no país. A "Sério? Não muito? Nada que possa pensar que pudesse ter ajudado algumas pessoas a manter seus entes queridos vivos?", lançou Obama.

"Donald Trump não vai de repente proteger-nos", disse. "Ele não consegue nem dar os passos básicos para se proteger", continuou, referindo-se ao facto de o Presidente norte-americano ter sido infetado com o novo coronavírus.

Isto "não é um reality show, é a realidade", disse Obama que, ao longo de todo o discurso, deixou bem claro que Donald Trump "só pensa em si mesmo e que usa a Presidência em benefício próprio."
A economia, outro tema muito caro para os norte-americanos e que muitas vezes decide eleições, também não escapou às palavras do ex-presidente. Obama criticou Trump por ter herdado uma economia em expansão mas, "como tudo que herdou, estragou".

E não faltaram farpas à notícia desta semana de que Trump mantinha uma conta num banco chinês. "Como é que isso é possível? Uma conta bancária chinesa secreta", perguntou Obama.  E aqui um pouco ao estilo de Trump, apontou o dedo à forma leve como os meios de comunicação conservadores - em particular a Fox News - trataram o assunto. "Escutem, você conseguem imaginar se eu tivesse uma conta secreta num banco chinês quando estava a concorrer à reeleição?" 

A entrada em força de Obama na campanha neste dia foi pensada ao pormenor para preencher o vazio de Biden na rua, uma vez que está em casa a preparar o debate desta quinta-feira com Trump.

Obama elogiou o candidato democrata assim como a senadora Kamala Harris, que corre para a vice-presidência. Disse que Biden "nunca chamaria aos homens e mulheres de nossos militares de tolos e perdedores".


O comício drive-in foi realizado no estacionamento do Citizens Bank Park, o estádio de beisebol da Filadélfia. Foi o maior evento que a campanha de Biden realizou em pleno surto de Covid-19.O comício aconteceu também aqui, naquela que é a maior cidade da Pensilvânia, porque a escolha dos eleitores continua renhida. Uma sondagem recente da Reuters/Ipsos dá a Biden uma ligeira vantagem, de apenas quatro pontos percentuais. Obama alertou por isso os democratas contra a complacência. "Temos que sair (votar) como nunca antes", disse. "Não podemos deixar dúvidas nesta eleição".

Os primeiros sinais indicam que os americanos estão a votar a um ritmo recorde: 42 milhões de votos por correio e pessoalmente. Votos antecipados antes do dia da eleição que acontece a 3 de novembro.
Tópicos
pub