ONU alerta para crise histórica de fome no Iémen

por RTP
Saida Ahmed Baghili (segunda à esquerda) deixa-se fotografar com as irmãs, Jalila e Amal , o irmão Omar e o pai. A jovem iemenita de 19 anos debate-se com os efeitos devastadores da subnutrição Abduljabbar Zeyad - Reuters

O Iémen pode estar à beira de enfrentar a “pior crise de fome” das últimas décadas, segundo as Nações Unidas. A organização receia que haja “milhões de vítimas” com o bloqueio saudita.

Mark Lowcock, subsecretário-geral da Organização das Nações Unidas para os Assuntos Humanitários, alertou esta semana a coligação liderada pela Arábia Saudita para o risco que o bloqueio à distribuição de ajuda alimentar representa para milhões de pessoas.

A Arábia Saudita fechou todas as rotas aéreas, marítimas e terrestres de acesso ao Iémen, na segunda-feira passada, após o ataque dos rebeldes de Houthi a Riade, justificando o bloqueio com a necessidade de impedir a entrada de armamento vindo do Irão.

As organizações e agências de ajuda humanitária não têm acesso ao país, estando impedidas de fazer aterrar aviões ou atracar em qualquer porto iemenita, agravando assim ainda mais a situação humanitária provocada pela guerra.

Apesar de a coligação saudita afirmar que permitirá a continuação da entrada de organizações de ajuda humanitária, sob um rigoroso controlo, Mark Lowcock disse na passada quarta-feira que nenhum avião da ONU conseguiu pousar no país e que tinha informação de que nenhuma outra organização humanitária havia conseguido acesso.

O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se também esta semana, tendo Mark Lowcock declarado aos jornalistas, no termo da sessão, que “a menos que essas medidas sejam suspensas haverá fome severa no Iémen. Será a pior crise deste género nas últimas décadas e fará milhões de vítimas”.
Situação "Catastrófica"
Tanto a ONU como a Cruz Vermelha Internacional alertaram, ainda no início da semana, para a situação "catastrófica" que ameaça a vida de milhões de iemenitas, que dependem da distribuição de ajuda humanitária para sobreviver.

O alerta da ONU surge no momento em que o Iémen enfrenta um dos piores surtos de cólera do mundo dos últimos anos, reforçando a necessidade de retomar a distribuição de bens à população mais necessitada.

A Organização Mundial da Saúde diz que há mais de 900 mil casos de iemenitas infetados com cólera no país desde abril, sendo a maioria dos infetados crianças. Além disso, desde o início do conflito, mais de metade das instalações médicas e serviços hospitalares do Iémen echaram, impedindo o acesso a grande parte da população aos cuidados de saúde mais básicos.

A Cruz Vermelha denunciou que um dos seus carregamentos de medicamentos à base de cloro, fundamentais para prevenir e combater a epidemia de cólera, foi bloqueado pela coligação esta semana. Segundo a ONU, estão em risco de fome severa e de ser infetadas pela epidemia sete milhões de pessoas.

Ao fim de quase dois anos de guerra, o Iémen, um dos países mais pobres da região, continua a depender da distribuição dos bens mais básicos pelas organizações de ajuda humanitária para garantir a sobrevivência da maioria da população, não tendo neste momento comida, medicamentos ou combustíveis devido ao bloqueio saudita.
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