ONG moçambicana denuncia eventuais abusos sexuais em troca de ajuda humanitária

por Antena 1

O Centro de Integridade Pública (CIP), ONG moçambicana, denuncia num relatório alegados abusos sexuais de mulheres deslocadas em Cabo Delgado, norte do país, em troca de ajuda humanitária, considerando haver silêncio do Governo e Nações Unidas sobre o assunto.

"Em todas as casas em que entrámos, dezenas e dezenas, em muitos bairros, esta questão foi sempre confirmada: em todas, as pessoas conheciam esse tipo de casos", disse à Lusa o investigador Borges Nhamire, um dos coautores de um relatório sobre deslocados do conflito de Cabo Delgado, hoje divulgado.

Os alegados abusos "são perpetrados pelas autoridades locais, que têm o poder de elaborar as listas dos deslocados que devem receber os socorros", lê-se no documento, segundo o qual, "em troca da inclusão nas listas, as lideranças locais exigem favores sexuais de mulheres e meninas vulneráveis".

A situação foi detetada sobretudo nos bairros de Pemba, capital da província, e menos frequentemente na província de Nampula e na generalidade dos campos de deslocados, mais organizados.

Segundo Borges Nhamire, as queixas que têm sido feitas pelos deslocados não têm tido consequências na punição dos infratores.

Por outro lado, o CIP refere que organizações governamentais e agências das Nações Unidas têm feito do assunto "um tabu", em vez de o denunciarem à luz do dia para que todos ficassem cientes de uma "tolerância zero" para o abuso sexual.
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