ONU e CEEAC disponíveis para apoiar inquérito a "inaceitável" tentativa de golpe de Estado em São Tomé

por Lusa
RTP

O representante especial das Nações Unidas e o presidente da comunidade da África Central garantiram hoje ao Presidente são-tomense apoio ao inquérito a "inaceitável" tentativa de golpe de Estado ocorrida na sexta-feira no país.

"Os acontecimentos das últimas 48 horas são assustadores para um país que é de paz, um país de consenso, um país de estabilidade. Criar uma tentativa de golpe de Estado não é aceitável e as imagens que todos vimos através da comunicação social são totalmente inaceitáveis", disse o representante especial do secretário-geral das Nações Unidas para a África Central, Abdou Abarry, na capital são-tomense, após se encontrar no sábado à noite com o Presidente de São Tomé e Príncipe, Carlos Vila Nova.

O representante da ONU chegou a São Tomé ao início da noite acompanhado pelo presidente da Comissão da Comunidade dos Estados da África Central (CEEAC), o angolano Gilberto Veríssimo, para expressar solidariedade ao Presidente são-tomense e "ao povo de São Tomé face a esta situação terrível que aconteceu".

Durante a madrugada de sexta-feira, quatro homens, civis, atacaram o quartel militar em São Tomé, numa ação que o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, descreveu como "uma tentativa de golpe de Estado".

O ataque, que se prolongou por quase seis horas, com intensas trocas de tiros e explosões, foi neutralizado pelas 06:00 locais (mesma hora em Lisboa), com a detenção dos quatro assaltantes e de alguns militares suspeitos de envolvimento no ataque.

Dos quatro atacantes, três morreram, bem como o suspeito Arcélio Costa, que tinha sido levado pelos militares para o quartel às primeiras horas da manhã de sexta-feira.

Ao longo do dia, foram circulando nas redes sociais imagens dos detidos mortos e com marcas de agressão e ensanguentados.

O representante da ONU sublinhou o interesse do chefe de Estado são-tomense "para que a justiça seja feita" e assegurou que "as Nações Unidas apoiarão São Tomé e Príncipe no processo de inquérito que vai ter lugar sobre este acontecimento trágico", além do apoio no processo de reforma institucional, que abrange a reforma do setor da justiça e o setor da segurança.

Por sua vez, o presidente da Comissão da CEEAC manifestou em nome dos Estados-membros desta organização a solidariedade ao Presidente são-tomense, ao Governo e ao povo de São Tomé e Príncipe.

"Lamentar as mortes que aconteceram e buscar responder àquilo que nós vimos/sentimos do senhor Presidente da República, a vontade de esclarecer com transparência o que de facto aconteceu porque isso vai permitir que no futuro se veja São Tomé como o bom aluno da democracia ou um novo São Tomé que não será bom", acrescentou Gilberto Veríssimo.

O diplomata angolano disse que o chefe de Estado são-tomense pediu apoio destas organizações internacionais para esclarecer a tentativa de golpe de Estado "e para manter São Tomé num bom quadro da democracia" e do exemplo que é para a região.

Além de se reunirem com o chefe de Estado são-tomense, o responsável das Nações Unidas e o presidente da Comissão da CEEAC tiveram outros encontros separados que se prolongaram até perto das 23:00 locais (mesma hora em Lisboa), com o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, com o chefe de Estado Maior das Forças Armadas, Olinto Paquete, e com o coordenador do Movimento Basta, a pertence o deputado e ex-presidente da Assembleia Nacional, Delfim Neves.

Ao início da manhã de sexta-feira, os militares detiveram, nas suas respetivas casas, o ex-presidente da Assembleia Nacional Delfim Neves, atualmente deputado pelo movimento Basta, e Arlécio Costa, antigo oficial do `batalhão Búfalo` que foi condenado em 2009 por uma tentativa de golpe de Estado, alegadamente identificados pelos atacantes como mandantes.

Os assaltantes teriam atuado com a cumplicidade de militares no interior do quartel, tendo pelo menos três cabos sido detidos. No exterior, cerca de 12 homens aguardavam, em carrinhas, e alguns fugiram durante as trocas de tiros com os militares.

Os atacantes e os militares envolveram-se em confrontos, tendo o oficial de dia sido feito refém e ficado ferido com gravidade após agressões.

Em conferência de imprensa, na sexta-feira, o primeiro-ministro, Patrice Trovoada, que assumiu o cargo há duas semanas, disse que a situação no país estava "calma e controlada" e elogiou a atuação das Forças Armadas.

O chefe do Governo disse ainda esperar que a justiça faça o seu trabalho e pediu "mão firme" para os responsáveis da tentativa de golpe.

O Ministério Público de São Tomé e Príncipe abriu dois processos-crime para investigar o ataque ao quartel militar e o alegado homicídio e tortura de quatro suspeitos, disse hoje à Lusa fonte judicial.

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