ONU. Palestina rejeita plano de Trump para o Médio Oriente e pede apoio internacional

por RTP
Foto: Shannon Stapleton - Reuters

O presidente da Palestina, Mahmoud Abbas, rejeitou firmemente o plano de Donald Trump para o Médio Oriente esta terça-feira, numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O líder palestiniano defendeu que o chamado "plano de paz" dos EUA apenas beneficia Israel e aproveitou para apelar ao apoio da comunidade internacional.

Segurando um mapa que revelava a divisão territorial proposta pelo plano norte-americano, que apresenta uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano, Mahmoud Abbas comparou esse mapa com um “queijo suíço”, referindo-se à anexação de colonatos israelitas.

“Estes são os nossos territórios. Que direito tem [Israel] de os anexar?”, questionou o presidente palestiniano num discurso de revolta contra o plano dos Estados Unidos, que prevê o reconhecimento da anexação de colonatos israelitas com décadas de existência.

Mahmoud Abbas aproveitou a reunião do Conselho de Segurança da ONU, presidida por António Guterres, para apelar à comunidade internacional para que “faça pressão sobre Israel” de modo a evitar essa anexação.

“Os Estados Unidos não podem ser o único mediador” de uma solução para o conflito entre Israel e Palestina, defendeu Abbas, pedindo que seja realizada “uma conferência internacional de paz” para estabelecer um novo plano.

O líder palestiniano pediu a Donald Trump que renuncie ao mais recente plano e que regresse às negociações, desta vez tendo por base as resolução existentes das Nações Unidas que propõem uma solução de dois Estados que respeitem as linhas fronteiriças anteriores a 1967.

“A situação pode explodir a qualquer momento”, reforçou Abbas, alertando para eventuais protestos. “Precisamos de esperança. Por favor, não deixem que essa esperança nos escape”.

Na reunião esteve também presente Danny Danon, embaixador israelita nas Nações Unidas, que acusou o presidente da Palestina de “se recusar a ser pragmático”. “Ele recusa-se a negociar e não está interessado em encontrar uma solução realista para o conflito”, afirmou.
Resolução palestiniana adiada
Para o encontro desta terça-feira, em Nova Iorque, estava também prevista a apresentação de uma proposta de resolução elaborada pela Palestina com o objetivo de travar o avanço do plano norte-americano, mas acabou por ser adiada.

“A iniciativa [dos EUA] em relação ao conflito entre Israel e Palestina afasta-se dos parâmetros internacionais de referência para alcançar uma solução justa e duradoura para esse conflito”, referia a proposta palestiniana, de acordo com rascunhos que circularam pelos meios de comunicação.

“A anexação de qualquer parte do território ocupado da Palestina, incluindo Jerusalém, constitui uma violação do direito internacional”, afirmava a resolução, que condena ainda “todos os atos de violência contra civis” e pede “a intensificação e aceleração dos esforços internacionais para iniciar negociações credíveis”.

No entanto, a apresentação e votação desta resolução palestiniana foi adiada. “O rascunho desta resolução já foi distribuído. Continuamos agora o processo de consulta junto de vários países”, explicou Saeb Erekat, secretário-geral da Organização para a Libertação da Palestina.

O adiamento da apresentação desta proposta chega depois de os Estados Unidos terem lido o rascunho da mesma e pedido que a linguagem utilizada fosse alterada. De acordo com o Jerusalem Post, a própria Palestina decidiu, para aumentar a probabilidade de aprovação da proposta, modificar o seu conteúdo.

No entanto, mesmo que esta proposta tivesse sido apresentada e aprovada por pelo menos nove dos 15 membros do Conselho de Segurança da ONU – o mínimo exigido -, o mais provável seria que os Estados Unidos exercessem o seu poder de veto para a anular.
Os contornos do plano de Trump
Donald Trump apresentou, a 28 de janeiro, um plano para o Médio Oriente que implica uma solução de dois Estados, defendendo Jerusalém como “a capital indivisível de Israel”.

Ao contrário de Israel, a Palestina não fez parte das negociações que originaram este plano, elaborado ao longo de três anos, e rejeitou o acordo ainda antes de serem publicamente conhecidos os seus contornos.

Para além da anexação de colonatos israelitas, a intenção de Trump é que a capital da Palestina seja Abu Dis, uma vila de Jerusalém, e garantiu que, caso esse cenário se concretize, os Estados Unidos lá instalarão uma Embaixada.

O presidente norte-americano enviou mesmo uma carta a Mahmoud Abbas na qual explicou que este plano levará ao congelamento da construção de colonatos israelitas na Palestina durante quatro anos, o que permitirá à região desenvolver as suas instituições e consolidar o Estado.

Na passada quinta-feira, Jared Kushner, conselheiro e genro do presidente norte-americano, chegou mesmo a reunir-se à porta fechada com este corpo da ONU para apresentar mais pormenorizadamente o plano da Casa Branca.
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